Escrito por: Cláudio Moreira
E pronto. Mais uma época findou. Com o vencedor do costume e com os habituais contendores do dérbi da saudade – também conhecido como o dérbi da Segunda Circular – a presentearem o país com mais um triste espectáculo. Os portistas, alvos de mais uma época titubeante, tiveram, assim, um motivo para enxugar eventuais lágrimas e rir-se da desgraça alheia. Menos mau. De um lado, foi o ano todo a servir de bobo da Corte; do outro, os foguetes foram atirados em Abril e ainda estamos para saber quem vai apanhar as canas. Percursos inesperados mas que acabam por traduzir as filosofias actuais que cada instituição privilegia.
Assim sendo, apraz-me fazer um resumo daquilo que foi o percurso dos ditos três grandes – temos mesmo de começar a repensar esta expressão! – e destacar aquilo que no meu entendimento foi o mais relevante em cada um dos clubes que mais paixões acicata neste nosso belo Portugal.
FCPorto:
Principiou e finalizou a época como nos habituou: a ganhar troféus. Porém, nem tudo foi um mar de rosas. Aliás, se calhar até foi um mar de rosas, contudo, alguns espinhos ficaram bem cravados nos corações azuis-e-brancos. Como é sabido por quem me lê, mantive uma postura coerente em relação ao desempenho da equipa: soltei a minha frustração quando assim teve de ser e elogiei quando me pareceu mais do que justo; no final de contas, creio que o tempo de Vítor Pereira cessou. Não porque tenha feito um mau trabalho – mas também não foi muito bom – mas porque me parece que está em fim de ciclo. E basta relembrar o trajecto do FC Porto na última temporada de Jesualdo Ferreira e compará-lo com o de Villas-Boas, ambos praticamente com o mesmo plantel e com destinos tão distintos.
Vítor Pereira tem boas qualidades. Uma delas aprecio sobremaneira, designadamente a sua capacidade de motivar constantemente os jogadores em partidas contra o Benfica; não é só Jorge Jesus que baqueia frente ao tricampeão, é também Vítor Pereira que trabalha exemplarmente a componente anímica dos seus jogadores; nas horas decisivas, os resultados aparecem e os rivais acabam a ajoelhar-se perante a supremacia portista. No entanto, acho que uma mudança de treinador seria benéfica para os jogadores e sobretudo para os adeptos, cada vez mais exigentes com os padrões exibicionais e com os resultados, claro está. E Vítor Pereira teria uma oportunidade de ouro para sair pela porta grande.
Como já havia referido em textos anteriores, este FC Porto bloqueia demasiado nos jogos a eliminar. Fomos afastados sem honra nem glória da Taça de Portugal, perdemos a Taça da Liga com um desleixo tremendo e fomos afastados das competições europeias quando podíamos perfeitamente ter alcançado um patamar mais avançado.
Se Vítor Pereira permanecer – cenário que me parece bastante plausível – terá o meu apoio incondicional enquanto funcionário do clube e jamais desejarei (como alguns portistas que sofrem do Síndrome do Portismo das Vitórias) que perca só para que seja afastado do comando técnico. Chamem-me o que quiserem, mas eu prefiro sempre ganhar mal do que perder bem.
Quanto ao futuro, estou a gostar da política de contratações do clube: jovens jogadores, na maioria deles portugueses, identificados com o campeonato e, se repararem bem, com apetência para a marcação de bolas paradas. É com muito gosto que vejo este upgrade e só espero que este meu optimismo se repercuta rapidamente em boas exibições e resultados concludentes.
Para finalizar, vou dar uma de Mestre da Táctica: há uma final da Champions na Luz para ganhar, Força, rapazes!
Benfica:
Bem pode dizer-se que os encarnados andaram aos tombos nesta temporada. Começaram a tombar um árbitro na Alemanha e acabaram tombados em todas as competições, sobrando a consolação da conquista de um lugar no pote 1 no futuro sorteio da Liga das Campeões.
O Benfica de ultimamente faz-me lembrar os políticos socialistas. Há sempre uma desculpa alheia para justificar os desaires. No campo político, são os neoliberais (ainda estamos todos à espera de saber quem são) os responsáveis pela crise económica, olvidando um passado despesista e megalómano que nos conduziu uma vez mais para uma situação de iminente bancarrota; no campo desportivo, o que outrora era justificado com os árbitros (depois da exibição de Capela é impossível alguém ter o despudor de se queixar seja do for) passou a ter no azar (ou falta de sorte) a narrativa perfeita para esconder o lixo para debaixo do tapete e assobiar para o lado como se os responsáveis das derrotas em catadupa não tivessem de ter rostos e nomes, esquecendo os milhentos golos de ressalto, as constantes bolas aos ferros e os critérios anómalos dos árbitros no que concerne a agressões nítidas.
Não sou cego e já aqui admiti que Jesus conseguiu, a espaços, fazer um trabalho na Luz. Contudo, olhando para o seu vencimento, para as condições de que dispôs em relação aos seus antecessores e para o estado actual do FC Porto, ganhar em quatro anos um campeonato e três risíveis Taças da Liga é manifestamente pouco. Não me cabe a mim decidir, e ainda bem, o futuro do técnico, mas colocando-me na pele de adepto do Benfica (bater várias vezes na madeira) eu não queria ver Jesus nem pintado. Tal como já li algures, o Benfica viu em Jorge Jesus um Alex Ferguson em potência, mas pode ter saído um Wenger na rifa…
E após três anos a levar na pá, há adeptos que ainda não compreenderam o essencial e teimam em insistir nos erros do passado…
Sporting:
Uma dança de treinadores, de dirigentes e até de presidentes. Tudo o que podia correr mal ao Sporting, corria mesmo! Jesualdo Ferreira veio dar algum norte à rapaziada de Alvalade, mas os resultados não foram animadores. Todavia, o seu trabalho não pode ser alvo de muitas críticas, já que fez melhor do que os antecessores e lançou as bases para um futuro recheado de jovens talentos.
Mentiria se dissesse que o Sporting não me fez soltar valentes gargalhadas. Ai, fez, fez! E se a situação acontecesse no FC Porto, tenho a certeza de que haveria adeptos leoninos a exultar; não sejamos hipócritas, a rivalidade também contempla isto, ficarmos felizes com as derrotas dos outros. E não me venham com lições de moral a dizer que isso são complexos de inferioridade, chega dessa lengalenga do politicamente correcto.
Ainda assim, formulo o meu desejo de ver o Sporting novamente na luta por algo mais do que a permanência ou o último dos lugares europeus. Para o seu próprio bem, para o bem de Benfica e Porto (para ajudar a desanuviar este clima de crispação a dois) e para o bem do campeonato, que só tem a ganhar com uma competitividade mais intensa.
A meu ver, o Sporting começou mal e acabou ainda pior, com este desaguisado perfeitamente evitável no caso João Moutinho. Era o que mais faltava que o Sporting metesse o bedelho nos negócios do FC Porto; se o clube decidisse vender a maça podre (de boa) por €1, o Sporting só devia queixar-se de Bettencourt e da sua maneira ardilosa de negociar. Bruno de Carvalho seguiu pelo caminho da má-fé e, depois de umas graçolas com fruta, fez um comentário de mau gosto, fazendo passar Pinto da Costa como um incapacitado que já não tem as qualidades de outrora.
Pois bem, relembro a Bruno de Carvalho que Luís Filipe Vieira disse, em 2007, que Pinto da Costa estava “completamente morto”. Fazendo as contas, desde essa famigerada tirada que o FC Porto ganhou 13 títulos, o Benfica 5 (quatro Taças da Liga) e o Sporting 2 (uma Taça de Portugal e uma Supertaça). Que estes dados sirvam de lição e o ajudem a encontrar o rumo de um clube moribundo. Leonardo Jardim, até ver, parece-me uma escolha sensata.
Saudações Portistas