O tolo no meio da ponte
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Escrito por: Cláudio Moreira
Valente murro no estômago, aquele que levei na passada quarta-feira. Seria capaz de curar qualquer prisão de ventre. Bem sei que a imprevisibilidade é rainha e senhora no condado Vítor Pereirense, mas confesso que não estava nada à espera daquele desfecho tenebroso. Se nem Jorge Jesus estava, quanto mais eu… Depois de uma primeira mão quase perfeita e tendo o plantel na máxima força para enfrentar a segunda, e mesmo sabendo de antemão os imponderáveis de que este FC Porto padece, estava convencido de que marcaríamos presença no sorteio de hoje.
Enganei-me, portanto. E a minha equipa ficou prostrada de forma justa. Não há volta a dar: caímos de forma inglória e os únicos culpados moram no estádio do Dragão. Não vale a pena fazer desta eliminação uma caça às bruxas e procurar responsáveis exteriores. Os jogadores e o treinador só têm de assumir a responsabilidade total pela fraca prestação. Posto isto, demarco-me completamente do discurso de Vítor Pereira sobre o critério do árbitro que, por sua vez, teria influenciado o resultado. No fundo, influenciou, porque só fez o que lhe competia. E, bem vistas as coisas, Nicola Rizzoli até foi amigo, ao considerar que Helton foi tocado em falta quando, na verdade, apenas somaria mais uma frangalhada europeia ao seu já vasto currículo.
A abordagem ao jogo de Vítor Pereira pareceu-me correcta. Eu que não percebo nada disto teria idealizado uma equipa semelhante. Foi através da intensa posse de bola que estancámos qualquer perigo malaguenho na primeira mão e fazia sentido que desta feita o remédio fosse o mesmo. Porém, a posse de bola acabou por ser o nosso kryptonite e o feitiço virou-se contra o feiticeiro. A equipa foi incapaz de segurar a bola por mais de 5 segundos e, pior do que isso, não soube pressionar devidamente o adversário, algo em que os jogadores sempre mostraram grande apetência. Parecia que jogávamos com 11 Castros, a correr sem critério a tudo o que mexia.
A jogar com quatro médios de contenção – e um Varela que nesta altura do campeonato só é útil por aquilo que defende – exigia-se muito mais controlo ao FC Porto. Não se pode admitir um número incomensurável de perdas de bola.
Depois, claro, com tanta liberdade de movimentos só a cacetada era eficaz para parar jogadores com a craveira de Joaquin ou Isco. O árbitro mais não fez do que mostrar cartão amarelo quando tinha de ser. Teve um critério exemplar e se fosse seguido no nosso campeonato, estou certo de que a impunidade numa determinada agremiação acabaria de vez.
Por conseguinte, parece-me que a metáfora do tolo no meio da ponte encaixa que nem uma luva em Vítor Pereira. Todos sabem que já o critiquei e o elogiei consoante o momento da equipa. Hoje, merece o meu repúdio porque perdeu aquilo que estava perfeitamente ao seu alcance. Vitor Pereira, nesta eliminatória, pareceu-me o tolo no meio da ponte, mas, ao contrário do tolo de Teixeira de Pascoaes, não ficou impávido a fitar o rio sem saber o que fazer. Não, Vítor Pereira tomou uma decisão, mas não foi andar para trás ou para a frente, foi atirar-se de cabeça ao rio.
Aliás, Vítor Pereira parece que sofre de algum tipo de sortilégio nas provas a eliminar. Senão, vejamos: em termos europeus, foi arrumado logo que a prova virou eliminatória e o mesmo já acontecera no ano transacto, em que foi de imediato afastado assim que caiu na Liga Europa; nas duas vezes que competiu na Taça de Portugal foi anulado sem honra nem glória e, na Taça Lucílio Baptista, perdeu uma meia-final e não se sabe se terá direito a disputá-la nesta temporada. Apesar dos elogios que merecidamente levou da minha parte, Vítor Pereira, amigo, não há treinador que resista sem mostrar resultados satisfatórios.
O FC Porto já jogou bem à bola, comparativamente com o ano passado, teve bons momentos, soube responder às ausências de vulto que se fizeram sentir mais vezes do que seria expectável. Tudo isso é louvável e não pode ser esquecido, mas quando essa qualidade patenteada não se traduz em resultados que façam jus à história recente do FC Porto, bem, não pode ser passada uma esponja sobre o assunto.
Em suma, Vítor Pereira está obrigado a vencer campeonato e Taça da Liga, na eventualidade de ter essa oportunidade. Hodiernamente, em Portugal, ganhar apenas o campeonato é bom noutros clubes. No FC Porto não. Celebrar o título nacional é satisfatório. É preciso ir além disso. Vítor Pereira recebeu uma grande
dose de confiança por parte da direcção, na expectativa de fazer algo melhor do que o trabalho razoável da época anterior. Pois bem, chegados a este momento, podemos desde já desvendar que, no que toca a resultados, dificilmente Vítor Pereira superará o seu anterior registo. Resta-nos manter a fé de que atingiremos o objectivo do campeonato sem sobressaltos, pois de outra forma será uma época miserável, não obstante a genérica melhoria qualitativa no futebol praticado.
Saudações Portistas