Tem 24 anos, carrega nas costas um apelido de peso, acaba por ser mais um daqueles jovens que ama jogar futebol e que deu um salto do Campeonato de Portugal para o escalão principal português.
Confessa que estudar não é, nem nunca foi o seu forte, confessa ainda que era aluno de tanto faz cumpria apenas os serviços mínimos obrigatórios.
Do oito, ao oitenta. Acabou por ter (quase) o melhor fim-de-semana da sua vida, marcou o seu primeiro golo pelo Beleneneses SAD, viu a sua filha nascer mas viu a sua avó falecer.
Um misto de emoções, uma vida que parece um carrossel. Uma vida complicada que toda a gente julga ser fácil mas que lá no fundo, não é.
O apelido Esgaio não gerou pressão
Repetiu-se várias vezes: o meu irmão é o meu ídolo.
O facto do irmão ter entrado no Sporting não gerou pressão.
Fica na dúvida, paira a questão: se o irmão não tivesse entrado para o futebol tão cedo, será que hoje Tiago era futebolista?
“Nunca senti pressão, cada um teve o seu trajeto, ele felizmente foi para o Sporting muito cedo, acabou por se tornar o meu exemplo de futebol.”
“Foi graças ao meu irmão que comecei a ganhar paixão pelo futebol, se ele não tivesse entrado para o futebol tão cedo talvez eu também não tivesse entrado e a minha paixão seria outra.”
Os Nazarenos e o futebol de cinco
Começou a ver os treinos do irmão, que na altura jogava futebol de cinco nos Nazarenos. Os pais perguntaram ao treinador se ele podia juntar-se à equipa do irmão… que era dois anos mais velha.
Futebol exige sacrifício.. e jogar nos escalões superiores
“Na altura nem sentia dificuldades, apenas jogava por diversão. Contudo, desde muito cedo que, quando era Sub13 e que jogava pelos iniciados. No Leiria igual. Jogava sempre no escalão superior ao meu. Lembro-me que fiz um jogo contra o meu irmão no Leiria, foi um jogo especial.”
“Quando comecei com 7/8 anos tive a certeza que queria ser jogador de futebol, não lidava muito bem com o facto de perder um jogo, nem que fosse a brincar. “

A importância da vitória e o ódio à derrota
Gosta de dar importância ao resultado jogo, não gosta de perder e no começo ainda menos.
“Quando perdia ficava muito chateado, o melhor até era não falar com ninguém, a minha maneira de reagir era mesmo essa, não falar com ninguém e ficava calado, era o meu ‘grito de revolta’. Mas depois temos que nos habituar a isso, quer queiramos quer não, porque no futebol é impossível ganhar sempre.”
Um aluno de tanto faz, o dez bastava
“Nunca fui daqueles alunos que tirasse grandes notas, só mesmo a educação física, fazia os mínimos necessários. Eu distraia-me muito facilmente, era sempre os serviços mínimos, às vezes o 50% chegava, no secundário era lutar para ter o 10, mas mesmo assim fiz o décimo-segundo ano.
Os meus pais às vezes ‘ameaçavam-me’ que me tiravam do futebol mas nunca o fizeram porque sabiam que ia ser pior para mim.”
PlayStation, séries e agora.. uma filha
Questionei quais eram os seus passatempos favoritos. Curiosamente neste momento foi onde mais tempo demorou a responder, porque tinha surgido um novo.. a sua filha.
“Gosto muito de ver filmes, séries, mas o que vejo mais é futebol e jogar PlayStation” mas confessa que cuidar da filha é “o seu novo passatempo favorito”
União Desportiva de Leiria, um histórico
“Na altura surgiu o Leiria, tinha cerca de 14 anos, estava em todos os campeonatos nacionais. O União Desportiva de Leiria é uma equipa histórica que estava na primeira divisão. Disputamos sempre o campeonato nacional. Quando era juvenil de primeiro ano jogava pelos do segundo ano e mais tarde pelos juniores. Um privilégio.”

A viragem até Vila do Conde e a aventura nas Caldas da Rainha
Uma época com sucesso, na transição para sénior, devido ao seu clube não ter uma equipa reserva, foi obrigado a encontrar um novo clube para ter oportunidade como sénior. Encontro-a mais perto de casa.
“Foi onde fiz a minha melhor época, na altura o Rio Ave não tinha equipa B mas tinha uma equipa muito forte, foi na altura da Liga Europa. Não sei onde falhei, conseguia vir todos os fins-de-semana a casa. Foram tempos duros. No ano seguinte consegui mudar-me para mais perto de casa, soube que o Caldas tinha interesse num teste e arrisquei, eles estavam no CNS, foi lá que acabei por me estrear como sénior, mas no começo nem titular era.”

Um passeio entre Belém e Torres Vedras
Chegou a Torres Vedras, impressionou, assina pelo Belenenses (na altura), regressa ao Torreense.
“O Torreense permitiu-me disputar uma fase de subida, deu-me uma grande equipa, grandes colegas, conseguimos ir longe na Taça de Portugal, algo de enorme relevância para mim. Aproveitando ainda que estava perto de Lisboa, de certa maneira deu para me mostrar mais.”
Deseja a subida da equipa de Torres Vedras
Tem um desejo e um pedido ao seu antigo clube que o recebeu tão bem: o primeiro é a subida o segundo é que os adeptos não abandonem o barco.
“Não sei se vai ser já esta época o que espero que sim, mas o campeonato nacional é muito competitivo, aos adeptos peço que não parem de apoiar o Torreense, eles são incansáveis.”

Belenenses contra Belenenses SAD
Uma questão que ainda dá muito que falar e certamente não vai ser esquecida. Novo emblema, novo nome, assim foi exigido e de certa maneira surge uma nova equipa.
“Sabemos que estamos a representar o Belenenses SAD e acreditamos todos no projeto, com o trabalho que tem sido desenvolvido pelo Presidente e a sua Administração juntamente com o nosso trabalho haverá sucesso de certeza.”
A aposta no Campeonato de Portugal
“No Campeonato de Portugal há muito talento escondido, não tens noção, é uma questão de ir verem os jogos. Há lá muito talento para estar em patamares superiores. O Campeonato de Portugal é uma porta de lançamento. Na minha equipa temos também o Kikas, que esteve lá a brilhar pelo Benfica de Castelo Branco.”
O hipotético Beleneses SAD europeu
Questionado sobre até onde o Belenenses SAD poderia ir no campeonato apesar da partida em falso no campeonato, Tiago Esgaio não esconde uma ambição mas sempre lúcido.
“Um Belenenses SAD europeu? Porque não? Sabemos como é este mundo do futebol, mas é pensar jogo a jogo”

O mau começo dos azuis
Não dramatiza o mau começo. O seu clube conta com quatro derrotas, dois empates e uma vitória, somando assim cinco pontos em vinte e um pontos possíveis. Relativamente à chicotada psicológica de Silas prefere não comentar.
“O campeonato começou agora, estas ligas são longas, a nossa qualidade está vincada e é a única certeza que tenho. Já relativamente ao despedimento do nosso antigo treinador prefiro não falar, não me compete a mim fazê-lo.”
Perdeu e ganhou contra o Famalicão
Considera a derrota um resultado injusto, o Belenenses SAD pecou na finalização, capítulo onde os famalicenses foram implacáveis.
“Como pudeste ver fomos a casa do primeiro classificado onde estivemos a ganhar por um zero, o resultado foi injusto, eles foram eficazes, nós não. Tivemos o jogo praticamente controlado, mas fizemos uma boa réplica perante o líder. Consegui estrear-me a titular e a marcar pelo Belenenses SAD. Um motivo de orgulho.”

Um sábado… diferente dos outros
Estava descansado de manhã, era mais um sábado normal, um dia de jogo como tantos outros até receber um telefonema que ninguém gosta de receber.
“Estava descansado até que me ligaram, um daqueles telefonemas que ninguém gostar de receber. A minha avó tinha falecido, era uma segunda mãe para mim, agora sei que é mais uma estrela para mim.
Do oito ao oitenta em poucas horas
Poucas horas depois do sucedido, outro telefonema: a sua filha ia nascer. Horas depois da triste notícia.
“Nesse dia, a minha mulher tinha ido para o hospital, era dia de jogo, chamei o diretor porque queria assistir ao parto, para ver as opções que havia. Ele disse-me que ia ser titular e eu garanti-lhe então que ia jogar. Uma hora antes do jogo a maior notícia da minha vida. Queria dedicar-lhe um golo, tive essa sorte. Tive o maior golo da minha vida, dentro e fora do campo.”
A cumplicidade com Ricardo Esgaio
Diz não viver à sombra de Ricardo Esgaio, diz que o irmão é um orgulho e um grande exemplo, um ídolo.
“Ele é o meu ídolo, penso que nunca pode haver comparações entre mim e ele sobretudo porque jogamos em posições diferentes, não vivo na sombra dele porque cada um tem o seu trajeto, tenho orgulho nele.”