Finda mais uma temporada, manda a previsibilidade que se faça um balanço daquilo que foi desde logo uma época atípica, com demasiadas oscilações, mas que acabou como já se previa há algumas semanas – com o Porto campeão e a tónica do discurso dos perdedores do costume a centrar-se na arbitragem. Tenho para mim, aliás, que a arbitragem em Portugal, nos últimos dez anos, só foi transparente, em termos de campeonato, nas épocas 2004/2005 e 2009/2010 e, em termos de taça de Portugal, nas épocas 2006/2007 e 2007/2008.
Da panóplia de análises à minha disposição, optei por elencar aqueles que me pareceram os aspectos mais positivos e aqueles que correram menos bem, tendo em vista o objectivo mais próximo, a conquista do tricampeonato.
Aspectos negativos:
– Mau planeamento da época: já aqui tive oportunidade de dizer, até mais do que uma vez, que o Porto foi vítima de um planeamento que deixou muito a desejar. Para isso, muito contribuiu a saída abrupta de André Villas-Boas, o abandono de Falcao e a manutenção dos cancros que depois de ganharem tudo pelo Porto acham que podem sair por tuta e meia para ligas mais competitivas. Em parte, estes problemas foram resolvidos pela altura do mercado de Inverno: Vítor Pereira desceu à Terra, percebeu o que na verdade significa ser Porto e arrepiou caminho; Mark Janko veio colmatar a falta de presença na área, mas golos quase nem vê-los; as ervas daninhas foram todas recambiadas, o líder Lucho regressou e o balneário pôde respirar mais livremente.
– Desvalorização dos activos: à excepção de uns cinco ou seis, estou em crer que todos os jogadores perderam valor em relação à última época. O caso mais flagrante é a recente transferência de Guarin, que vai render aos cofres do clube, ao todo, pouco mais de 12 milhões, quando, na verdade, ele podia valer bem mais do que o dobro. Álvaro Pereira é outro: se outrora foi rejeitada uma proposta a rondar os €25 milhões, duvido muito que agora alguém chegue perto desta maquia. Hulk, Moutinho, James, Fernando, Maicon e Helton preservaram o seu estatuto e valem tanto ou mais do que na época transacta.
– Fraca prestação nas competições europeias: não há como enganar, tanto a Champions como a Liga Europa foram um desastre. Já fizemos pior, é verdade, mas o patamar em que o Porto se encontra obriga a mais, a muito mais. Mas não só por isso. As receitas que advêm da liga milionária são fundamentais para o equilíbrio financeiro e depois da avultada despesa em Danilo e Alex Sandro o Porto não podia falhar. Mas falhou. Foi relegado para a Liga Europa e saiu-lhe a fava. Falhou novamente. Para o ano, é impreterível que uma situação destas se repita.
– Qualidade das exibições: eu sei que a nota artística não conta nada e só lhe dá valor quem dista 300 km de distância do Porto. No entanto, foram demasiados os jogos em que a equipa andou a arrastar-se em campo, com um fulgor digno de um septuagenário. Antes de tudo, é preciso ganhar e isso é o que nos distingue dos outros. Todavia, há limites para o nível paupérrimo patenteado. Foram muitos os momentos em que os jogadores desrespeitaram o emblema do dragão e isso tem de mudar rapidamente. Na recta final deste campeonato, pelo menos, a equipa mostrou sinais de inconformidade nas situações adversas. Veremos se este espírito se prolonga.
Aspectos positivos:
– Conquista do campeonato: apesar de todos os problemas que rodearam a equipa, ela focou-se no objectivo primordial e conseguiu a proeza de ser campeã no sofá. Uma novidade para mim, já que ainda só tinha visto a conquista do campeonato em pleno hotel. Jogando nem sempre o melhor futebol, o Porto fez por merecer o título, foi ganhar à Luz e à Pedreira, foi consistente e demonstrou uma vez mais, para quem ainda tem dúvidas, o que é ter uma estrutura solidificada.
– Mudança na equipa técnica: passou um tanto ou quanto despercebida, mas julgo que foi de uma relevância fulcral. A saída de Rui Quinta do banco por troca com Filipe Almeida e a promoção de Paulinho Santos como voz de comando do balneário foram opções que se revelaram totalmente acertadas. É bom não esquecer que o Porto não perdeu apenas Villas-Boas, mas também Pedro Emanuel – o tal que foi colocado na Académica a mando do Pinto da Costa e que veio empatar ao Dragão e que nos arrumou da Taça por 3-0. Desta forma, com o homem do auricular na bancada, com um treinador-adjunto aparentemente mais em sintonia com Vítor Pereira e com um Paulinho Santos a pôr os homens em sentido, o Porto juntou todas as peças do puzzle e lá conquistou o bicampeonato.
– Aprendizagem com os erros: também estou consciente de que as vitórias morais são mais abundantes na zona da Segunda Circular. Aliás, é isso mesmo o que lhes resta – engolir em seco mais uma conquista do Porto e pensar que “para o ano é que vai ser!”. Contudo, este campeonato foi pródigo em lições de moral, para que no futuro não se cometam os mesmos erros. Vítor Pereira e a equipa técnica estão agora mais maduros, já sabem o que a casa gasta, pelo que na época 2012/2013, se o mundo não acabar, o rendimento global tem de ser melhorado.
– Mau perder dos adversários: que alegria, que gozo, que regozijo que me dá ver os adeptos de outras equipas a espumarem-se por mais um título. Eu sei bem as razões: estamos a distanciar-nos à velocidade da luz do Sporting e a aproximar-nos vertiginosamente do Benfica no que à conquista dos campeonatos diz respeito. Posto isto, toca a engendrar um plano conjunto sobre a arbitragem, como de resto é habitual, assobiar para o lado e pôr a máquina da propaganda a trabalhar que daqui a nada há eleições. Dá-me tanto gosto ser campeão assim. Tentem ser melhores para a próxima.
A todos os fiéis leitores, um forte abraço. Para o ano há mais.