Emídio Rafael em entrevista ao MaisFutebol revelou episódios que viveu enquanto jogador de futebol. O lateral esquerdo foi formado no Sporting CP, jogou no FC Porto e duas gravíssimas lesões impediram-no de chegar mais alto.

Na académica encontrou Villas-Boas.

“Quando cheguei o treinador era o Rogério Gonçalves e o plantel tinha três laterais-esquerdos. Nas primeiras semanas havia partes do treino em que eu nem treinava e ficava a pensar o que estava ali a fazer. Entretanto mandaram embora o Vítor Vinha. Nos primeiros dois jogos não joguei, estreei-me à terceira jornada e não saí mais da equipa. Entretanto à quinta ou sexta jornada o Rogério Gonçalves foi despedido e veio o André Villas-Boas.”

O André Vilas Boas que foi importante porque o levou para o FC Porto, não é?

“Foi decisivo, como é óbvio. Houve uma ligação forte entre nós, eu percebi bem aquilo que ele queria, ele viu em mim qualidade e viu que podia contar comigo. Ele foi sempre espetacular, ajudou-me e foi fundamental na minha carreira.”

Lembra-se assim de alguma história que tenha vivido nessa fase com Villas-Boas?

“Claro que sim, principalmente já no FC Porto. Na Académica era uma novidade e chegou cheio de força teve duas ou três coisas espetaculares. Por exemplo, fomos ganhar a Alvalade, com uma estratégia muito bem montada, e à vinda para cima normalmente nunca se para no caminho. Ele mandou o autocarro parar na bomba de serviço, tirou do cartão de crédito e disse: ‘Comprem o que quiserem, toda a gente, pago eu’. E nós comprámos tudo e mais alguma coisa. Também acontecia irmos jantar fora e ele pagar, coisas assim do género. No FC Porto as coisas eram mais pormenorizadas, mas também espetaculares.”

Que tipo de coisas eram essas?

“Ele ia para o Sporting na altura e tinha falado comigo: ‘Eu vou para o Sporting e vou-te levar comigo’. Entretanto meteu-se o FC Porto, já não foi para o Sporting, não me disse nada bom e eu pensei que tinha ido por água abaixo. Voltei para a Académica, era o Jorge Costa o treinador e, entretanto, caiu a chamada e fui contratado pelo FC Porto. Quando cheguei estava um clima difícil, o FC Porto vinha de uma época má, tinha ficado em terceiro lugar.”

No último ano de Jesualdo Ferreira.

“Sim, não se apurou para a Liga dos Campeões, foi jogar a Liga Europa, enfim. Quando cheguei estava um ambiente de cortar à faca. Muita gente chegou mais tarde por causa do Mundial da África do Sul, portugueses, uruguaios e argentinos, então havia muita gente com a perspetiva de sair, outros não queriam ficar, então os treinos eram muito durinhos, com nervos à flor da pele e ele soube lidar muito bem com isso. Lembro, por exemplo, de haver confusões nos treinos e o pessoal quase andar à porrada, aquelas quezílias entre jogadores. Então lembro-me que o ambiente estava mesmo de cortar à faca e um dia chegámos para treinar estava um ringue ao lado do campo.”

Um ringue?

“Um ringue de boxe. Ficamos todos a olhar uns para os outros. Estava tudo montado para o treino, os pinos, os cones, tudo no seu sítio, e ao fundo do campo estava um ringue de boxe. O mister chega, ‘bom dia’ e tal, ‘o treino vai ser isto e isto, vamos fazer isto’ e depois muito sério diz: ‘Aquele ringue ali ao fundo é para quando vocês quiserem andar à porrada. Não há problema nenhum. Vocês querem andar à porrada porque se chatearam num exercício? Os dois que se chatearam saem, não prejudicam o exercício nem os vossos colegas, vão ali para o ringue e matem-se, se quiserem. Quando acabarem, podem voltar para o exercício. Não me f… é o treino’.”

Genial [risos].

“A malta ali caiu tudo a rir. Ele podia ter chegado e dado uma dura, mas foi muito mais criativo e desanuviou o ambiente. ‘Vocês querem andar à porrada, não precisam de dizer nada, é só sair. Mas não me parem o exercício. Quando estiverem todos negros, cheios de sangue e quiserem voltar, voltam’. Foi brutal. O pessoal todo a rir, foi espetacular. Mas ele sempre foi um grande gestor de homens, muito frontal, verdadeiro, quando havia algum problema falava à frente de todos.”

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