Escrito por: Cláudio Moreira
Na ressaca do clássico entre FC Porto e Sporting para o campeonato, o treinador Julen Lopetegui queixou-se, entre outras coisas, da arbitragem, dando continuidade a uma série de críticas às pretensas más decisões dos juízes em anteriores jornadas. Os seus colegas da Segunda Circular vieram a terreiro logo de seguida contrariar o espanhol, quais damas ofendidas. Vejamos o que disseram na altura:
Marco Silva, a 26 de Setembro: “Eu não falo sobre arbitragens, como sabem. Não o fiz antes, e não é agora que vou começar a fazê-lo. (…) Assisti aqui a uma lamentação muito grande por parte do nosso adversário, que não espelha em nada o que se passou em campo. (…) Espero que quem mais se lamenta não venha a ser beneficiado no futuro, mas tenho a certeza de que os árbitros não serão influenciados dessa forma. (…) Respeito o trabalho dos árbitros. Temos árbitros experientes e internacionais, que não vão entrar nesse caminho”.
Jorge Jesus, a 27 de Setembro: “Cada um justifica as suas ideias e o que acha ser melhor para a sua equipa, neste caso o treinador do FC Porto. Ele é pago para isso. (…) [Lopetegui] chora muito. Em Portugal costuma dizer-se que quem não chora, não sei quantos…”.
Muito bem. Para os lados de Alvalade, não se fala sobre arbitragens. Há que ter respeito e não condicionar o trabalho dos juízes, pois quem fala mal dos árbitros poderá ser beneficiado no futuro. Do outro lado da Segunda Circular, há quem chore demasiado porque quer não sei quantos, ou seja, quer mamar. E não é nos peitos da cabritinha. Volvidas pouco mais do que três semanas, Benfica e Sporting obtêm (mais) um resultado negativo e que os torna ainda mais últimos dos seus grupos na Liga dos Campeões. O que vociferaram os dois técnicos acerca dos jogos?
Marco Silva, a 21 de Outubro: “Iria haver justiça se nos deixassem empatar, hoje a equipa de arbitragem não teve um dia positivo”.
Jorge Jesus, a 22 de Outubro: “Acho que o árbitro condicionou muito a equipa do Benfica. (…) É muito confuso Portugal estar à frente de alguns países no ‘ranking’, ainda ontem aconteceu na Alemanha com o Sporting. Isto é político. As oportunidades de golo são do Benfica. (…) Não gostei da arbitragem e já não tinha gostado na Alemanha [frente ao Bayer Leverkusen]. Nota-se que penalizam as equipas portuguesas nos primeiros minutos para depois poder jogar com a situação”.
Olhando para este antes e depois das declarações dos dois técnicos, sou forçado a compreender esta desconformidade. Tendo em conta os clubes que representam, a que outro subterfúgio recorreriam para justificar a conquista de 2 pontos em 18 possíveis? Afinal, só uma conspiração de proporções inimagináveis poderia ser capaz de diluir o potencial astronómico dos autoproclamados Maior Clube do Mundo e Maior Potência Desportiva Nacional. Claramente, uma força suprema está a evitar que Benfica e Sporting se defrontem na final Liga dos Campeões.
Sobre Marco Silva, honestamente, compreendo a indignação. Aquele penalty ao cair do pano é mais do que suficiente para pôr qualquer pessoa com maus fígados. Mas para quem se vangloriava de não falar de árbitros e não se lamentar…
Mais estapafúrdia é a posição de alguma massa adepta do clube leonino, encabeçada por Dias Sistema da Cunha: a culpa é da Gazprom, que patrocina a Liga dos Campeões e o Schalke 04, equipa envolvida na polémica. Se assim é, não percebo por que razão o Zenit, também patrocinado pela Gazprom, perdeu nesta jornada e se encontra no terceiro lugar atrás desses monstros futebolísticos que são o Mónaco e o Bayer Leverkusen. E se a equipa de arbitragem estava comprometida com o Schalke, por que raio assinalou um penalty a favor do Sporting, permitindo o 3-2? Não o deveria ter ignorado se estava engajada com a Gazprom?
Já que estamos no domínio da fabulação, permitam-me aduzir mais algumas teorias sobre esta partida: foi a Gazprom quem fabricou as luvas que Rui Patrício calçou; foi Vladimir Putin quem escolheu Luís Duque para presidente da Liga; foi a Gazprom a financiar as transferências do Jeffren, Elias, Pongolle, entre outros; foi a Gazprom quem trouxe o Izmaylov todo empenado para o Sporting e foi essa empresa a forçar a renovação e a mediar a saída para o Porto; a responsabilidade de o Sporting ter perdido uma final da Taça UEFA em casa frente a um clube russo foi da Gazprom. Há aqui muita matéria para investigar!
Finalmente, sobre o pedido de repetição do jogo, tenho a dizer o seguinte: se repetirem o Sporting x FC Porto devido à não marcação de um penalty e consequente expulsão de Maurício quando a partida caminhava para o fim, por mim tudo bem.
No caso de Jorge Jesus, estou dividido. Não sei o que é mais delirante: achar que só o Benfica teve oportunidades para marcar (quando Ocampos falhou um golo de baliza aberta – algo que sucedera também no jogo com o Bayer Leverkusen) ou projectar que mais uma hecatombe na fase de grupos da Liga dos Campeões – a caminho da quarta em cinco presenças – se deve a fenómenos da esfera política, sendo os árbitros os carrascos encarregues de fazer o trabalho sujo.
Talvez Jorge Jesus não se lembre, mas o Benfica esteve presente nas duas últimas finais da Liga Europa. A UEFA durante esse período era bem comportada e agora é um Adamastor cuja política não permite ao Benfica chegar mais longe na prova? A liga portuguesa está neste momento situada no 5.º lugar (recentemente esteve em 4.º, à frente de Itália, França ou Holanda) e nunca ouvimos falar deste bota-abaixismo às equipas portuguesas nas competições europeias.
Na presente temporada, a performance das equipas portuguesas tem sido um descalabro, estando no 11.º (!!!) lugar, atrás, por exemplo, de Croácia, Rússia, Bielorrússia ou Grécia. Isto devia fazer reflectir, ao invés de servir de teoria de conspiração para o fracasso. E os rankings são medidos com base nos resultados da época actual mais as quatro anteriores, o que torna a boçalidade proferida por Jorge Jesus ainda mais patética.
Mas Lopetegui, como se sabe, também se queixou de forma acintosa de algumas arbitragens que, de facto, prejudicaram o FC Porto. O que o separa, então, dos colegas de Lisboa? É simples, além de criticar as arbitragens, o treinador espanhol teve a verticalidade de assumir que a equipa e ele próprio também cometeram erros, esses, sim, os principais responsáveis pelos desaires do FC Porto, não colocando em causa a honestidade de quem arbitra, seguindo por um caminho diferente dos adeptos do Sporting e de Jorge Jesus. Quem é o chorão, afinal?
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