Seguindo o repto lançado por um dos meus leitores, decidi falar nesta crónica sobre as novas tecnologias do futebol. Este é um assunto abordado por diversos teóricos do futebol e já extensamente interpelado. O meu objectivo é acrescentar uma análise objectiva e, ainda, possibilitar aos nossos leitores uma hipótese de reflexão de um tema que deve certamente gerar um sem número de opiniões.
As novas tecnologias do futebol já sofreram diversas experiências. A primeira realizou-se no mundial sub-17, onde foi utilizada uma bola com diversos chips que analisavam o posicionamento da bola perante a linha de golo. Também já surgiu a ideia de colocar o famoso “olho de falcão” no futebol, tecnologia que auxilia o fiscal de linha na decisão de fora-de-jogo, imagens televisivas e aí por diante. No entanto, surge uma pergunta… se tanta gente clama por verdade desportiva e existe tanta discussão sobre a performance dos árbitros, porque é que não se adoptam estas tecnologias?
A resposta surge pelo outro lado da barricada, que defende que a introdução destes auxiliares tecnológicos iria provocar uma grande desumanização do jogo e o fim da universalidade do futebol. Uma posição que é atualmente defendida pelas entidades supremas do futebol, UEFA e FIFA. A FIFA esclareceu-se através de comunicado. A UEFA marca a sua posição com a introdução do juiz de baliza. Até agora esta solução apresenta-se como um autêntico falhanço. Estes árbitros nada fazem sobre as bolas na linha de baliza e sobre lances duvidosos na área o seu poder de decisão é nulo.
Perante tal situação apraz-me dizer que é apenas uma questão de tempo até que o futebol dê este passo. Defendo, contudo, que este tipo de tecnologias deve ser implementado de uma forma discriminativa e universal. Discriminativa no sentido em que deve ser implementado apenas em diversos lances e situações de jogo, principalmente aquelas que são mais objectivas. A situação mais gritante são os lances em que bola entrou ou não na baliza após um remate. A verdade desportiva tinha muita a ganhar, como ficou provado com diversos lances ao longo da história do futebol, sendo que um até acabou por decidir o campeonato do mundo de 1966. Outros lances, como a famosa mão de Henry -contra a Irlanda – o lance de Baía na luz, o lance de Di Maria no final da taça da liga, também beneficiariam com estas novas medidas. Todavia, a implementação de medidas que não prejudicassem o ritmo de jogo, e que acabassem de uma vez por todas com as dúvidas, seriam quase como uma miragem, apesar de necessárias. Universal, porque não serei capaz de ver um jogo na americas com regras diferentes daquelas que se aplicam na Europa. O futebol é um desporto praticado por todos e, se não fosse possível uniformizar estes métodos à escala global, não seria a favor dos mesmos. A questão económica é relevante para a globalização das tecnologias no futebol. Nem todas as federações possuem, com o atual cenário de crise, fundos para que um investimento desta envergadura seja executado.
Concluindo, as novas tecnologias de futebol são algo que ainda continua como um tabu. Foram experimentadas e debatidas diversas vezes mas ninguém, nem nenhuma das altas instâncias, tem a coragem para as implementar. Na era da tecnologia e desenvolvimento que nos encontramos, será impossível ao futebol continuar à parte desta realidade. Muitos dizem que se pode perder a verdadeira essência do Futebol e as grandiosas discussões de café. A meu ver, isto não é necessariamente verdade. A riqueza táctica, o brilhantismo dos jogadores capazes de levantar estádios e os golos nos últimos minutos não acabarão. Apenas a verdade desportiva se aproximará mais da realidade. Apesar de difícil, como referi atrás, penso que será necessário dar este passo para o que o futebol evolua.
Nota 1: Fiquei agradavelmente surpreendido com as declarações de Nani. Acreditar que é possível vencer o europeu é o primeiro passo para que se alcance a vitória.
Nota 2: Mário Figueiredo venceu a corrida à presidência da liga de clubes. Espero que, em conjunto com a Federação, consiga elevar o futebol português para um nível superior. Um desconhecido para mim, espero pelo seu trabalho para poder comentar.
Nota 3: A venda de bilhetes para o Euro 2012 está aquém das expectativas, reflexo da crise e da pouca fé dos portugueses na selecção.
Cumprimentos: João Silva