Escrito por: João Pereira
O Benfica apresentou-se frente ao FC Porto depois de uma semana de muitas emoções, num jogo em que essas mesmas emoções contavam muito. Pensei que esse factor poderia beneficiar muito, ou poderia prejudicar muito e, felizmente, beneficiou muito. Quando vi a constituição da equipa num 4-4-2 não fiquei muito motivado, confesso, pois a equipa do FC Porto tinha vindo a melhorar no meio-campo, com a entrada de Carlos Eduardo. Os recentes confrontos com a equipa nortenha também não auguravam nada de bom e pareciam fazer a equipa bloquear e amedontrar-se.
O jogo começou e vislumbrei logo algo de diferente no Benfica, não ao nível exibicional, não em nenhum jogador em particular, mas sim em termos de atitude. Vi um Benfica com personalidade, com atitude, sem medo de arriscar perante um adversário com quem Jorge Jesus sempre gostou de “inventar” e encolher-se. As emoções transformaram-se num tónico extra e a equipa entrou pressionante, sem complexos e sedenta pela vitória. A homenagem ao Rei antes do jogo foi assombrosa. O factor Eusébio ajudou, parecendo até que, para além dos onze “Eusébios” que estavam no campo, o Rei, onde quer que esteja, estava também a jogar com eles. Para além de Eusébio, quero sublinhar o apoio dos adeptos, cerca de 62 mil benfiquistas, que foram, sem dúvida, uma enorme ajuda para os jogadores. O apoio foi incessante e o ambiente criado foi fantástico, numa esfera de apoio mútuo entre equipa e adeptos. Uma comunhão perfeita que resultou numa bela homenagem a Eusébio e numa bela vitória.
Quanto aos jogadores, Oblak, mesmo com pouco trabalho, esteve bem quando teve de ser chamado a intervir, é seguro, coloca a bola onde quer com as mãos e com os pés e com certeza ganhou o lugar a Artur. A defesa esteve bem no seu todo, Maxi, sem a explosão de outros tempos, foi regular, Garay e Luisão formaram uma dupla intransponível e Siqueira aproxima-se do nível exibicional que despertou a cobiça de Benfica e Real Madrid. Em suma, gurada-redes e defesa estão de parabéns por estarem há vários jogos sem sofrer golos. Oblak ainda não sofreu nenhum desde que entrou para a equipa. No meio-campo esteve a virtude, Matic e Enzo Pérez estiveram em grande nível, controlando o meio-campo portista, Gaitán foi regular durante todo o encontro a atacar e a defender e Markovic foi fantástico. O jovem sérvio foi um verdadeiro artista-operário, dando imenso trabalho à defensiva portista com as suas mudanças de velocidade e arrancadas imparáveis sem nunca descurar o momento defensivo, talvez a sua maior (ex-) lacuna, ajudando como nunca. Markovic parece estar talhado para os grandes jogos, marcando frente ao Sporting em Alvalade e fazendo uma exibição de encher o olho frente ao FC Porto, que incluiu a assistência para o primeiro golo, concretizado por Rodrigo. O avançado luso-espanhol está num momento de forma enorme, marcou um golo, correu e pressionou os defesas contrários e ainda falhou o terceiro na cara de Helton. Quanto a Lima, o brasileiro esteve bastante sóbrio no ataque, mas foi importantíssimo na primeira fase de pressão da equipa e nas movimentações efectuadas.
O Benfica venceu justamente e foi melhor que o FC Porto. Entrou sem medo, entrou com a atitude devida em jogos como este e não se encolheu perante o adversário. Espero, muito sinceramente, que esta atitude se mantenha, tantos no Estádio da Luz, como no Dragão e, já agora, em todos os jogos que o Benfica realize.
Apesar de escassas, as melhores oportunidades de golo pertenceram ao Benfica. O jogo foi intenso, mas nem sempre bem jogado. Nenhuma das equipas fez uma exibição brilhante, mas o Benfica esteve melhor. Um clássico é isto mesmo, um jogo de “tripla”, não se podendo justificar uma derrota dizendo que a equipa não esteve ao nível de outros clássicos, sendo um jogo onde os valores das equipas são tão semelhantes. Onde começa o mérito de uma equipa e começa o demérito de outra é sempre relativo e as exibições das equipas num jogo destes não podem ser fixadas previamente ou apresentadas como uma lei exacta.
A terceira equipa, a de arbitragem, errou bastante e para os dois lados. Mangala jogou a bola com a mão num lance que precedeu o segundo golo do Benfica, era penálti e cartão para o francês; Jackson quase empatava num lance em que estava em claro fora-se-jogo; ao considerar que Jackson cometeu infracção na escaramuça com Maxi Pereira, Soares Dias deveria ter expulsado o colombiano; Danilo foi mal expulso pois não simulou, nem Garay fez penálti, foi um contacto normal no futebol, em qualquer parte do campo num lance em que o jogador caia não significa só falta ou só simulação, o futebol é um desporto de contacto, ao contrário do basquetebol; o passe de Quaresma, que isolou Jackson, foi indevidamente cortado, num lance de pura precipitação de Soares Dias, que apenas olhou para a falta sem reparar que o passe poderia isolar um jogador e, por último, ainda hoje estou para perceber porque razão Enzo Pérez levou cartão amarelo no lance com Mangala, visto que nem foi simulação, nem falta do defesa ( e depois decidiu-se por uma bola ao solo, numa atitude de autêntico desnorte).
Depois desta vitória, os pés terão de continuar bem assentes na terra. Nada está ganho e falta uma segunda volta inteira, 15 jogos, e muito ainda por decidir. É sempre bom estar na liderança isolada do campeonato, mas FC Porto e Sporting continuarão na luta pelo campeonato. Para além disso, a missão de manter a liderança ainda se tornará mais difícil pois Matic sairá para o Chelsea e mais saídas poderão acontecer (Garay? Rodrigo? Gaitán?). Transferências de jogadores tão preponderantes como Matic, ou de outros titulares, a meio de uma época, podem ter consequências nefastas para a equipa. Veremos se o Benfica colmatará a saída com alguma contratação ou com os recursos presentes na equipa principal e na B, para além do possível regresso de alguns emprestados. Para além disso, as boas notícias são os regressos, para breve de Óscar Cardozo e Salvio.
Nota – Cristiano Ronaldo ganhou a sua segunda Bola de Ouro. Parabéns ao jogador, que continua a elevar o nome de Portugal e do futebol português no estrangeiro. Uma declaração emotiva, que mostrou o amor que sente pelo futebol. Que esteja na melhor forma para Portugal conquistar o Brasil de novo.
Saudações benfiquistas
A subir: Berardi. Joga no Sassuolo, emprestado pela Juventus, e marcou quatro golos seguidos, um póker puro, frente ao AC Milan. E tem apenas 19 anos. Fantástico.
A descer: Platini. As declarações “aziadas” após a conquista da Bola de Ouro por Cristiano Ronaldo só demonstram que Platini dificilmente consegue separar a sua natural preferência patriota, do seu cargo de presidente do orgão máximo do futebo europeu. Tanto no caso de Ribéry como no caso da selecção gaulesa.
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