O FC Porto está doente

Escrito por: Cláudio Moreira

Todos os portistas estão felizes com a passagem do FC Porto aos oitavos de final da Liga Europa. O jogo com o Eintracht Frankfurt foi emocionante, conseguimos o objectivo de passar à próxima fase e a “vitória” arrancada a ferros aos alemães deixou-nos a todos contentes e com alguma esperança num futuro mais risonho, pois apesar de tudo foi uma boa notícia, algo bastante raro nos últimos tempos. Inclusivamente, algumas dezenas de adeptos dirigiram-se ao aeroporto Francisco Sá Carneiro para saudar a chegada dos jogadores, tal como haviam feito na partida para a Alemanha.

Contudo, não vejo razões para grandes euforias. Nem para pequenas, quanto mais… A verdade é que o apuramento do FC Porto não pode ser visto como um acontecimento estupendo; os números não deixam esconder as fragilidades que têm sido evidenciadas esta temporada e, ou me engano muito – quem me dera! -, a agonia está para durar. Vamos a factos:

i) O FC Porto passou a eliminatória, mas é bom não esquecer que não ganhou qualquer um dos jogos. Nem no Dragão nem na Alemanha. Valeu o maior número de golos marcados no reduto no adversário. Para além de sermos incapazes de derrotar uma vez que fosse o Paços de Ferreira da Alemanha (com todo o respeito para ambos os clubes) em 180 minutos, cometemos a proeza de sofrer 5 golos, um número inadmissível para quem tinha uns dos melhores processos defensivos da Europa no ano passado e para um clube que desceu da Liga dos Campeões e que luta para ganhar o troféu!

ii) Paulo Fonseca esteve na corda-bamba e esta passagem para a próxima eliminatória veio dar-lhe algum fôlego. Mas não nos podemos esquecer de que o FC Porto não ganha há 3 jogos consecutivos, sendo que 2 deles foram jogados com o estatuto de visitado. Mais: fazendo uma pequena pesquisa, podemos concluir que nas últimas 30 partidas o FC Porto limitou-se a ganhar metade, juntando-lhe 7 derrotas e 8 empates. Isto não augura nada bom no que à conquista de títulos diz respeito…

iii) Retomando as temáticas dos tópicos anteriores, façamos uma comparação com a última temporada de Vítor Pereira, treinador contestado até ao tutano (inclusive por mim) apesar do bicampeonato. O FC Porto de Vítor Pereira realizou 47 jogos oficiais e sofreu 25 golos, ao passo que o FC Porto de Paulo Fonseca leva 36 jogos oficiais e sofreu 29 golos: ou seja, este ano a equipa tem ainda menos 11 jogos e já sofreu mais cinco golos do que no ano transacto; o FC Porto de Vítor Pereira, nos mesmos 47 jogos oficiais, sofreu 4 derrotas e 8 empates, ao passo que o FC Porto de Paulo Fonseca, nos mesmos 36 jogos que leva, sofreu já, como se disse, 7 derrotas e 8 empates: ou seja, com menos 11 jogos, já igualou o número de empates e não tarda nada está a dobrar o número de derrotas; bifurcando para o plano europeu, o FC Porto de Vítor Pereira realizou 8 partidas, ganhando 5, empatando 1 e perdendo 2, ao passo que o FC Porto de Paulo Fonseca realizou igualmente 8 partidas, ganhado apenas uma, e averbando 4 empates e três derrotas.

iv) Os períodos que se avizinham não são risonhos. O FC Porto vai enfrentar o Benfica nas meias-finais da Taça de Portugal e na Taça da Liga – por muito os adeptos e presidente do Sporting Comunicados/Calimeros de Portugal não queiram –, que quer se queira ou não está bem melhor animicamente. Ainda no plano nacional, voltamos a regredir e estamos em terceiro lugar, atrás de um Sporting que veio da pior época da sua história e a longínquos 7 pontos do Benfica, de quem, recorde-se, já estivemos a 5 pontos de distância. Na Europa, vamos defrontar o Nápoles, uma equipa que desde há cinco ou seis temporadas mantém uma estrutura coesa e com um grande sentido colectivo, apenas ofuscado pela Juventus, e que já se sobrepôs aos históricos Lazio, Inter, AC Milão ou Roma.

O FC Porto está definitivamente doente e ninguém pode contestar este facto. À partida, Paulo Fonseca e a estrutura têm piorado o estado de saúde, porém, esta passagem aos oitavos de final da Taça da Liga foi uma ligeiríssima melhoria. O paciente continua ligado às máquinas e só um milagre fará com que volte à vida e volte a caminhar em pleno até ao mês de Maio. Se conseguir respirar até essa altura, não será nada mau, se olharmos atentamente os números que referi em cima. A esperança num FC Porto pleno e com títulos conquistados é cada vez mais diminuta…

Nota: Depois de Nélson Oliveira e André Gomes, a próxima next big thing é Ivan Cavaleiro. Os dois primeiros, levados ao colo pela imprensa quando ainda tinham (e têm) etapas para queimar, estão a perder o estatuto da próxima estrela encarnada na selecção. Hoje ficamos a saber que Cavaleiro vai ser o próximo a prometer muita coisa e a acabar perdido num clube mediano estrangeiro. Jorge Mendices…