Acabaram as dúvidas, acabaram as cismas, acabaram as ilusões. Não há volta a dar, estamos perante uma reedição da época 2004/2005 com a agravante de termos um plantel substancialmente melhor. Quando se principia uma época com Areias, Rossato, Postiga, Hugo Leal, Maciel ou César Peixoto – apesar de putativos craques em ascensão como Diego, Luís Fabiano ou Seitaridis – não se pode pensar numa temporada maravilhosa; mas quando se tem nas fileiras jogadores como Álvaro Pereira, Fernando, Moutinho, Hulk, James Rodriguez ou Guarin, que constituíram um dos melhores 11 da história do Porto, a história é completamente diferente. E já nem falo nos dois “futuros laterais da selecção brasileira” que custaram mais de 30 milhões…

O jogo de ontem frente aos multimilionários do Manchester City foi o espelho da temporada: assistimos a uma equipa amorfa, sem chama, com ambição inqualificável, com letargia para dar e vender. Os jogadores pareciam constituir uma formação das velhas guardas do exército que se junta uma vez por ano para jogar à bola e relembrar os tempos em que eram catraios. Um verdadeiro assomo de desrespeito pelo símbolo que envergam na camisola.

Podemos considerar a derrota como um resultado normal face ao poderio dos citizens, tal como seria normal o empate com ou sem golos ou uma vitória da nossa parte. Eu que sou um adepto ambicioso desloquei-me até ao estádio do Dragão sem qualquer tipo de expectativa, estava preparado para qualquer resultado. Do que eu não estava à espera era desta apatia, deste desleixo, deste descomprometimento para com uma instituição conhecida por emanar raça, crença, luta, que não desiste até ao soar do gongo.

Por conseguinte, o melhor que o Presidente Pinto da Costa tem a fazer – que fique claro que também tem responsabilidades no momento actual da equipa – é, tal como vaticinei na primeira crónica que redigi, começar a pensar na próxima temporada com intérpretes diferentes no que ao comando técnico diz respeito. Defendi Vítor Pereira e os seus adjuntos até onde pude, mas a situação actual é insustentável e não condiz em nada com o estatuto que o F.C.Porto coevo ostenta.

 

Façamos um apanhado geral do comportamento do treinador Vítor Pereira, abarcando algumas componentes essenciais:

 

Carisma:

Não é, decididamente, a pessoa mais carismática que já passou pelo banco do F.C.Porto. As conferências de imprensa são enfadonhas, monocórdicas e frouxas em termos de vocabulário, pelo que a confiança incutida no discurso é ténue e incapaz de motivar um balneário. No entanto, o carisma não é condição sine qua non para se triunfar: a título de exemplo, Leonardo Jardim e Pedro Martins parecem ter um carisma de um penedo, mas mesmo assim estão a fazer bons trabalhos nos clubes que orientam.

Relação com os adeptos:

O público do Dragão é especial e tende a acarinhar todos aqueles que merecem. Não julga tanto pelos resultados conseguidos, antes pelas atitudes em prol do F.C.Porto. Cristián Rodriguez é expoente máximo desta ideia: um jogador com índices de produtividade praticamente nulos, mas que é possivelmente o jogador mais apaparicado pelos adeptos, muito pelo seu estilo combativo. Pelo contrário, Jesualdo Ferreira conseguiu ser tricampeão, formar jogadores que renderam milhões aos cofres e nunca teve o apoio declarado da maioria da massa adepta. Vítor Pereira, por seu turno, não indicia a capacidade de trabalho do Cebola nem apresenta os resultados que Jesualdo conseguiu alcançar. Por isso, não espanta que alguns adeptos, por mais do que uma vez, fossem ao encontro da equipa ao aeroporto para pedir explicações.

Resultados:

Uma equipa vive de resultados e o F.C.Porto não é excepção. Até ver, o meu clube foi afastado categoricamente da Taça de Portugal por equipa inferior, foi afastado da Liga dos Campeões num grupo relativamente acessível, está com pé e meio fora da Liga Europa depois de uma postura displicente e está nas meias-finais da Taça da Liga, em que enfrentará fora de portas a melhor equipa deste ano. Isto é decente? Isto são resultados que se apresentem quando o treinador insiste que “somos Porto”? Muito, muito aquém daquilo que se exige numa casa habituada a ganhar.

Enfim, está mais do que visto que Vítor Pereira e sus muchachos não têm unhas para esta guitarra. Há que mudar rapidamente, ainda que agora seja tarde de mais para reverter um ciclo de derrotas que se abateu no meu clube esta temporada. No entanto, não é tarde para mudar e dar mais tempo ao sucessor na famigerada ‘Cadeira de Sonho’ – sim, é impensável que Vítor Pereira continue na próxima temporada ainda que não seja despedido até Maio.

É meu apanágio dar uma ou duas alfinetadas nos rivais. É saudável e todos devemos ter poder de encaixe para interpretar e suportar as provocações. Hoje não o vou fazer. O meu treinador, o meu presidente e os meus jogadores não merecem que eu os defenda desta vez. Merecemos ser o alvo da chacota. Até para o ano, Porto.

 

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