Vira o disco e toca o mesmo
Escrito por: Duarte Pernes
Como cronista do Domínio de Bola ligado aos assuntos do FC Porto, é conveniente que os meus artigos procurem obedecer a uma certa alternância dos temas que vou trazendo à colação. Pois bem, acontece que praticamente tudo aquilo que se passou de há duas semanas para cá obriga-me a ter de abordar, novamente, parte do que havia já escrito no meu último texto. De resto, tem sido particularmente difícil à massa adepta azul e branca divergir muito no teor das conversas sobre o clube do coração.
Os últimos dois encontros disputados pelos campeões nacionais voltam a evidenciar lacunas de uma gravidade extrema. Sobretudo o jogo da passada quarta-feira, para a Liga dos Campeões, vem reforçar as desconfianças e receios que se têm vindo a formar em torno da maturidade do futebol portista.
É justamente aqui que sou forçado a repetir-me: isto é a Champions e na Champions abébias como as que temos dado pagam-se sempre a um preço elevado. Em Portugal, contra uma equipa do meio da tabela que fosse, a expulsão de Herrera – no Dragão contra o Atlético de Madrid – não seria fatal e a hesitação estúpida, em São Petersburgo, por parte de Helton e de Alex Sandro (o Porto estava em vantagem, custava muito um dos dois ter dado uma “charutada” à bola?) se calhar nem acontecia porque o avançado adversário mais próximo estava no meio-campo. Aqui não, aqui é outra coisa e ao fim de quatro jogos ou não nos apercebemos disso ou então não conseguimos corrigir estes pequenos/grandes percalços. Ambos os casos são indesculpáveis e gravíssimos. E mais, um erro crasso a nível individual pode acontecer, mas quando tal se repete tantas vezes deixa de ser um problema isolado para passar a ser também um mal colectivo.
Do jogo em abstracto, na primeira parte o FC Porto entrou a bom nível, com a equipa bem montada e a carburar como deve ser, com dinâmica e passes incisivos. Na segunda parte as coisas mudaram, o adversário cresceu e passou a criar muito mais perigo a nível ofensivo, algo que não é de admirar pois o Zenit tem valores individuais que cheguem para enfrentar as contrariedades. Com um Jackson só (anda só desde o ano passado, demasiado só) era imensamente difícil que o conjunto de Paulo Fonseca pudesse reagir à resposta russa. O resultado é justo e, à partida, um empate fora com o Zenit não era mau de todo, mas o acumular de erros transformou o desafio num embate decisivo que os dragões não conseguiram ultrapassar com a distinção que se pedia.
Por outro lado, as substituições, mais uma vez, deram-se com um timing desastrado e tardio. Não faz sentido a entrada de qualquer jogador, dadas as circunstâncias, a cinco minutos do fim. Tendo em conta a qualidade, força e mobilidade que Ghilas oferece, menos ainda se justifica tanto tempo por parte do treinador para (re)agir.
Contas feitas, a qualificação para os oitavos de final da Liga dos Campeões está difícil. O FC Porto não depende só de si e um dos mais importantes objectivos da temporada está perto de se esfumar. Encarar os últimos dois encontros com máximo afinco em todos os momentos é o que resta aos portistas, mas tal pode não ser suficiente. Pior do que isso é o medo que assola as hostes azuis de que, a qualquer momento, pode chegar mais uma asneira infantil que comprometa tudo.