Escrito por: Cláudio Moreira

1. Faça um pequeno exercício, distinto leitor: imagine que o último adversário da Académica vestia de azul e branco, que o Gaitán se mascarava de Varela e que em vez de Nuno Almeida era Pedro Proença a arbitrar essa partida. Pois é, não é muito difícil adivinhar o escarcéu que a imprensa desportiva iria protagonizar. As capas dos jornais variariam entre “Proença mantém FC Porto na luta com Benfica”, “Estrelinha de Proença decide no Dragão ao cair do pano” ou até “Penalty inventado aos 93’ por Proença dá a vitória ao FC Porto”. Podiam não ser estas as palavras exactas, mas estou convicto de que não iria fugir a este léxico. 

No entanto, como o adversário se chamava Sport Lisboa e Benfica, manda o manual de bons costumes redactoriais que se ressalve a frieza de Lima no momento do penalty ou a perseverança da equipa encarnada que não desistiu até alcançar o tento que lhe garantia os 3 pontos. Eu não me estaria aqui a barafustar se critério idêntico fosse tomado em relação aos pretensos benefícios que o FC Porto granjeia. Quanto isto acontece, a tónica é invariavelmente direccionada para o árbitro, omitindo-se de forma descarada outras saliências inerentes ao jogo.

Prova disso é o insuspeito Mais Futebol, que nos habituou a uma postura discreta nestas matérias, mas que também não resistiu às piadas de mau gosto. Ninguém viu o golo em fora-de-jogo do Moutinho, dizem eles. Porque não utilizaram frase semelhante para o caso que envolveu João Dias e Gaitán? Também ninguém viu o puxão do jogador benfiquista, pois não?

Portanto, uma vez mais reitero que o clima de animosidade que os adeptos rivais fomentam em relação ao FC Porto é em grande parte propiciado por uma comunicação social abjecta, comanda por gente com a espinha dobrada e que faz tábua rasa do código deontológico que jurou respeitar. Há já algum tempo que venho denunciando estas disparidades de tratamento. Aliás, no final da presente temporada tenciono publicar um artigo sobre esta temática em relação à presente época, para verificarmos a ostracização de uns e o endeusamento de outros.

 

2. Muito boa exibição do meu FC Porto frente aos malaguenhos. A meu ver, provaram-se desde logo duas coisas: que Vítor Pereira e a equipa têm estofo para estas andanças, fazendo uma óptima partida depois de bons sinais na fase de grupos, e que o Málaga não tem andamento para estas lides; embora com um plantel recheado de velhas guardas e com um grande treinador, a velha máxima do ‘não se pode fazer omeletes sem ovos’ aplica-se na perfeição a este Málaga.

Não dou, obviamente, a passagem como garantida (basta relembrar que foi este Málaga que se superiorizou ao AC Milan, que por sua vez cometeu a proeza de descer o Barcelona à Terra…), mas é líquido que o FC Porto tem argumentos de sobra para passar a segunda mão incólume, sem qualquer tipo de sobressalto. Mas lá diz o cliché futebolístico que ‘cada jogo é um jogo’ e os foguetes atiram-se quando o árbitro apitar para o final da partida.

O que mais me agradou nesta partida milionária foi a solidez defensiva evidenciada. Pedro Emanuel disse há uns dias que defender era uma arte. Olhando para o trajecto da minha equipa até hoje, conjugando o escasso número de golos que concede e a última exibição europeia, tenho de concordar. De facto, não me parece sobranceiro afirmar que o FC Porto tem um dos cinco melhores processos defensivos da Europa, fruto de uma intensa pressão no miolo, que potencia desde logo menos ameaças para a defensiva.

Depois, quem conta com intérpretes como Otamendi, Mangala, Alex Sandro e Danilo, dando-se ao luxo de remeter Maicon para o banco de suplentes, só pode esperar bons resultados. Do quarteto titular, não escondo que sinto uma particular simpatia por Alex Sandro. É um enorme futebolista, que cresce a cada dia. Vítor Pereira tem feito um trabalho tremendo na sua evolução e a qualidade das suas exibições roça a perfeição. Se perder algum do individualismo que ainda patenteia e aprender a cruzar decentemente, tornar-se-á dentro de pouco tempo no melhor lateral esquerdo do planeta.

E assim vai a vida europeia do FC Porto. Espero que em Málaga a equipa demonstre a mesma solidariedade, entrega e espírito de sacrifício e que Manuel Pellegrini coloque Isco novamente na esquerda e Júlio Baptista como condutor do jogo ofensivo. Nós agradecemos.

 

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