Quem te viu e quem te vê, Vítor
Escrito por: Cláudio Moreira
É verdade, eu assumo, não tenho como esconder. Fui um acérrimo crítico de Vítor Pereira. E neste espaço de opinião, há um par de meses, escrevi o seguinte:
“Será uma montanha russa de sentimentos a cada par de jogos; será uma mescla de sentimentos em apenas uma semana; será a incerteza de uma grande partida ou a confirmação de um fracasso inesperado; será a glória europeia num dia e a frustração nacional no outro. Creio que até Maio a bitola será esta”.
E na temporada passada cheguei mesmo a sugerir a sua demissão no final da época, vejam bem… mesmo com o título de campeão conquistado. Pois é, Vítor Pereira nunca foi um nome consensual entre os adeptos. Nem nunca há-de ser, por certo. Já presenciei de tudo: desde hiperbólicas campanhas de detracção até inenarráveis e injustificadas defesas ao desempenho da equipa técnica portista. Eu cá sigo um caminho coerente. Quando há motivações para criticar, critica-se; quando há motivações para elogiar, elogia-se.
Posto isto, é hora de enaltecer o trabalho de Vítor Pereira, nesta espécie de segunda vida à frente dos destinos do FCPorto. Se outrora fui cáustico quando os resultados e exibições eram paupérrimos, agora sou forçado a tecer loas a um treinador e a uma equipa que me têm surpreendido neste primeiro terço da temporada.
Este FCPorto não é uma máquina trituradora de fazer golos nem um insaciável portento da famigerada nota artística. Pessoalmente, nem me preocupa que não seja. Mas, esta época, muitas coisas boas foram implementadas. E nem o ódio visceral a Vítor Pereira pode branquear o facto de o FCPorto, este ano, ter um fio, um princípio, uma ideia daquilo que quer, pode e sabe pôr em prática. E sabe Deus como estou contente com isso…
A principal conquista de Vítor Pereira, a meu ver, prende-se com a solidez que a equipa demonstra, mesmo quando não apresenta o melhor 11. Como disse, o futebol do FCPorto não deslumbra os 90 minutos, e reitero que isso não é muito relevante, mas é-nos passada a ideia de que a equipa nunca se vai desmoronar. E este era um temor que se apoderava de mim em todo e qualquer partida. Hoje, mais do que nunca na era Vítor Pereira, sinto segurança nos melhores e em quem é habitual suplente.
A título de exemplo, confio plenamente na adaptação Mangala à esquerda quando Alex Sandro não puder dar o seu contributo. Defour pode perfeitamente ser titular na ausência de Fernando, muito embora o Polvo seja um jogador de outra dimensão. Abdoulaye já provou que está preparado para os jogos a doer e que é mais um trunfo a lançar a médio prazo. Atsu, oh Atsu!, quer seja titular ou entre a 20 minutos do fim, é inegável que está ali um craque com poder de explosão e atributos técnicos interessantes. E alguém nota a ausência de Helton quando Fabiano é chamado para defender as redes? Ora bem, na baliza, na defesa, no meio-campo e no ataque, quaisquer que sejam as modificações, este FCPorto tem uma base, uma estrutura, um encadeamento que todos os jogadores respeitam. Eles sabem o que têm de fazer. E como são bons, fazem-no bem.
Para além disso, Vítor Pereira merece ser aplaudido pelo upgrade que operou em alguns jogadores. James passeia uma classe mundial mesmo quando faz asneiras. Otamendi está um senhor defesa central, com um tempo de entrada a roçar a perfeição. A lentidão que anteriormente se apontava é isso mesmo, um resquício do passado. Moutinho persiste na ideia de que não sabe jogar mal e agora, para espanto de meio mundo, remata à baliza como gente grande. Jackson Martinez sabe muito mais do que enfiar bolas dentro da baliza; joga, faz jogar, tabela, já domina a bola em movimento e trabalha muito: um ponta-de-lança completo. Último realce vai para Alex Sandro, o jogador que mais me impressionou até agora. Teve ali uma lesão a atrapalhar, mas nem isso esmoreceu a minha admiração. É que ele toma quase sempre as decisões certas. A atacar e sobretudo a defender. Embora pareça franzino, o Alex é robusto, rápido, tecnicista e tem um óptimo tempo de entrada nos desarmes. Um jogador soberbo. Prevejo um grande duelo com Salvio…
E isto tudo caiu do céu? Claro que não. Deve-se a Vítor Pereira – e restante equipa técnica – e às pessoas que souberam gerir a contestação em torno dele e acreditaram que este estado de graça era possível. O sucesso que hoje se vive deve-se a três pilares fundamentais: trabalho, trabalho e trabalho. E os resultados, para já, têm demonstrado que o trabalho tem sido gratificante. Não quero embandeirar em arco estes tempos áureos, mas, caramba, quando criticamos de forma obstinada é de bom-tom elogiar nas mesmas proporções. Parabéns, Vítor Pereira. É favor continuar nesta senda. Aposto que ninguém se chateia.
Nota 1: No espaço de uma semana, o FCPorto tem duas deslocações a Braga. Ambos os jogos são de elevadíssimo grau de dificuldade. Os clubes estão em pólos opostos em termos de resultados e moral e o Braga vai fazer de tudo para inverter o ciclo negativo. Eu acredito em duas vitórias. Vamos lá, meninos!
Nota 2: O Sporting continua a sua caminhada fulgurante ao som da Marcha Fúnebre. Já disse adeus à conquista de três títulos (ninguém sensato acredita que será campeão) em Novembro e só resta a Taça da Liga como consolo. Acho que o Sporting devia fazer como o chocolate Ferrero Rocher e desaparecer em determinadas estações do ano. Às vezes, dá a sensação que devia desaparecer nas quatro.
Nota 3: Como não poderia deixar de ser, o Benfica é novamente notícia lá fora pelos piores motivos. Cá para nós, que ninguém nos lê, tenho quase a certeza que o plano de Sílvio Cervan vai dar para o torto…