1. Este artigo vem no seguimento do coro que vaias que se ouviu após a publicação do último Relatório e Contas do F.C.Porto. Ora, o principal óbice concernia às avultadas comissões atribuídas aos empresários que mediavam as transferências dos jogadores, sendo a transferência do Danilo aquela que mais celeuma provocou. Confesso que ao princípio fiquei escandalizado, mas depois meditei com mais calma e consegui encaixar toda esta problemática. Façamos uma viagem ao passado…
Desde que acompanho com atenção o mundo da bola, tenho reparado que, ao longo dos anos, a direcção do F.C.Porto vai mudando a sua linha de orientação, embora com um objectivo comum em todos os trajectos: valorizar os jogadores e vendê-los a muito bom preço; modéstia à parte, ninguém faz isso tão bem como nós!
Ainda sou do tempo em que o Porto ia “pescar” jogadores desconhecidos a clubes pequenos e médios e fazer deles craques: são exemplos Jorge Andrade, Paulo Ferreira, Jardel, Derlei, Deco ou Maniche. Após a conquista da Champions League em 2003/2004, o paradigma mudou; o êxodo que se registou no plantel foi colmatado com a entrada de craques em ascensão como Diego, Seitaridis ou Luís Fabiano. Pagámos caro em vários sentidos: milhões de euros em vão, rendimento desportivo medíocre e zero títulos.
Há que reconhecer: foi um modelo de gestão falhado, um autêntico fiasco. Provavelmente a pior temporada realizada pelo F.C.Porto nas últimas décadas. Urgia uma mudança. Eis então que durante quatro saudosas épocas o Porto construiu uma armada sul-americana, com os argentinos Lisandro Lopez e Lucho Gonzalez a capitaneá-la. O F.C.Porto apontou baterias para o outro lado do Atlântico e, apesar dos Lucas Mareques, Léos Limas e Marianos Gonzalez desta vida, considero que foi um óptimo período para as hostes do Dragão.
E, finalmente, desde há um par de anos que o Porto está a apostar forte em jovens promessas, com a particularidade de as adquirir a peso de ouro. James, Iturbe, Mangala, Alex Sandro e Danilo – principalmente estes dois últimos – são a face mais visível deste tipo de investimento, que a médio/longo prazo devem valer mais uma competição europeia para o meu clube. Estou habituado a que o F.C.Porto ganhe interna e externamente e não ver talentos como Iturbe ou Danilo a levantar uma taça europeia será uma enorme frustração para mim.
Por conseguinte, estou certo de que os dirigentes estão cientes de todas as implicâncias. São pessoas com tarimba, muitos anos de casa e que sabem o que é melhor para o clube. Pagámos demasiado por jogadores tão jovens? Pode ser verdade, mas não há preço que pague o deleite de milhões de adeptos vendo os seus jogadores erguer um troféu europeu!
2. Tal como prometido, aqui fica a minha visão sobre os mais recentes resultados a nível desportivo: vitória frente ao Beira-Mar e empate com o Zénit e consequente afastamento da liga milionária.
A partir daquela partida fatídica com os russos, confessei para mim próprio que, a partir daquele momento, é sempre a descer. Já vi este filme em 2004/2005 e não quero criar ilusões. Não obstante a qualidade individual do plantel, a minha expectativa para esta época é nula. Sou um optimista por natureza e raramente comungo das teorias catastrofistas. No entanto, temos de ser pragmáticos: o conjunto não carbura e não vale a pena prometer títulos ou futebol de alto nível, mesmo que sejamos, em teoria, muito melhores do que os principais rivais.
Em Aveiro, pude constatar que a minha equipa tem uma garra imensa, luta galhardamente, mas faltam muitas peças na engrenagem.
Enfim, vamos ver se a pausa para Natal nos traz melhores momentos. Para além de Danilo e de um ponta-de-lança com créditos firmados, espero mesmo que o Pai Natal nos traga paz e harmonia ao balneário. Mais do que talento futebolístico, o clube necessita que os seus atletas e equipa técnica estejam focadíssimos na conquista dos objectivos que ainda restam.
Nota 1: Manchester City é o oponente europeu que se segue. Para ambos, o adversário não podia ser pior. São, definitivamente, as duas melhores equipas da competição. Ainda assim, vamos a eles!
Nota 2: Fiquei com a certeza de que Jorge Jesus não é meu leitor. Depois de ter desmontado no artigo anterior toda a fanfarrice de que padece, o Catedrático disse esta semana que a sua equipa está “no limite do óptimo”. Desisto.