Escrito por: Cláudio Moreira
Vitória na Supertaça, derrota na final da Taça da Liga para o José Peseiro, repito, para o José Peseiro, saída precoce da Taça de Portugal, afastamento da Liga dos Campeões depois de ter o pássaro na mão e dependência de terceiros para revalidação do título. É este o panorama que se afigura aos portistas. Um cenário mais negro seria difícil de projectar para um adepto como eu, nada habituado ao sabor do fracasso. Assim sendo, através de uma reflexão, parca, diga-se de passagem, enumerei os 7 pecados capitais que Vítor Pereira cometeu nos dois anos de vigência do F.C. Porto, mas com maior ênfase para esta temporada. E sinto-me à vontade para criticar porque, tal como disse há algumas semanas, elogio e condeno conforme a circunstância. Sou coerente e tento ser o mais justo nas avaliações. Por conseguinte, cá vai:
Ilusão: Este marmanjo conseguiu iludir os adeptos a dada altura. As goleadas consecutivas ao Gil Vicente e ao Vitória de Guimarães deram a sensação de que Vítor Pereira talvez tivesse sido alvo de críticas injustas e de que realmente possuía mais qualidades do que aquelas que tinha aparentado na primeira época; caí que nem um patinho. Eu e muitos milhares. De facto, o que os adeptos e simpatizantes queriam era magia no futebol praticado. Porém, a magia foi outra. Quando se vislumbravam títulos ao longe, eis que Vítor Pereira, num ápice, faz desaparecê-los sem deixar rasto. É obra!
Pragmatismo: Neste momento, o F. C. Porto deve ser a equipa mais previsível do Universo. Já toda a gente sabe como vai entrar em campo; já se sabem as movimentações (ou falta delas); já sabe que vai haver uma posse de bola infrutífera; é sabido que Jackson vai ser o único homem, coitado, na área à espera dos cruzamentos; não será novidade que o Porto não vai ter qualquer profundidade nos flancos; todos os adversários sabem que os jogadores não vão rematar de fora da área. E é este pragmatismo que me chateia: não há um rasgo de criatividade, um plano B para mudar o sistema, algo que agite o marasmo em que as partidas invariavelmente entram.
Teimosia: Há aqueles treinadores que são teimosamente competentes – tanto insistem que acabam por ter sucesso; Vítor Pereira é o oposto – insiste nos mesmos erros do passado, sem que se vislumbre algum êxito nisso. Não se compreende que, depois de um ano a jogar com Hulk como ponta-de-lança, embirre no facto de só Jackson ter oportunidade de jogar no centro do ataque. Liedson foi contratado para quê? Não há soluções de recurso na equipa B para jogar de quando em vez e fazer descansar o colombiano? E comentar esta teimosia em meter a jogar o Lucho quando ele nem consegue quase correr nem vale a pena, é chão que já deu uva…
Desmotivação: O treinador do F. C. Porto não é, nem de longe nem de perto, uma figura que exale liderança. Tem um carisma igual ao de um tijolo. E isso é comprovado a cada conferência de imprensa, a cada flash interview e a cada jogo que passa. A mensagem de Vítor Pereira não gera confiança, os jogadores não se galvanizam com as suas palavras, os adeptos não sentem a famigerada mística que tantos outros treinadores foram capazes de incutir. E quando assim é, tudo se torna mais complicado
Desistência: É inegável a quebra que atingiu o F. C. Porto depois da derrocada de Málaga. Não foi só o ex-ministro Relvas que não teve a força anímica para contornar as adversidades; isso foi também sentido, e de que maneira!, pelos jogadores. Quer ao nível físico, quer ao nível mental, os atletas portistas parecem saídos de uma equipa banal que costuma lutar pelos lugares intermédios na tabela classificativa. Não existe ambição para mudar o estado negativo da situação e parece indiferente estar a ganhar, perder ou empatar, a atitude é sempre a mesma. Bons tempos, os do grito de revolta…
Descrédito: Pois bem, o F. C. Porto é sobejamente conhecido por ser um clube vendedor, que serve de entreposto para os jogadores irem, mais ano, menos ano, para um campeonato mais competitivo. Não há que sentir qualquer estigma por causa disso; aliás, só há coisas boas nesse aspecto. Contudo, Vítor Pereira não conseguiu potenciar jogadores a um nível que outros já fizeram. Fez um bom trabalho com Mangala e Alex Sandro, mas, na verdade, vimos uma evolução muito residual de talentos como Danilo, Atsu, Iturbe, Kelvin e Defour. Talvez outro treinador, com outros métodos e outras idéias, sejam capazes de desenvolver as qualidades desta juventude toda.
Persistência: …em todos os pecados anteriores; Vítor Pereira não melhora, não consegue superar-se. Não basta deixar crescer a barba, fazer um ar de bad boy e debitar uns clichés para que o rendimento da equipa seja superior. É tudo muito pouco para aquilo que se exige. Quando isto acontece, a conclusão é óbvia: o treinador Vítor Pereira será sempre mais um dos que por aí andam. Um Cajuda, um Vítor Pontes, um Paulo Sérgio, sem aquilo que é necessário para ser especial e marcar uma era.
Nota 1: Tiago Rodrigues e Ricardo, jovens do Vitória, foram já formalizados como reforços do F.C. Porto. Embora me seja indiferente a nacionalidade – quero é bons jogadores! –, aprecio esta tendência de seleccionar jovens com valor de nacionalidade portuguesa. Até porque o futuro do futebol luso passa por aqui, e convém dar a oportunidade aos Tiagos Rodrigues e Ricardos deste país do que ir buscar Tomás Costas e Iturbes por preços inflacionados e de valor duvidoso.
Nota 2: Nunca pensei dizer isto, mas cá vai: força, Sporting!
Saudações Portistas