Ânderson Luís da Silva, Luisão no mundo do futebol, é o jogador mais marcante do passado recente do Sport Lisboa e Benfica. Luisão é o capitão de uma geração.
Corria o verão de 2003 e ainda espreitava vorazmente as capas dos jornais desportivos no agora ultrapassado teletexto. O mercado de transferências provoca um efeito de dependência incrível, qual vício que nos faz acordar durante a madrugada, ou deitar já bem para lá da hora comummente aceitável. Todos os dias, a todas as horas, suplicamos pela chegada do craque que faça a diferença, um jogador que valha o bilhete. Luisão estava longe de se enquadrar no lugar-comum dos jogadores que, mesmo ainda sem ter dado qualquer toque na bola, nos deixam com água na boca. A própria fisionomia do Capitão criava uma desconfortável estranheza misturada com apatia e desconfiança, tamanho era, também, o distanciamento do Benfica com os títulos. Luisão não foi, concedo, amor à primeira vista, mas foi casamento para a vida.
Por outro lado, portistas e sportinguistas tornaram-se, ao longo dos anos, efetivos entusiastas da crítica ao central brasileiro. Não há benfiquista que nunca tenha ouvido “O Luisão? É muito fraco.”, “O Benfica até tem boa esquipa, mas ali o Luisão na defesa…” e, talvez confusos pela opção estética e capilar do Capitão, a constante desconsideração “Oh, o Luisão está velho!”. Esta fixação com nosso número 4 é, em certa medida, explicável. O Futebol Clube do Porto clama há muitos por um central à antiga, como conhecemos em tempos – Jorge Costa e Aloísio – que sem nos encherem as medidas com a bola nos pés, eram terrivelmente eficazes e vestiam a camisola com todo o fervor do mundo – leia-se mística. Em Alvalade, por outro lado, o golo do título, ainda lhes provoca a enfermidade catalogada como azia futebolística, implorando por acordar um dia do pesadelo e, afinal, o Ricardo ter conseguido afastar aquela notável bola.
Recentemente, os verdadeiros “velhos do Restelo” apregoaram novamente a alegada perda de faculdades de Luisão que, uma vez mais, respondeu em campo, com um golo de difícil execução frente aos turcos do Galatasaray. Naquele momento, Luisão, já com tantas provas dadas, voltou a relembrar aos amnésicos – também aos da minha cor clubística – que lhe devem respeito. Respeito pelas marcas inigualáveis de águia ao peito. Respeito pelo facto de ter sido um elemento estrutural no renascimento do clube que em 2003 ainda dividia os treinos entre o Monte da Galega, Massamá e o Jamor. Respeito porque por mais que o Benfica não esteja, ainda, a praticar o futebol mais deslumbrante dos últimos anos, Luisão fará sempre parte da solução e não parte do problema. Respeito porque “12 anos não são 12 dias”. E respeito porque, quando chegar a data de abandonar os relvados, o futuro do Capitão passará sempre pelo Sport Lisboa e Benfica.