
Eu sou um amante do futebol. Apaixono-me cada vez que o árbitro apita para um início de um jogo, o som da bola a bater na rede, no poste, o palpitar do coração antes de um “craque marcar um penálti”. Sim, está tudo aqui, mas nos últimos tempos essa minha relação de amor parece estar a passar por momentos conturbados. O futebol costumava lembrar-me exclusiva e unicamente nomes como Maradona, Pelé, Cruyff, Van Basten e por aí fora. Hoje, apesar de vivermos numa época de Ronaldo e Messi, as lutas já não se fazem no relvado. Estes dois craques competem pelas tabelas salariais, patrocínios e qual tem a roupa mais extravagante e a mulher mais bonita, discutem na imprensa e não no relvado.
Depois, ligo a televisão e vejo senhores eruditos como Pedro Guerra, Manuel Serrão e Rui Oliveira e Costa a falar do jogo como se o tivessem jogado, a falar com a autoridade como se fossem deuses do futebol quando, na verdade, a sua autoridade no assunto não é superior à de ninguém. Entristece-me cada vez que um destes senhores se pronuncia não sobre jogadas de contra-ataque ou toques de magia, mas sim sobre decisões de arbitragens e possíveis subornos, facilitismos de clubes subservientes e por aí adiante. O futebol está podre e todos os seus actores, até os de Hollywood (Blatter, Platini e companhia), estão corrompidos. Platini está atualmente suspenso de toda a actividade, existe suspeita-se que recebeu um milhão de euros de Blatter por mera cortesia entre cavalheiros. Blatter e os seus “cavaleiros” estão na mira da justiça devido a Irregularidade$ na atribuição do mundial de 2018 e 2022 na Rússia e no Qatar.
Nas relações problemáticas, em muitos casos existe uma terceira pessoa. Para mim, esse foi o Campeonato de Mundo de Rugby, um exemplo do que o desporto deve ser. Durante 6 semanas estiveram nos estádios perto de 2 milhões e 500 mil espectadores, não houve um único distúrbio reportado, e os espectadores podem beber álcool na bancada. 40 jogos e perto de duas ou três decisões erradas. Os árbitros anunciam todas as decisões no microfone do estádio e ainda podem recorrer ao vídeo-árbitro para julgar de vários ângulos e várias velocidades as diversas jogadas e ainda possuem uma câmara no peito para dar outra verosimilhança ao jogo, verdadeiramente um jogo sem batota e sem batoteiros. Sem batoteiros, pois impera nos jogadores uma ética desportiva sem igual, que nenhum jogador se atreveria a ser “batoteiro”. Esta ética faz com que também na hora da derrota não haja desculpa, pois quando perdem é porque o adversário naquele campo foi superior, não há teorias da conspiração, apenas uma bola oval e 30 nobres jogadores em busca da vitória.
Quando olho para o rugby, fico triste pois o futebol é um jogo igualmente sagrado mas foi altamente profanado por humanos. O futuro tem de passar obrigatoriamente por uma aproximação a estas culturas para poder evoluir e ganhar as graças de outrora. Nelson Mandela disse um dia que “o futebol é um desporto de cavalheiros praticado por hooligans e o rugby é um desporto de hooligans praticado por cavalheiros”, e não podia estar mais certo. Espero ansiosamente o dia em que se faça uma revolução no futebol, para o bem do jogo e de todos nós.
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