Ninguém consegue ficar indiferente a tudo o que passou na última semana. O terror chegou, ataques terroristas em Paris mataram mais de uma centena de pessoas; um teatro, vários cafés e um estádio de futebol foram os alvos. Já decorria o jogo entre a França e Alemanha quando rebentou a primeira bomba. Ninguém estranhou, o som foi idêntico ao de um petardo. Segundos depois, rebentaram as restantes e aí já alguns jogadores, nomeadamente Evra, perceberam que algo de estranho se passava, no entanto, o jogo decorreu até ao fim. Finda a partida, os adeptos foram informados de que as saídas do estádio estavam interditas e com o pânico já instalado os adeptos dirigiram-se para o relvado, que era o único local amplo disponível. O que se passou a seguir já todos vocês sabem.
Vivemos tempos de mudança, não podemos acreditar que o mundo em que vivíamos antes do dia 13 de Novembro de 2016 ainda existe. Esse mundo pode ser já considerado história, pois nesse espaço temporal seria impossível pensar que dois jogos de futebol seria cancelados por questões não diretamente relacionados com o futebol. O Bélgica – Espanha e o Alemanha – Holanda foram cancelados por questões de segurança. O primeiro, um dia antes do jogo e o segundo já com os adeptos dentro do estádio. O terror é o principal objectivo destes intervenientes, não apenas matar pessoas; é no seu essencial limitar a nossa vida, moldar o pensamento com o medo, limitar o que nós consideramos mais sagrado, a nossa liberdade.
A resposta a este medo não poderia ser melhor e, apesar de alguns maus exemplos, o futebol conseguiu mais uma vez dar a resposta. A Marselhesa foi entoada como o único hino de todos os jogos internacionais disputados esta semana. Os jogadores entrelaçados no centro do relvado, sem barreiras, sem diferenças, como um único povo europeu, cantaram de peito feito o Hino Francês. Todo este movimento começou no jogo entre a Inglaterra e França, Wembley vestiu-se a três cores, naquilo que foi muito mais do que um simples jogo de futebol; foi um gesto de profundo simbolismo, demonstrando que a liberdade é algo que não é facilmente derrubável e que o futebol pode mais uma vez construir pontes fundamentais para a união entre os povos.
O céu que paira sobre a Europa é negro e o mundo do futebol não consegue ficar indiferente, no entanto, como em qualquer ciência, existem verdades absolutas que dificilmente serão quebradas. Uma delas é que Ibrahimovic será sempre Ibrahimovic. O sueco conseguiu colocar o seu país no Europeu com dois golos e acabou o jogo com as seguintes declarações: “Disseram que iam mandar-me para a reforma mas fui eu que mandei toda uma nação para a reforma“.
Outras das verdades que eu considero absolutas é que, por mais mudanças a que o mundo possa estar sujeito, a paixão pelo futebol não vai ser abafada. Nesta semana, quatro equipas qualificaram-se para o próximo Europeu em França. Mais uma dezena de jogos disputados em todo o mundo, entre deles, imagine-se, o Singapura – Síria, em que um país completamente destruído e martirizado pela guerra conseguiu vencer o jogo e continuar em segundo lugar do grupo e manter-se na luta pela qualificação para o Mundial de 2018.
Um país em guerra continua a jogar futebol, um país atacado continua a jogar futebol, a Europa e mundo continuam a jogar futebol. O futebol é paixão, é união e é uma afirmação. Caros leitores, o futebol é liberdade!