Escrito por: Duarte Pernes
Quando um clube opta por fazer uma alteração no seu comando técnico está, por maiores que até possam ser as semelhanças do novo treinador com o seu antecessor, a adoptar uma nova filosofia de jogo, um novo estilo de liderança e, sobretudo, uma identidade diferente (independentemente do adn próprio que cada emblema vá preservando ao longo do tempo). No futebol actual não acredito que, para o bem ou para o mal, os resultados de uma equipa se possam dissociar do seu treinador. Há conjunturas (e estruturas) que podem propiciar o sucesso mais do que outras, que podem ser mais ou menos favoráveis e, claro, sem plantéis com garantias mínimas torna-se difícil alcançar os desígnios ambicionados. Porém, reside nos treinadores uma parte fulcral da preparação dos jogadores e na reacção às imprevisibilidades próprias de um jogo de futebol.
Serve o primeiro parágrafo de mote para que passe a discorrer um pouco sobre a actualidade do FC Porto, depois de alguns meses de interregno motivados pelo defeso. A substituição das ideias de Vítor Pereira pelas de Paulo Fonseca não se fez de um modo abrupto, o que é um ponto a favor do homem que levou o Paços de Ferreira ao notável terceiro lugar do ano transato. Paulo Fonseca teve a inteligência e humildade suficientes para, no imediato, não mexer de cima a baixo em dois anos de um modelo de jogo que, por muito que se pudesse discordar (e eu discordei bastante e, muitas vezes, veementemente), estava bem assimilado e enraizado pelo plantel portista. As alterações são notórias aqui e ali, mas as modificações mais estruturais e de ruptura com o passado estão a dar-se paulatinamente e não, como referi, de uma forma repentina.
Mas, com apenas alguns meses de trabalho e só três jogos oficiais disputados, o que é que já é possível notar em relação aos últimos dois anos? Pois bem, este FC Porto é muito mais vertical e objectivo. No processo ofensivo, os azuis e brancos estão apenas focados em chegar à baliza rapidamente e em gerar desequilíbrios nas defesas contrárias. Não existe uma quase obsessão pela posse da bola, sem que tal signifique ao mesmo tempo que esta seja descurada. Ao contrário do que sucedia anteriormente, os campeões nacionais aparecem agora com muito mais frequência e com muito mais gente na grande área, o que gera a tal instabilidade nas defensivas adversárias. Danilo e Alex Sandro parecem, no presente, gozar de maior liberdade de acção em terrenos mais avançados; Lucho está solto lá na frente; Jackson tem em Licá um excelente parceiro de área; Josué regressa a casa com os predicados que já lhe eram reconhecidos e é fundamental precisamente para a verticalidade de jogo que Paulo Fonseca aprecia. É, portanto, ofensivamente que as diferenças são mais notórias e a juntar a todos estes ingredientes ainda há Quintero (que certamente merecerá total destaque numa futura crónica minha, por isso guardo as palavras por agora).
Não obstante as melhorias verificadas na frente, as transições ataque/defesa têm deixado desconfiados os adeptos dos dragões. Durante a pré-época, ficou a sensação de haver alguma descoordenação (motivada talvez pela falta de entrosamento no papel de duplo pivot entre Fernando e Defour) quando a equipa perdia a bola e era apanhada em contrapé. Uma impressão que seria confirmada no jogo em Setúbal, na primeira jornada, mas que aparentemente terá sido debelada entretanto. Isto porque a vitória no segundo encontro do campeonato serviu não só para confirmar a qualidade atacante do FCP como acalmou as dúvidas sobre a sua solidez defensiva. Sabendo ainda para mais que a outra equipa – o Marítimo – faz das transições a sua principal arma, é de realçar o facto da baliza de Helton ter permanecido livre de qualquer ameaça durante os noventa minutos.
Para o futuro próximo, fica a questão sobre o que valerá o FC Porto versão 2013/2014 em termos europeus e se este aparente 4x2x3x1 de pendor ofensivo resistirá a oponentes com outros argumentos. É uma pergunta a que só mesmo o tempo poderá responder e, como não sofro por antecipação e de futurologias gosto pouco, prefiro esperar com a satisfação de o fazer confiante e sem o nervoso miudinho que, por esta altura, vai pairando noutros locais.