O jornal norte-americano New York Times (NYT) destacou o sorteio de um juiz que se assumiu “adepto” do Benfica para o processo de Rui Pinto, “o hacker que revelou os segredos” do clube encarnado.
A publicação, uma das mais reputadas e com maior circulação nos EUA, apresenta o Benfica como “o maior clube de Portugal” e destaca o facto de altas figuras da justiça e do poder marcarem regularmente presença no Estádio da Luz.
“O Benfica refere com frequência que tem como adeptos mais de metade da população de Portugal e juízes, procuradores, oficiais da polícia e até o primeiro-ministro são convidados habituais”, salientou o NYT.
A partir desta introdução, o jornal abordou o sorteio do juiz Paulo Registo, assumidamente “adepto” do Benfica, para o processo Football Leaks, que tem como arguido Rui Pinto, apresentado pelo NYT como “o hacker que revelou os segredos” do clube encarnado.
Rui Pinto “irritou os adeptos” do Benfica e agora “vai ser julgado por um deles”, realçou o jornal, chegando mesmo a puxar a expressão para título.
Para saber “o que acontece quando os adeptos são autorizados a julgar casos que envolvem os interesses do clube” o NYT questionou Francisco Teixeira da Mota, um dos advogados de Rui Pinto.
“É claro que preferíamos alguém que não estivesse ligado ao Benfica”, reagiu o advogado, que à imprensa nacional tinha dito estar “muito preocupado” com a indicação do juiz Paulo Registo para o processo.
“O clube de Lisboa é o maior dos três mais importantes de Portugal, um colosso desportivo e mediático cuja influência se estende por praticamente todos os níveis da vida diária no país”, descreveu o jornal.
Com adeptos “em posições de poder” em todos os setores da sociedade, “dos media à banca passando pelo Governo”, o Benfica tem “um poder que, segundo os críticos, ultrapassa em muito o campo de futebol, sendo por isso apelidado por alguns de ‘polvo'”, reforçou o NYT.
Entre esses críticos é citado o caso de Ana Gomes, ativista contra a corrupção e antiga eurodeputada, que por várias vezes apontou publicamente o dedo a controvérsias envolvendo o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, a quem tratou mesmo por “delinquente”.
No caso do sorteio do juiz Paulo Registo para o julgamento de Rui Pinto, Ana Gomes foi das primeiras a reagir, lembrando que o magistrado também faz parte do processo E-Toupeira, cujo principal arguido é o ex-assessor jurídico da SAD encarnada, Paulo Gonçalves.
“A captura de um Estado é feita através de pessoas em altas posições e é claro que um dos pilares fundamentais é o sistema de justiça. Quando temos juízes capturados, ou que não se importam de serem vistos como capturados, temos um problema”, declarou Ana Gomes à publicação norte-americana.
O artigo do NYT termina com a referência ao pedido de escusa do processo Football Leaks apresentado pelo juiz Paulo Registo, ainda a ser apreciado pelo Tribunal da Relação de Lisboa.
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