O futebol é um mundo que vive de rótulos. Não existe uma figura ou uma qualquer entidade que não alcance um nome sem possuir um rótulo. Pode ser atribuído pelo mais simples homem atrás de uma conta do Facebook ou do Twitter. Pode, como acontece na maioria dos casos, ser atribuída pela imprensa, mas uma coisa é certa: se queres ser alguém no mundo do futebol, tens de ter um rótulo. Quem seria o Cristiano Ronaldo sem egocentrismo? Ibrahimovic sem pretensiosismo? O Liverpool sem o “You’ll Never Walk Alone” e o Dortmund sem aquela Muralha Amarela? Não seriam tão badalados sem algo que os torna únicos e admiráveis.
Porém, como em qualquer produto, as imitações são sempre um perigo e encontram-se invariavelmente com a sua qualidade nivelada por baixo. Quantos novos Maradonas, Pelés, mini-Messis e outras alcunhas ouvimos falar? E quantos verdadeiramente atingiram o nível estratosférico equivalente ao das suas alcunhas? Muito poucos. A questão de identidade e rótulo demonstra ser algo bastante sensível e que no fundo depende muito da qualidade do produto.
Assim, recentemente, apareceu um produto no mercado que possui um bom rótulo e no fundo bastante qualidade. Falo, claro está, de Marcus Rashford. O avançado de 18 anos, que surgiu na equipa do Manchester United após a lesão de Rooney, espantou meio mundo ao marcar o golo decisivo na Liga Europa diante do Midtjylland e logo de seguida ao bisar diante do Arsenal. Mais recentemente, ofereceu a vitória ao United no derby de Manchester. Chegou, viu e marcou. Demonstrou um enorme sentido de oportunidade e faro de golo, com alguma tendência para descair para os flancos. Dotado de bastante velocidade, poder físico e técnica, é um jogador que não tem medo de encarar os adversários de frente e tentar driblá-los; um jogador que parece ter o pacote completo que pode fazer dele um grande avançado. Golos e algum espetáculo marcam já o cartão-de-visita de Rashford – Demichelis que o diga – e o rótulo de craque começa já a pesar nos seus ombros. Há quem inclusivamente coloque já o jovem no mesmo patamar de Michael Owen.
Os críticos mais enamorados comparam-no ao pequeno grande avançado inglês. Os mais céticos, pelo contrário, teimam em questionar a qualidade e reduzem-no a um produto de qualidade limitada. Quem se recorda de Frederico Macheda? Um jogador rotulado de craque com uma estreia meteórica, mas que no fim se revelou um verdadeiro flop. Foi dispensado e actualmente encontra-se emprestado pelo Nottingham Forest ao Cardiff. A embalagem era perfeita, mas, contas feitas, o produto demonstrou ser defeituoso.
A história entre o Italiano e Inglês possui demasiados pontos em comum, daí ser necessário aperfeiçoar a análise e rotulagem que se faz a cada jogador. O rótulo é imprescindível e inevitável, como já referi, todavia, deve ser aplicado com cuidado para apenas promover o produto e não o destruir com expectativa infundada. Marcus Rashford apareceu com estrondo, aparenta características físicas e mentais que parecem únicas. Tudo que o um bom “gestor de Marketing” deseja, mas grandes expectativas geram também uma enorme responsabilidade. Estará Marcus à altura do desafio? Eu desejo que sim e espero que estejamos perto de encontrar um novo Owen e não a criar um novo Macheda.