Segunda Circolar
3 min readPor estes dias, vivem-se tempos agitados pela capital. Benfica e Sporting afiaram as navalhas e as golpadas um no outro têm sido uma constante. Desde o princípio da temporada que o tempo tem ando nublado pela Segunda Circular – que por estes dias dá a sensação de ser a Segunda Circolar, tal é o folclore –, todavia, o tom tem escalado nos últimos dias, muito por culpa, digo eu, do dérbi que se realiza daqui a pouco mais do que uma semana.
O epicentro desta turbulência (ou será truculência?) deu-se no Prolongamento da semana passada, aquando da ida de Bruno de Carvalho a esse programa. Normalmente, os paineleiros residentes fazem do estúdio uma autêntica lota em que o jogo propriamente dito fica em terceiro ou quarto plano. A presença do presidente leonino veio apenas agudizar esta síndrome que, bem vistas as coisas, é transversal aos programas do género. E aconteceu o que se temia: um violento tête-à-tête entre Pedro Guerra e Bruno de Carvalho ou, por outras palavras, um show dos Marretas em versão humana.
Durante este período de tempestade, temos assistido a uma troca de galhardetes azeda entre as partes, sendo Jorge Jesus arma de arremesso tanto de um lado como do outro. Aliás, o outrora mestre da táctica e elevado ao patamar de Mourinho é alvo de um processo do Benfica. Mais: Jesus é destratado e considerado uma figura secundária na conquista dos títulos. Se assim foi, porque é que o clube gastou mais de 20 milhões de euros apenas no seu vencimento? Porque é que Luís Filipe Vieira renovou o seu vínculo depois de três anos de agonia frente a Villas-Boas e Vítor Pereira? Fica na consciência de cada um…
Para além do tópico Jesus, surgiu pela voz de Bruno de Carvalho a acusação – por ninguém negada; foi, aliás, confirmada – de que o Benfica presenteava a equipa de arbitragem, delegados e observadores com um kit que envolvia jantares, camisolas de Eusébio e visitas a museus. Acho toda a rábula muito engraçada. Sobretudo a pressa das hostes benfiquistas em minimizar este cândido gesto. Não vou emitir qualquer juízo nem tão-pouco classificar esta hospitalidade. Vou apenas ficar à espera que isto tudo chegue aos tribunais, que os processos sejam arquivados e reabertos, que a vida de Luís Filipe Vieira seja devassada em tudo o que é publicação jornalística, que seja escrito um livro de ficção pela mão da mulher do presidente benfiquista, que o cinema bata recordes com um filme baseado em corrupção, que escutas chegam ao YouTube sabe-se lá como e que tudo o que Benfica alcançou seja posto em causa. São estas as minhas expectativas, numa lógica de igualdade de circunstâncias entre outros casos que ainda hoje fazem correr muita tinta.
Como portista, confesso que me tem dado um gozo tremendo assistir a esta mise-en-scène. Só posso agradecer a todos os intervenientes o ambiente que se vive por estes dias e que promete piorar. Desde que não haja qualquer corolário violento, é meu desejo que Benfica e Sporting continuam de candeias às avessas. É sinal desde logo que o FC Porto não se distrai dos seus objectivos. É sinal que não perde tempo com estas quezílias. É sinal que os adeptos não têm que aturar declarações e acções inflamadas contra si. É sinal que os podres do futebol também se estendem para lá de Leiria. É sinal que estamos mais perto de retomar o ciclo de vitórias que se perdeu recentemente.