No início desta experiência como cronista do DomíniodeBola, dediquei uma crónica à nova direção da federação. Nessa mesma epifania, referi que era importantíssimo que os novos órgãos gerentes mostrassem serviço com novas medidas, quebrando o longo deserto, com alguns oásis, da direção de Gilberto Madaíl. Durante esse texto, fiz uma breve referência à pesada herança que Madaíl deixava referente ao futebol de formação e que este, a longo prazo, possivelmente provocaria na seleção uma falta de opções de qualidade para as convocatórias dos selecionadores. Perante tal preocupação, decidi refletir, hoje, sobre os futuros craques da seleção.
No verão do ano passado, na primeira semana de agosto, uma seleção portuguesa de sub-20 espantou meio mundo ao conseguir chegar à final do campeonato do mundo, sendo apenas derrotado pelo Brasil. Eu refiro espanto, porque nas fileiras portuguesas aparentemente não se encontrava nenhum prodígio, como eram apelidados Jamez, Rodriguez, Rodrigo, Iturbe, Oscar e por aí fora… No entanto, um colectivo fortíssimo e um treinador que sabia jogar com as armas que possuía no seu arsenal, a seleção lá foi levando a água ao seu moinho…
Olhando para o onze português, tínhamos da baliza para a frente, Mika, Cedric, Rodrick, Nuno Reis, Mario Rui, Pelé, Danilo, Sana, Sérgio Oliveira, Alex e Nelson Oliveira. Uma pergunta: Quantos destes jogadores, que constituíram a equipa finalista do campeonato do mundo, jogam com regularidade na liga portuguesa? Resposta fácil, Cedric, a defesa direito na Académica. Tenho de ser sincero, fico triste ao ver talentos desperdiçados quando chegam a Portugal toneladas de estrangeiros sem metade do valor… Para além do desperdício, o que me preocupa é que este tipo de mentalidades vai levar, mais cedo ou mais tarde, a uma seca na selecção. Vamos a exemplos concretos. O Sporting, deixa Cedric na Académica e contrata Santiago Arias. Fc.Porto, Helder Barbosa, Ukra, Castro, Sergio Oliveira e vai buscar Kelvin e Souzas… Benfica, Roderick vai para o Servette e fica-se com o Xerife, vá la que vai apostando minimamente no Nelson Oliveira… Olhando para a selecção A, vemos que dentro de alguns anos não teremos uma equipa ao nível da que temos tido no últimos anos. Quando acabar Ronaldo, Nani, Moutinho, Meireles, Pepe, Coentrão quem virá a seguir? Na minha humilde opinião, Portugal ainda vai a tempo de corrigir alguns dos erros. É preciso incutir nos clubes uma aposta mais recorrente no jogador português, torna-lo mais visível e, assim, beneficiar económica e desportivamente.
A mudança de mentalidades é necessária e não viro a cara a uma imposição nos regulamentos da liga, de um número mínimo de portugueses no plantel, maior ao que se encontra atualmente em vigor. Para além das medidas ao nível do futebol sénior, seria também o mais urgente possível limitar o número de estrangeiros a chegar às camadas jovens dos grandes de Portugal. Ainda no fim-de-semana passado, tive o prazer de assistir ao confronto entre Porto e Benfica e, por minha estranheza, vi em campo uma mão cheia de estrangeiros e, alguns deles, representando as maiores figuras da equipa. A meu ver, tal não devia acontecer!
Aproveitando o título da minha crónica, “Somos Portugal”, deixo um apelo aos clubes. Que sejam Portugal! Que apostem no talento português e não façam como o governo que incita a emigração. Eu agradeço, os amantes do futebol agradecem e, acima de tudo, Portugal e a nossa equipa agradecem!
Cumprimentos João Silva
Nota 1: O amigável de Portugal foi marcado por uma letargia total de jogadores, maior parte deles a pensar no clássico. Aparte dos primeiros quinze minutos, a exibição foi muito cinzenta…
Nota 2: Impensável a calendarização do clássico, total responsabilidade da liga e do clube que joga em casa. Não concordo minimamente com este tipo de atitudes.
Nota 3: Fiquei espantado com a chamada de Nelson Oliveira à Seleção. Aplaudo este tipo de atitudes, no entanto, deveria jogar mais no clube, para não queimar etapas indispensáveis à sua formação como jogador.