O fado de Iturbe
Escrito por: Cláudio Moreira
E aqui estamos nós de volta a uma das actividades que mais prazer nos proporciona: o futebol. Os primeiros toques já foram dados, o meu Porto em quatro jogos granjeou outras tantas vitórias, um título já foi conquistado e o meu companheiro de bancada Duarte já fez as honras da casa com uma análise muito válida sobre este início campeonato. Quando tudo parece correr bem, eis que aparece uma pausa para compromissos de selecções a interromper o elã dos tricampeões.
Assim sendo, vejo-me privado de falar da minha equipa em termos genéricos. Por isso, vou incidir uma vez mais no tema Iturbe (nunca me debrucei tanto sobre um jogador como neste caso) e tentar compreender a sua situação à luz dos últimos desenvolvimentos. Para início de análise, proponho uma viagem até ao dia 16 de Março de 2012, em que escrevei o seguinte trecho sobre o jogador em questão numa crónica intitulada “A vez de Iturbe”:
«Aquilo que vimos de Iturbe foi pouco, tão pouco que nem se deu para perceber se de facto aquele pé esquerdo é um Messi wannabe ou se estamos perante uma fotocópia de Freddy Adu – um atleta que fez uns joguitos vistosos pela selecção jovem do seu país, que foi comparado a um astro mundial (no caso, Pelé) e que agora deambula insignificantemente pelas ruas da amargura. Eu tendo a inclinar-me para a primeira hipótese, mas prefiro manter a serenidade e esperar que jogue a sério.»
Pois bem, chegados a Setembro de 2013, o panorama não é muito favorável ao extremo. Se há ano e meio não tínhamos vislumbrado grande coisa, volvidos 18 meses a realidade não é muito diferente; Iturbe pouco ou nada mostrou de deslumbrante e agora vai mostrar o que vale no modesto Verona de Itália. A esperança depositada no argentino é tão parca que o seu empréstimo contempla uma cláusula de compra por parte dos italianos no valor de €8 milhões…
Como explicar este tremendo insucesso de um jogador de quem se esperava mundos e fundos? A culpa é única e exclusiva do Iturbe?; os desabafos nas redes sociais pioraram ainda mais a sua situação? Vítor Pereira e Paulo Fonseca são teimosamente ignorantes, não percebem o diamante que têm em mãos, e não o colocam a jogar? Relegá-lo para a equipa B não lhe fez bem? A guerra da direcção do F. C. Porto com o seu empresário contribuiu para o seu rendimento invisível?
Pois bem, a meu ver não há inocentes nesta questão e o culpado maior é o próprio jogador; disso não me restam muitas dúvidas. Quer na equipa principal, quer na equipa secundária, o rapaz, por muito que me custe dizer isto, não demonstrou absolutamente nada de extraordinário (à excepção de dois grande golos em jogos de pré-temporada…), levando-me a concluir que as únicas semelhanças com Messi são a nacionalidade e o pé esquerdo como o preferencial. De resto, um autêntico deserto. Muita velocidade, mas pouco acerto. Muitas ganas, mas pouca clarividência. Muita vontade, mas pouquíssima técnica.
Admitindo que a troca e galhardetes entre dirigentes portistas e empresário (com consequências, claro está, para o jogador) influenciou a utilização de Iturbe, isso não pode de forma alguma explicar tudo, embora também não possa ser passível de ser ignorado. Por muito que isso mexa com a cabeça do jogador, e eu compreendo que não seja fácil estar na pele dele, o seu foco nunca pode deixar de ser o rectângulo onde ele joga à bola. E Iturbe, um miúdo, não soube lidar da melhor forma com o que se passava fora das quatro linhas. Ora vinha mandar uns bitaites no Twitter, ora o empresário mandava recadinhos através da imprensa, comprovar o talento que muitos lhe auguravam é que não é preciso…
De facto, parece líquido que Iturbe tem os dias contados no Dragão, a não ser que a realização de uma época inteira no mesmo sítio e com a cabeça limpa possa resultar num milagre. Eu cá não crio ilusões, mas fica sempre a sensação de que ele poderia ter dado muito mais e estar num patamar diferente do que aquele em que hoje se encontra. O F. C. Porto vive muito bem sem Iturbe; a ver vamos se o oposto se confirma, esperando que um dia a convivência entre ambos seja salutar para todas as partes, dissipando as dúvidas sobre a hipotética sucessão a Freddy Adu. Boa sorte, Iturbe!
Nota 1: Mesmo imbuído de fanfarronice, é bom ver o Sporting reerguer-se das brumas e colocar-se numa posição digna na tabela classificativa. Que dê luta até ao fim, é o que eu desejo.
Nota 2: Fica aqui registado, de novo, o meu agradecimento aos 83,02% de sócios que renovaram por 4 anos a estadia de Luís Filipe Vieira no Benfica. Está cada vez em melhor forma!