O Presidente do Benfica dizia há poucos dias, na sua ida à Câmara Municipal da Covilhã, o seguinte: “Vou pagar a dívida do Benfica antes do fim deste mandato e assim vão deixar de falar do passivo de uma vez por todas. Estamos gratos a todos os bancos, mas o Benfica quer pagar. Não sou de antecipar receitas para contratar jogadores e se algum dia anteciparmos as receitas televisivas será para pagarmos a dívida».
Como ponto lateral, esta frase evidencia bem o que o Sr. Luís Filipe Vieira pensa do Benfica: ele neste momento acha-se dono do Clube. Acha-se dono ao ponto de querer nomear sucessores ou de dizer “vou pagar a dívida do Benfica”. Ele não vai pagar nada… Quem vai pagar, se pagar, é o Benfica e não ele. Sei que isto pode parecer um pormenor de somenos importância, mas não o é. É bem demonstrativo de um estado de espírito que deve desagradar a qualquer um que queira um Benfica livre e democrático longe de líderes autocráticos e que pensam que os seus egos se confundem com a Instituição.
Mas não nos afastemos do motivo desta crónica porque o assunto é muito sério. Considero-o mesmo o mais central para o futuro do Benfica.
O que me apraz dizer é que o Presidente do Benfica não pode andar a brincar com o passivo do Benfica e proferir declarações deste género.
Eu sou, há muito, o principal defensor de uma forte redução do passivo e da eliminação do passivo financeiro (empréstimos bancários, papel comercial, empréstimos obrigacionistas), mas quero que este assunto seja tratado de uma forma séria e não como o Presidente do Benfica pôs a questão na Covilhã.
É que o que o Sr. Luís Filipe Vieira propõe não é sério e não resolve o problema.
Adiantar receitas dos direitos televisivos (pois é a essas que ele se refere) e usá-las para os empréstimos bancários é apenas uma forma de camuflar o assunto sem resolver absolutamente nada.
Vejamos com um exemplo que todos entendemos. Se eu comprar uma casa por 100.000 euros e pedir ao banco esse montante, fico com um empréstimo de 100.000 euros. Agora imaginemos que ganho 1.000 euros por mês. Se eu pedir à minha entidade empregadora que me adiante o salário de 100 meses, recebo 100.000 euros e posso pagar o empréstimo da casa ao banco de imediato. Mas qualquer um vê aqui um problema: de que é que eu vou viver nos próximos 100 meses se já recebi o salário e já o gastei para pagar o empréstimo?
Pois é, esse é exactamente o mesmo problema com o adiantamento das receitas de direitos TV. O Benfica recebe 40 milhões por ano e deve aos bancos cerca de 300 milhões. Isso significa que teria que antecipar receitas mais de 7 anos… Então durante esses 7 anos o Benfica vai viver de quê? Se neste momento os custos operacionais são maiores que as receitas operacionais, isto é, o que geramos é insuficiente para pagar as contas porque andamos a gastar demais e por isso temos que andar sempre a vender jogadores, então o que aconteceria se tivéssemos de prescindir de receitas televisivas durante 7 anos, isto é, de de 40 milhões por ano?
Chegados aqui, já todos devem ter percebido que o Presidente do Benfica está a tratar este assunto com muita ligeireza e pouca seriedade.
A solução para pagar a dívida passa por uma redução significativa e sustentada das despesas correntes, parar com os projectos faraónicos, cativar parte das vendas de jogadores para o pagamento de empréstimos bancários, aumentar receitas como, por exemplo, o naming do estádio e usar esse dinheiro para pagar o passivo. Em resumo, a solução passa por uma gestão muito mais racional do Clube.
Luís Filipe Vieira com esta visão que tem está a comprometer o futuro do Benfica e a comprometer gestões futuras do Clube. Infelizmente isso não é novo em Luís Filipe Vieira. Destruiu o Alverca e a sua vida privada mostra que é um homem que não sabe onde está a fronteira aceitável do risco. Um dia, infelizmente, verão que eu tenho razão.
Autor: Bruno Costa Carvalho