Escrito por: Cláudio Moreira
Chegados sensivelmente a meio do percurso interno, o FC Porto vê-se numa situação pouco animadora: segundo lugar, a 6 pontos do líder.
Em minha opinião, são vários os factores que conduziram a todo este desenrolar de acontecimentos. Antes de explaná-los, quero ressalvar que este distanciamento não se deve exclusivamente (nem por sombras!) à derrota caseira contra o Benfica. Se olharmos para a história do jogo, verificamos que (pelo menos) o empate não foi conseguido por mero azar, pelo que deve ser considerado um acidente de percurso. Posto isto, creio que o problema do FC Porto não se centra na derrota contra o Benfica (no máximo, agudizou-o), mas no que está para trás. Mas não só. Vejamos as razões que eu considero causadoras do impedimento do FC Porto não estar em primeiro lugar:
– Desconhecimento de Lopetegui – Antes do clássico frente ao Benfica, a frase forte da antevisão ao jogo pertenceu ao técnico portista. Disse que respeitava Jorge Jesus, mas não o conhecia. Olhando para o trajecto efectuado internamente, sou forçado a concordar. Lopetegui não conhece a raposa Jorge Jesus, como não conhece o jovem Marco Silva, como não conhece Petit e o historial caceteiro do Boavista. Como não conhece a matriz da maioria das equipas lusas – a insistência na dupla Casemiro/Rúben Neves comprova isso mesmo. Se lá por fora fomos praticamente irrepreensíveis, cá por dentro as expectativas saíram defraudadas. E muito se deve à impreparação do treinador e ao seu consequente desconhecimento da realidade portuguesa. Esperemos que atine doravante.
– Rotatividade inexplicável – É uma matéria em que tenho insistido. E pelos vistos não será a última vez em que toco nela. Estamos a caminho de 2015 e o FC Porto não tem uma dupla de centrais definida. Mais: Bruno Martins Indi não sabe ainda se é central do lado direito ou central do lado esquerdo. Mais: Marcano é titular contra o Benfica – por certo um dos jogos mais determinantes do ano – e na partida seguinte nem sequer consta da lista de convocados. Por mais que tente, não consigo arranjar explicação para estas constantes mutações. Este experimentalismo não tem dado resultados propriamente vistosos e com a forçosa rotatividade à custa da presença de Brahimi na CAN o cenário não parece animador. Como disse no ponto acima, esperemos que atine doravante.
– Incapacidade de ganhar jogos complicados – É um facto indesmentível: o FC Porto não ganhou um único jogo de dificuldade acrescida. Na Liga dos Campeões, com um grupo acessível, não ganhou qualquer jogo ao adversário mais complicado, o Shakthar; aliás, empatou ambos já perto do final com alguma sorte à mistura. Nos confrontos domésticos, empatou em Guimarães e em Alvalade, perdeu em casa com o Benfica e foi afastado da Taça de Portugal em pleno Dragão pelo Sporting. Não acho, sinceramente, que seja apenas uma coincidência. Ou um azar. Em seis jogos complicados não ganhar um vai para além do tolerável num clube como o FC Porto. É incompetência aliada ao primeiro ponto, o desconhecimento da realidade portuguesa. Uma vez mais, esperemos que este aspecto seja tido em consideração doravante, sob pena de ganharmos apenas a adversários de menor dimensão e vermos títulos por um canudo.
– Arbitragens – Não sou do tipo de pessoa que dá desculpas fáceis para justificar os fracassos. Aliás, nunca responsabilizei terceiros pela conquista dos campeonatos por parte dos rivais. Quem ganha, fá-lo com mérito. Ponto. Daí que eu rejeite liminarmente quando alguns mentecaptos atribuem os sucessos do Porto à arbitragem e/ou manipulação de resultados. Dou-lhes o mesmo valor que aos portistas que justificam os sucessos dos clubes de Lisboa com Salazar e o centralismo. Contudo, não posso deixar passar em claro o que está a acontecer nesta temporada. Se em 2012 a figuraça João Gabriel falou num ‘tributo aos árbitros’ aquando do primeiro título de Vítor Pereira, nem sei que expressão vai aplicar caso o Benfica seja campeão. Neste cenário, temo que a festa seja mudada do Marquês para as instalações da APAF, tal tem sido o benefício e consequente influência arbitral na atribuição de pontos. Tenho para mim que tanto Benfica, Sporting e FC Porto são beneficiados e prejudicados durante a época e que a qualidade do plantel é o factor decisivo na atribuição do título, mas este ano, chegados à 14ª jornada, o saldo do Benfica é desavergonhadamente positivo.
Tendo em consideração estas quatro prerrogativas, estou muito, muito céptico em relação às hipóteses do FC Porto recuperar o título de campeão. Se por um lado não consegue fazer o seu trabalho de casa nem dar prova de que está pronto para uma luta intensa, por outro, há forças que também têm tido influência directa no distanciamento de 6 pontos. A minha única réstia de esperança reside na competência do nosso Presidente Pinto da Costa e no rico plantel à disposição do treinador. Tenhamos fé, mas sem expectativas desmedidas.
Nota: O futebol foi de férias, mas Bruno de Carvalho conseguiu manter-nos bem entretidos durante este período. Nunca desilude.
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