Helton ou Fabiano na baliza?

Escrito por: Cláudio Moreira

 

Costuma-se dizer que os avançados decidem jogos e que as defesas decidem campeonatos. Tendo a concordar com esse frase, mesmo que não haja qualquer evidência científica de que assim seja. Isto porque me parece que raramente uma equipa ganha títulos sem que tenha um processo defensivo eficaz e um guarda-redes que consiga fazer a diferença.

Lançada esta premissa, tenho para mim que o FC Porto padece destas duas qualidades: não tem um sistema defensivo como outrora teve com Vítor Pereira e muito menos tem na baliza alguém que seja capaz de dar pontos quando o resto da equipa não corresponde ao que lhe é pedido. Pelo menos por agora.

Antes de mais, ninguém honesto ou com sanidade mental em bom estado pode dizer que o Fabiano não é um bom guarda-redes. Mas também não creio que alguém possa dizer que é um guardião fabuloso. Pior: parece-me um guarda-redes incapaz de ser um pilar da equipa e de ser eficiente quando o FC Porto mais precisa dele.

Fazendo uma retrospectiva da época de Fabiano, estou em crer que ainda não sofreu nenhum golo daqueles que costumamos apelidar de frango. E até podia ter sofrido, como qualquer guardião de craveira internacional, o problema não reside aí. A meu ver, a questão prende-se com a sua eficácia – neste caso, a falta dela – nos jogos em que é chamado a intervir poucas vezes.

No fundo, Fabiano não tem a capacidade de decidir um jogo a favor da equipa. Por exemplo, na partida frente ao Marítimo, estou certo de que um grande guarda-redes teria defendido aquele remate de Gallo. Fabiano tem culpas no cartório? Não. O que não invalida que poderia ter feito mais e melhor. O mesmo raciocínio poderia ser feito no jogo contra o Benfica: novamente o FC Porto sofre dois golos nas duas únicas situações em que os vermelhos chegam à baliza; um guarda-redes com categoria teria de evitar pelo menos uma das bolas que acabaram por entrar.

E depois de uma lesão gravíssima, Helton volta às balizas e à primeira oportunidade o que faz? Dá pontos ao clube. Mesmo que não tivessem sido para o campeonato, o que é facto é que Helton deu dois pontos ao clube na Taça da Liga, mesmo contra a vontade de Cosme Machado.

E, no fundo, é isto que define um guarda-redes de classe: evitar golos dos adversários em momentos cruciais. E Helton fê-lo de forma soberba ante o Braga. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes! E poderia ter sido apenas uma. Quando a equipa precisou dele, ele evidenciou-se, foi eficaz entre os postes. No fundo mostrou o que é preciso para ser titular num clube com os objectivos do FC Porto. Mostrou que é um guardião que pode dar títulos.

Um exemplo disto mesmo é o Benfica. Enquanto Artur esteve na baliza dos vermelhos, eles não ganharam nada que se visse. Assim que Oblak ficou dono e senhor da baliza, o Benfica caminhou para uma boa época, com títulos. E agora continua com Júlio César, que uma ou outra vez já deu pontos ao Benfica. Não tantos como os árbitros, mas lá deu a sua ajudinha.

Lá fora, também há exemplos de como um guarda-redes pode ser essencial numa equipa que luta por ganhar competições. Courtois esteve na baliza do Atlético de Madrid e os colchoneros conseguiram destronar Barcelona e Real, crónicos candidatos ao título. Para além de um processo defensivo muito agressivo, as defesas de Courtois foram determinantes para o sucesso do clube. No Arsenal, Szczęsny conseguiu apenas 3 jogos sem sofrer golos em 17; nas últimas 4 partidas, foi Ospina o guarda-redes e sofreu zero golos. E haverá muitos mais casos por essa Europa fora…

O meu ponto é claro: um guarda-redes de equipa grande tem que fazer a diferença. E Fabiano não me parece o homem indicado para o lugar, reiterando a ideia de que não é nem nunca foi um mau guardião. Por isso, não me chocaria nada que Helton fosse titular até final da partida. Pouca me importa se veio de uma lesão grave. O teste em Braga para mim foi esclarecedor: é melhor guarda-redes do que Fabiano e pode perfeitamente ser decisivo contra aquelas equipas que vão poucas vezes à nossa área, ao contrário do seu companheiro. Isto para além das qualidades de liderança que possui.

Tendo em conta estas ideias, pensemos por que razão o Sporting não ganha absolutamente nada há largos anos…