
É o novo conto de fadas da Europa do futebol, mas que nada tem de inesperado.
Contamos a (curta) história do Red Bull Leipzig e porque é que este não é o novo Leicester.
Foi mais ou menos por esta altura que, no ano passado, as raposas de Ranieri passavam para a frente do campeonato, com dois pontos de avanço. 12 meses depois, há nova sensação no futebol europeu. Sai o Leicester, entra o Lei…pzig. Para lá das três primeiras letras do nome, não têm muito mais em comum: um tem 132 anos disto e faz parte da indústria de milhões que é o futebol inglês, o outro apareceu em 2009 na sequência de um investimento orientado para o sucesso.
De volta ao novo hit da estação. À 14ª jornada da Bundesliga, o RB Leipzig acaba de perder pela primeira vez (1-0 com o Ingolstadt), um facto que poderia colocar um ponto de interrogação neste texto. Mas, devolvido ao nível dos comuns mortais, faz ainda mais sentido refletir sobre este clube e a campanha que está a fazer. Até à data são 10 vitórias, com Dortmund e Leverkusen na lista de fregueses, e um atropelo por 4-0 na casa do histórico Hamburgo. Nunca uma equipa recém-promovida à Bundesliga tinha estado tanto tempo invicta, e o Leipzig acrescenta esse recorde ao primeiro lugar da classificação, ex-aequo com o Bayern de Munique. A rapaziada da Red Bull era ainda, à entrada para esta jornada, uma de duas equipas dentro dos cinco principais campeonatos europeus a marcar em todos os jogos da liga – como eles só o Real Madrid.
(Para o caso de estar a pensar nisso, o jogo com o Bayern é a 21 de dezembro.)
Muito do segredo desta equipa está na intensidade que coloca no seu jogo, na pressão alta e na capacidade de fechar espaços. Quando rouba a bola, contra-ataca com rapidez e em número, resultando muitas vezes na inferioridade numérica do adversário e em golo. O Leipzig é compacto a defender e imprevisível a atacar, onde há gente como Poulsen – rápido, bom pelo ar e a finalizar –, Werner – principal
contratação da época e melhor marcador no campeonato – e Forsberg, que já conta cinco golos e sete assistências neste início de época; número 10, estrela da equipa, não há que enganar. Pelo meio, o jovem médio Naby Keita vai-se fazendo jogador e reservando lugar no lote das maiores promessas no futebol europeu.
O treinador é Ralph Hasenhüttl, que até ao início da atual temporada era reconhecido por salvar o Ingolstadt de descer à terceira divisão, antes de o levar à Bundesliga em 2015. Por esta altura, é um dos nomes ventilados para suceder a Wenger no Arsenal.
Tudo isto acontece num clube fundado em maio de 2009. E é isso que o distingue do fenómeno Leicester, porque o RB Leipzig foi criado para ganhar. É o segundo clube europeu a ser comprado pela Red Bull, depois do Salzburgo, abandonando a pouco prática designação de SSV Markranstädt para passar a chamar-se Red Bull Leipzig. Mais que o nome, este é um extreme makeover.
No espaço de seis anos, a equipa de futebol ascende energicamente da quinta para a primeira divisão graças a muito Red Bull, que é como quem diz, dinheiro. No verão de 2014, por exemplo, o Leipzig chega ao segundo escalão e investe cerca de 12 milhões de euros no plantel, mais do que metade dos clubes a disputar nesse ano a Bundesliga. O quinto lugar foi bom, mas não chegava para os investidores, que injetam mais taurina, que é como quem diz, verbas. No ano seguinte foram 18,6 milhões, oito deles aplicados no jovem Davie Selke (ex-Werder Bremen).
(Para o caso de desconhecer este nome, veja o Portugal x Alemanha nos Jogos Olímpicos do Rio.)
Como resultado, o RB Leipzig termina em segundo e sobe à primeira divisão alemã. Nada como celebrar com mais um carregamento de Red Bull, que é como quem diz, 50 milhões de euros. Mais, só no Bayern e no Dortmund. Naby Keita, com 21 anos, Timo Werner com 20 e Oliver Burke com 19 foram as principais aquisições de um jovem clube que tem como filosofia a aposta em jovens jogadores. Um dos seus maiores investimentos (35 milhões de euros) é uma academia que é hoje a melhor que existe na Alemanha ao nível das condições de treino, de alojamento e de educação dada aos seus cerca de cinquenta jovens.
O estádio do Leipzig é o maior de toda a Alemanha Oriental, leva 43 mil pessoas e foi remodelado por alturas do Mundial alemão em 2006. Em 2009/2010 recebia jogos com uma média de 2,150 espetadores, um número que nesta temporada costuma rondar os 40 mil. O nome é Red Bull, claro. Arena.
O RB Leipzig está a fazer história. É o primeiro clube a recolocar a Alemanha Oriental no mapa do melhor futebol alemão desde a despromoção do Energie Cottbus em 2009. Mas nada do que está a fazer é ocasional; é um sucesso construído desde a base, e em tempo recorde.
Um sucesso que está a mexer com o desporto na Alemanha, e com os seus agentes e adeptos, que olham para o Leipzig como um produto artificial e que viola a regra que, naquele país, impede os clubes de entregar mais de 49% dos seus direitos a investidores. Algo que a Red Bull contornou limitando o acesso dos adeptos ao estatuto de sócio – uma quota anual de mil euros, sem direito a voto. O resultado é um clube com 17 sócios, muitos deles funcionários da própria empresa.
“Queremos entrar na Liga dos Campeões e ter sucesso na competição”. A frase é de Dietrich Mateschitz, dono do clube e da Red Bull, e não deixa dúvidas: O RB Leipzig chegou com bolsos fundos e muita vontade de ganhar.
(Para o caso de querer acompanhar a história, a 17 de dezembro joga-se o RB Leipzig x Hertha Berlim.)
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