Nota prévia do autor: Face aos acontecimentos da passada segunda-feira, no jogo entre o Estoril e o Porto, a minha crónica desta semana será um pouco mais extensa do que o habitual.

Parte I

Não aconteceu, mas podia ter acontecido. Na passada segunda-feira, poderia ter ocorrido uma tragédia de proporções inimagináveis no Estádio António Coimbra da Mota. Estavam lá adeptos do Porto, mas poderiam estar do Benfica, do Sporting, ou de outro clube qualquer. Provavelmente, iriam perder-se vidas humanas, haveria feridos, sabe-se lá com que consequências.

Não aconteceu, mas podia ter acontecido. Se não fosse na segunda-feira, seria noutro dia qualquer.

Não aconteceu, mas podia ter acontecido. Se o Porto tivesse marcado um golo na primeira parte e aqueles 3.000 adeptos desatassem aos saltos.

Perante este hipotético cenário que, felizmente, não se concretizou, vemos toda a gente mais preocupada com o resultado ao intervalo, com a data de conclusão do jogo, a lesão do Brahimi, os pontos que, supostamente, o Porto quer “ganhar na secretaria”. Tenham juízo! Mas tenham todos juízo!

Neste momento, deveríamos estar todos a questionar-nos como foi possível o Coimbra da Mota chegar àquele ponto. Que raio de vistorias são feitas pelas “entidades competentes”? Como é possível, em pleno século XXI, enfiarem 3.000 pessoas numa estrutura sem condições? Como é possível um estádio vistoriado pela UEFA mais parecer um galinheiro de um qualquer país da América do Sul?

Estas deveriam ser as questões que a opinião pública deveria estar a debater e não o facto do Porto estar a perder 0-1 ao intervalo, a recuperação da lesão do Brahimi, ou os três pontos devidos ao Porto, à luz dos regulamentos que gerem a Liga.

Serviu também o incidente da passada segunda-feira para demonstrar a importância de haver claques devidamente legalizadas e estruturadas, dado que foi o diálogo entre a Direcção dos Super Dragões e as forças de segurança presentes no local que permitiu a evacuação ordeira dos adeptos, como todos puderam ver nas imagens televisivas.

Afinal, parece que os adeptos do Porto não são a cambada de desordeiros que por aí se consta.

Portanto, repito: tenham todos juízo!

Parte II

Findou a primeira volta e os adeptos do Porto estão eufóricos. Contudo, não deixa de ser curiosa a reacção generalizada dos nossos adversários à (natural) euforia do Porto.

Mais do que a seca dos últimos 4 anos (e, de seca, outros clube perceberão melhor que nós, principalmente desde que vivemos num regime democrático…), o que nos leva a estar tão empolgados são outros factores, que passo a elencar para os mais distraídos ou com problemas de visão:

a) a qualidade do futebol praticado;

b) a qualidade do futebol praticado por um plantel condenado, na pré-época e após o fecho do mercado, ao fracasso;

c) a capacidade psicológica que a equipa revela perante as adversidades, sejam os jogos menos conseguidos, os adversários mais difíceis, ou as arbitragens infelizes;

d) a união do grupo entre si e com os adeptos.

É certo que nada está ganho. Mas também é certo que, ao contrário de outros, nada está perdido.

É certo que nada está ganho. Mas também é certo que o plantel que se dizia curto, que se reforçou com o tão ridicularizado Marega (lembram-se da tarja dos adeptos do Sporting?), entre outros “underdogs”, terminou a primeira volta em primeiro no campeonato, apurou-se para a Final Four da Taça da Liga, está nas meias-finais da Taça de Portugal e fez muito mais que zero pontos na Champions League.

Podemos chegar a Maio com uma mão cheia de nada… é verdade. E todos os portistas sabem disso.

Mas também é verdade que haja só quem tenha um dedo e continue a tentar ostentar anéis.

Portanto, tenham juízo!

Autor: António Pinheiro

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