O Futebol é Magia

Quando vos escrevi a semana passada, escrevia com o coração pesado. O atentado à nossa liberdade incomodava-me, usei o futebol como símbolo de uma sociedade livre e sem medo e, felizmente em boa hora, afirmei que o futebol é liberdade. Eu sei que é uma frase cliché, eu sei que é fácil escrever sobre o que toda a gente fala, mas desenganem-se, não é fácil! A emotividade é gigantesca e é difícil expressar o quão difícil e especial foi escrever aquele artigo. O futebol foi sempre assim para mim: amor, paixão, tristeza. Um mundo onde sempre me podia esconder, nem que fosse atrás de um comando da Playstation. Por isso, não podia deixar de partilhar uma nova ideia, uma metamorfose da anterior, quase como uma evolução do sentimento trágico que nos imbui a todos. Quem olhou para os relvados este fim-de-semana percebeu que o futebol é magia!

Magia, pela sua definição, é uma arte que pretende agir sobre a natureza e obter resultados contrários às suas leis. Produção de efeitos extraordinários por meios artísticos; encanto; fascínio. Magia foi então o que se passou este sábado no Santiago Bernabéu, em Madrid, e terça-feira no Camp Nou, em Barcelona, onde os catalães se exibiram de uma forma quase perfeita, que até parecia mágica. Primeiro foram os 4-0 infligidos aos Blancos, um trio infernal apareceu naquele dia para jogar e muito à bola. Neymar, Suarez e Iniesta foram os principais carrascos na tarde de sábado. Os dois da frente foram sempre intensos, a driblar a combinar a fazer o que queriam da defesa do Real, no entanto, a estrela do espectáculo foi sem dúvida um dos mágicos mais ignorados de sempre da história do futebol. Falo, claro está, de Andrés Iniesta. O mago espanhol assinou uma exibição fenomenal, sendo mesmo ovacionado pelos adeptos de Madrid, jogou, fez jogar e ainda marcou um golo, o melhor em campo e um dos melhores da história do futebol, quase sempre esquecido quando se fala nos melhores do mundo. Messi, regressado após lesão, entrou só para brincar um pouco e também fazer parte da festa. Não bastava a demonstração de sábado à noite, os catalães decidiram também abrir uma nova data e fizeram, mais uma vez, como se de magia se tratasse, fazer desaparecer a equipa da Roma, na sua sala de espectáculos favorita, o Camp Nou. Desta vez com a estrela da companhia em campo, o argentino Messi, juntamente com Neymar, Suarez, Iniesta e um surpreendente Sergi Roberto, dizimaram por completo a equipa Romana. Todas as palavras que possa escrever não vão fazer justiça ao que se passou, por isso, peço só que se recordem do primeiro golo de Messi, em que tudo foi mágico. A troca de bola, a movimentação dos jogadores até ao toque final do astro argentino; perfeito, pura magia!

Luís Enrique voltou a reinventar o futebol do Barcelona, mesmo com um inicio de época mau, fiel aos seus ideais foi capaz de construir uma equipa à sua imagem. Conseguiu impor-se com autoridade diante de Messi e Neymar (quem não se recorda de os ver sentados diante da Real Sociedad na época passada?), fez com que os seus egos não se superiorizam-se aos da equipa e com isso construiu mais uma máquina de jogar futebol. Máquina que ficou mais oleada com a ausência de Messi – curiosamente foi com o argentino de fora que a equipa respirou melhor, a coesão cresceu e os processos de jogo tornaram-se muito mais automáticos.

Termino, pois a magia do futebol não deve ser estragada com tantas palavras. Termino também com a esperança de que o futebol nunca perca esta essência, algo que faz apaixonar milhões e bater tantos corações, algo que é tão especial que faz parecer um simples toque na bola ou uma finta um toque de magia…