Escrito por: Cláudio Moreira
Nos últimos 5 jogos, o FC Porto conseguiu averbar apenas uma vitória, tendo empatado os restantes quatro encontros, três deles para o campeonato. Tendo em consideração este momento menos bom em termos de resultados, ressalta a questão: afinal, esta é uma equipa com talento ou o processo de criação de rotinas ‘tá lento? A minha resposta a esta pergunta é a de que ambas as considerações coexistem. Ou seja, creio que o FC Porto tem um plantel recheado de talento, mas que está a demorar algum tempo a acelerar processos.
Posto isto, que ilações devemos tirar sobre o actual momento da equipa?
Em primeiro lugar, é preciso pôr os pés no chão, manter a cabeça fria e não entrar numa onda de negatividade. Já chega a nuvem negra que pairou sobre as nossas cabeças nos últimos três anos. É altura de optimismo, comedido, claro está, e reflectir sobre as circunstâncias que levaram a esta série de resultados menos positivos. Por um lado, vejamos com algum detalhe os jogos em que o FC Porto não alcançou a vitória.
Empate em Guimarães: a vitória poderia ter sido alcançada, mesmo com uma exibição paupérrima, não fosse uma noite má da equipa de arbitragem; enfim, são coisas que acontecem e hoje prejudicados, amanhã beneficiados.
Empate com o Boavista: mais uma exibição que poderia e deveria ter sido mais conseguida, mas a expulsão de Maicon conjugada com a intempérie que se abateu e o espírito batalhador e defensivo das panteras foram um cocktail fatal para aspirar aos 3 pontos; sendo a partida em casa, exigia-se mais e melhor.
Empate com o Sporting: parece-me um resultado justo face ao que se passou nos noventa minutos, embora a vitória pudesse ter sido conquistada caso a sorte (e a mestria) estivessem do lado de Tello ao cair do pano; não esteve e teoricamente empatar fora com um Sporting forte, sobretudo na primeira parte, não é um mau resultado.
Empate com Shakhtar: foi certamente uma das melhores exibições do FC Porto nesta temporada, mas as brincadeiras – uma herança pesada do ano passado de que não nos vemos livres – e o desesperante desacerto na hora de marcar penalties foram decisivos para não se obter uma vitória que assentaria muito bem; Jackson Martinez evitou males maiores.
Por outro lado, é importante sublinhar alguns aspectos inerentes à realidade do FC Porto para percebermos melhor o porquê desta pequena instabilidade:
– Chegou um camião de novos jogadores e, como acentuou o presidente Pinto da Costa em recente entrevista, houve uma ruptura total com o passado, uma autêntica revolução no plantel. Deste modo, há que dar tempo ao tempo e perceber que o sucesso não se alcança de um dia para o outro com uma mudança desta magnitude;
– Concorde-se ou não (do meu ponto de vista, não me parece positivo), Lopetegui introduziu um sistema de rotatividade no plantel desde cedo, algo que pode ter várias implicâncias. No fundo, o treinador passa a mensagem de que ninguém é titular por decreto (estarão os jogadores com mais tarimba receptivos…?), mas depois é incapaz de criar e desenvolver as rotinas que se exigem. Se persistir nesta dinâmica, poderá nunca encontrar um XI que sirva de base e lhe garanta fiabilidade.
– A inexperiência de Lopetegui, aliada ao seu parco conhecimento da realidade portuguesa, são outros factores que de alguma forma podem ser consideradas atenuantes para o que temos visto. A sua insistência na dupla Casemiro/Rúben Neves frente a equipas com um bloco ultradefensivo é exemplificativo desta descontextualização para com o panorama nacional.
Porém, como me parece bastante dedicado e metódico, tenho a plena certeza que Lopetegui irá melhorar neste e noutros aspectos e devolver ao FC Porto aquilo que ambiciona. Temos de ir passo a passo e ter em mente que não podemos ser demasiado eufóricos nos bons momentos nem entrar em pré-depressão quando as coisas não saem como nós queremos. Temos plantel suficiente para nos dar alegrias e um presidente empenhadíssimo em retomar um ciclo de vitórias. Acreditemos.
Nota 1: Ao olhar para a primeira convocatória de Fernando Santos, ressalta desde logo a ideia de que se acabaram as polémicas, os casos, as picuinhices que apenas destabilizam o seio do grupo. Podemos discordar das opções do novo seleccionador, mas só de pensar no espírito aberto e reconciliador – ao contrário do registo bélico de Scolari e Bento… – de Fernando Santos é uma lufada de ar fresco. Que a sorte esteja com ele.
Nota 2: Trezentos dias volvidos, Montzero, perdão, Montero voltou aos golos… em fora-de-jogo. Um clássico, portanto. Imaginemos por uns segundos o que seria dito e escrito se Jackson Martinez em 14 meses tivesse marcado 5 ou 6 golos em posição irregular e que durante 8 meses tivesse uma seca como a do jogador sportinguista. Com certeza não haveria servidores suficientes no mundo para aguentar tanto comunicado vindo de Alvalade. Ai, o sistema, ai, o sistema do ‘rufia’…
Facebook
Twitter
Pinterest
Instagram
YouTube
RSS