Manual da Taça da Liga para incautos
Escrito por: Cláudio Moreira
O FC Porto está na final da Taça da Liga. Ou da Taça que Ninguém Liga. Ou da Taça da Cerveja. Ou da Taça Lucílio Baptista; é como quiserem. Qualquer que seja a opção mais indicada desta nomenclatura, há que dar os parabéns à equipa por atingir a final de uma competição, por mais insignificante que ela seja – curiosamente dá-se esse caso.
Todavia, o que mais me chamou a atenção sobre esta matéria foi a tentativa de rebaixamento do jornal O Benfica II, também conhecido como A Bola: súbito interesse pela Taça da Liga, escrevem eles, como se não fosse algo natural face ao precoce afastamento das competições europeias e da Taça de Portugal. No mesmo sentido, alguma blogosfera vermelha e comentadores da nossa praça vêem com estranheza a postura do FC Porto.
Imagine o leitor que que lhe é dada a oportunidade de correr quatro maratonas e que cada uma delas dá um automóvel ao vencedor: a primeira dá um Ferrari, a segunda um Porsche, a terceira um Mercedes e a quarta um Fiat Punto; se for um óptimo maratonista, habituado a ganhar Porsches e Mercedes e de vez quando um Ferrari, vai querer o Fiat para quê? Para ficar na garagem como recordação; não se esforçará tanto para o adquirir, nem lhe atribuirá tanto valor como aos outros – aliás, vai até resguardar-se nessa maratona para ir com unhas e dentes à conquista de viaturas que se coadunem com o seu estatuto.
Continuemos o exercício: e se um par de quenianos o arrumar das maratonas do Ferrari e do Mercedes? E se para ganhar o Porsche precisar que o seu directo adversário tropece na pista de tartan para o poder ultrapassar? Pois é, o Fiat Punto passa a ser visto com outros olhos. Mas dar-lhe-á um valor que ele não possui na eventualidade de o possuir? A resposta é não. Um Fiat Punto será sempre um Fiat Punto, nunca será visto como um topo de gama. Mas é melhor do que andar a pé, bem vistas as coisas. É um prémio de consolação, vá.
Portanto, extrapolando esta analogia para o tema que aqui me traz, a Taça da Liga será sempre um prémio menor, quer o FC Porto ganhe o campeonato e/ou Taça de Portugal e/ou competição europeia ou nenhum destes três. É indiferente. É um prémio pequeno que nunca servirá de tábua de salvação para uma época má. Isto no FC Porto, claro está.
Por isso, para aqueles que vêem um súbito interesse nesta competição, é melhor verem as coisas por outra perspectiva. O FC Porto não tem súbitos interesses pelas vitórias. Quer ganhar sempre, seja que título for. O problema reside no facto de uns serem mais relevantes do que outros. A questão não está no FC Porto desprezar a Taça da Liga e de repente se interessar por ela – questão falsa, como já comprovei –, está no facto de outras entidades lhe atribuírem um valor que ela não tem e nunca vai ter. Vocês sabem de quem eu estou a falar…
Nota 1: Suspeito há muito de que José Peseiro é sobrevalorizado nas suas qualidades enquanto técnico. Não consegue afastar o “Síndrome do quase” e quando tinha tudo para derrotar o fragilizado Sporting conseguiu perder. Enfrentar agora um duplo teste contra o FC Porto. Espero que a minha teoria subsista.
Nota 2: Liedson foi contratado exactamente para o quê, na óptica dos responsáveis técnicos?
Nota 3: Quando pensamos que a Benfica TV é má de mais, aparecem-nos os senhores da propaganda com a Benfica TV II, ou Bola TV para os mais distraídos. Não satisfeitos com dois canais oficiais, estreou há poucas semanas mais um canal panegírico vermelho, a Benfica TV III, popularizada como Correio da Manhã TV, que promete grandes momentos televisivos como este. Os maiores sucessos para este projecto inovador, paladino da idoneidade, que não perdeu tempo e já colocou novas escutas do Apito Dourado. As de Vieira e companhia nunca aparecem, curiosamente…
Saudações Portistas