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Entrevista a Pedro Lagoa – “É díficil de dizer adeus, foram 12 anos na cidade de Coimbra”

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Não fecha a porta ao futebol português mas confessa que é na Bulgária que se sente bem neste momento. A paixão por Coimbra e pela Académica é inegável e relembra com carinho o tempo que lá esteve. Hoje na Bulgária, já se estreou a marcar em terras balcãs, venceu o crónico campeão na sua estreia e está pronto para o que der e vier.

Depois de 12 anos em Coimbra, sem espaço na equipa de César Peixoto, então treinador da Académica e após um empréstimo ao Anadia, viu um dos seus sonhos tornar-se realidade: sair do país e jogar noutro campeonato europeu. Hoje com 23 anos, Pedro Lagoa joga ao serviço do Botev Vratsa e já leva dois golos no campeonato búlgaro.

O fim de 12 anos de Académica ao peito

Com 12 anos de Académica ao peito, é sempre difícil dizer adeus a um clube que nos diz tanto. Qual foi a sensação de saíres de Coimbra?

“É díficil de dizer adeus, foram 12 anos na cidade de Coimbra é sempre algo que nos marca para a vida, é díficil de largar uma cidade tão histórica e que nos marca tanto pela história do clube, eu como também estive na faculdade, marcou-me como estudante e como atleta, no entanto, chegou um certo ponto em que fazia sentido ter outra experiência, ter outro clube, algo diferente, e ao fim de 12 anos tive que dar esse passo.”

O amargo na boca

Não nega, ficou triste de não ter tido mais oportunidades na Académica.

“De pequenino que sou da Académica e a partir do momento que entrei no clube o meu sonho era jogar na equipa principal. Realizei várias temporadas pela Briosa e fiz vários jogos oficiais. De facto, nós jovens e sendo da formação ao entrar no plantel principal, para conseguirmos “garantir” um lugar que nos permita jogar com regularidade, precisamos de mais tempo para acabarmos por ser tão valorizados como por exemplo um jogador jovem que venha do estrangeiro. Por isso sim, fica um amargo na boca e na vida, pois gostaria de ter conseguido mais oportunidades de representar o meu clube de coração.”

A Académica OAF, SF e o Anadia

Uma sequência de rotações entre a OAF e a SF e mais tarde um empréstimo ao Anadia, era necessário para a tua carreira como futebolista?

“Vejamos, eu não estando a ter o meu espaço na Académica e a jogar pela secção de futebol era difícil existir uma mudança de clube para um patamar de Primeira Liga , Segunda Liga ou até mesmo para um clube estrangeiro para estar dentro de um projeto que eu ambicionava para a minha carreira. Com a idade com que eu tinha, precisava de ter minutos jogados, mostrar o meu valor e foi quando decidi dar um passo atrás e aceitar o projeto ambicioso que o FC Anadia me apresentou para dar novamente 2 passos à frente na minha carreira. Após 6 meses de trevo ao peito, consegui uma oportunidade no estrangeiro, na Bulgária, que mudou por completo a minha carreira futebolística. Portanto, posso afirmar que tal processo era necessário acontecer na minha carreira.”

A época 2020/2021… da Académica

Se a época a nível individual lhe corre bem, a equipa de coração também está a fazer uma excelente época, a equipa de Coimbra é líder isolada da Segunda Liga e Pedro Lagoa confessa que acha que é desta que os estudantes sobem à primeira liga mas que para isso é preciso ter a lição bem estudada.

“O futebol é algo incerto e mais falando de uma Segunda Liga Portuguesa onde tanto estamos nos lugares cimeiros, como após um mau resultado recaímos vários lugares, tudo é possível. A Académica tem feito uma época de invejar e apresenta um futebol de muita qualidade. Sempre que posso assisto ao jogos e posso afirmar claramente, que o treinador Rui Borges e a equipa técnica estão a fazer um trabalho excelente e o plantel está a responder da melhor maneira possível. Espero que este seja o ano do clube do meu coração, será um marco histórico para o clube, para a cidade, para os adeptos (que tanto merecem) e quero puder festejar como se fizesse parte do plantel.”

A influência de António Lagoa

Na despedida da Académica, nas redes sociais, agradeceste a muitas pessoas, especialmente a uma, ao teu pai. Sentes que foi o pilar da tua carreira desportiva?

“O meu pai foi um dos grandes pilares dentro da minha família para eu ter sucesso na minha carreira desportiva. Ele sempre me acompanhou desde pequenino para todo o lado, foi o meu primeiro treinador no Cabaços Sport Clube até me ter mudado para o Alvaiázere (curiosamente clube rival) e quando fiz a grande mudança na minha carreira futebolística ao ingressar na Académica umas das grandes marcas que tenho, entre tantos momentos que passamos juntos, foram as viagem de Cabaços – Coimbra – Cabaços 5/6 vezes por semana durante um período de 4 anos seguidos. Na altura ainda não existia autoestrada e a viagem demorava sempre no mínimo uns cinquenta minutos ou por vezes mais, devido a ser hora de ponta em Coimbra e chegávamos a casa por volta das 23h todas as noites. Esta é uma das grandes marcas entre os dois que tenho guardada com muito carinho, pois, o meu pai tinha a profissão dele, os compromissos dele e sempre me colocou em primeiro plano para que não faltasse a um treino e estivesse sempre a horas.”

Pedro Lagoa com o seu pai, António Lagoa

A realidade e a transparência no Etar

“No Etar, após o começo da pandemia, nós jogadores, não sabiamos como iria afetar o clube e o futebol no geral. O clube acabou por ser afetado, como tantos outros clubes no mundo inteiro, e isso fez com que houvesse mudanças internas e no plantel. Uma delas foi que não iam existir jogadores estrangeiros a jogar no plantel até ao final daquela época.”

Mas devido a uma questão financeira ou por uma questão cultural? Há clubes e ligas que não permitem estrangeiros é o caso?

“Sinto que é um misto de ambos, a questão financeira e a mudança da administração.”

O frio e adaptação à Bulgária

“Quando assinei com o Etar, viajei primeiramente para a Turquia, pois era onde a equipa estava a fazer o estágio de pré-temporada. Fui muito bem recebido por parte de todos e tudo estava de acordo com o que tinha sido falado antes de ingressar no clube. Ao chegar pela primeira vez na cidade de Tarnovo, passado uma/duas semanas começou a nevar e aí o verdadeiro frio fez-se notar, comecei logo a sentir saudades das temperaturas portuguesas (risos). Para treinar e jogar, tinha sempre que usar um creme quente nos dedos dos pés para conseguir sentir a bola, mas após uns tempos no país acabamos por nos começar a habituar a estas temperaturas.”

“Neste fim‑de‑semana no jogo contra o Beroe que jogamos no sábado estavam temperaturas negativas, -8/-9ºC, no dia seguinte a cidade estava coberta de neve. Se o jogo tivesse ocorrido no domingo já não podíamos jogar.”

“Há uma pausa de inverno nos campeonatos búlgaros, os clubes daqui costumam ir para a Turquia fazer a pré-época, porque aqui é complicado. Este ano não deu devido à pandemia, tivemos que treinar em pavilhões devido às baixas temperaturas.”

“No começo, onde senti mais dificuldades foi com a língua búlgara. Idioma novo, o clube não tinha o tradutor nem quem nos desse aulas. Fui tentando sempre aprender o máximo com o que os meus colegas me ensinavam e em casa sozinho. No Botev Vratsa, acabo por ter mais estrangeiros dentro do plantel, o que facilita a minha comunicação.”

No balneário comunicam como? Já que 85% da equipa é búlgara?

“Hoje em dia, eu já consigo comunicar um pouco em búlgaro, apesar de haver palavras e diálogos que muitas vezes tenho que usar o inglês ou até mesmo o tradutor. Dentro de campo, como sabemos, o futebol é universal e acabamos todos por nos entender.”

Uma estreia de sonho e o quão o destino é letal

Uma estreia pelo Botev em grande: vitória sobre o crónico campeão em título, o Ludogorets por 3-1. Uma estreia de sonho?

“Foi a melhor estreia possível para mim a nível pessoal e para a equipa do Botev. Estar dentro de campo, fazer a partida quase completa e ter influência sobre o resultado final sobre o atual líder há mais de 10 anos consecutivos na Liga Búlgara, posso afirmar que foi dia o dia mais inesquecível na minha carreira.”

Quis o destino que o teu primeiro golo pelo Botev… fosse contra o Etar Varnovo. Estava escrito que teria que ser assim? 

“Quando se joga contra uma antiga equipa, o jogo só por si já se torna especial. O facto de ter feito o meu primeiro golo na liga búlgara e contra o Etar ainda o tornou mais. Falou-se muito antes da partida acontecer, entre amigos e família, se seria neste jogo que me iria estrear a marcar com a camisola do Botev. Coincidência ou não, felizmente para mim ele apareceu. Acabei por festejar por ser o primeiro e tão especial, estou imensamente grato ao clube por todos os momentos que passei lá, no entanto, no momento após o golo o festejo aconteceu naturalmente.”

A luta pela Europa

O campeonato da Bulgária divide-se em três partes: a fase de apuramento para a Champions League (do 1º ao 6º classificado), para a Liga Europa (do 7º ao 10º classificado), e o grupo da despromoção (11º ao 14º classificado). Atualmente, o Botev ocupa a última posição do grupo de apuramento da Liga Europa com 15 pontos no 11º posto.

Apesar da competitivade da liga búlgara, o vosso objetivo passa por lutar pela Europa?

“O objetivo era claro no início da temporada. O objetivo passava por afirmarmos-nos entre os 6 primeiros classificados. Essa meta ainda é possível de se realizar até ao momento. Não alcançando esse objetivo, a equipa irá lutar pelo 7º lugar para disputar a Liga Europa.”

Uma má fase e uma derrota ao cair do pano

Apesar de uma sequência menos boa e do campeonato ter recomeçado este fim-de-semana com uma derrota inglória, um golo anulado a favor e o golo da derrota, de forma artística nos descontos. Como se moraliza um balneário?

“O nosso grupo é bastante forte e sempre que sofremos uma derrota, sabemos e temos reagido bem no jogo seguinte. Os resultados positivos nem sempre aparecem e é nesses momentos que temos que nos manter ainda mais unidos enquanto grupo, trabalhar mais e melhor do que nas semanas passadas e analisar onde falhamos para melhorar e não voltar a acontecer. É assim que nos tornamos ainda mais fortes, o que nos coloca mais próximo da vitória no jogo seguinte.”

O valor do jogador português

Sentes que só se dá valor ao jogador português quando eles saem do país?

“Sinto que se dá mais valor ao jogadores português quando saímos fora do nosso país. É a realidade de hoje em dia, leva-nos a ter que sair durante alguns anos para um outro país, por falta de oportunidades dentro do nosso. Levo isso de forma positiva, pois acabamos por conhecer novas culturas e faz-nos crescer enquanto jogadores e pessoas. Muitos jogadores acabam mesmo por não regressar, enquanto que os que regressam muitas das vezes voltam com um leque de escolhas bastante elevado.”

Sentes que estás a ganhar visibilidade necessária para regressar em grande?

“Eu gosto de aproveitar o presente, sem pensar muito no dia de amanhã. Está está a ser a minha melhor época desde que sou profissional de futebol e quero aproveitar até ao fim. Tenho acumulado muitos minutos de jogo, sou um pessoa influente dentro de campo e já conto com 1 assistência, influência direta em muitos golos e ainda marquei dois golos. Aparecendo uma proposta de regresso a Portugal, certamente será analisada e fazendo sentido para mim, regressarei para o meu país.”

Made in Coimbra

Em Coimbra, nos júniores e na equipa principal tiveste oportunidade de jogar com jogadores que a Académica tem orgulho de dizer que passaram pelos seus escalões mais jovens, por exemplo, André Vidigal. O que te lembras do jogador que saiu para o Sittard e ainda na semana passada marcou contra o Benfica na Taça de Portugal?

“O Vidigal é craque. É um jogador diferenciado e irreverente, é rápido e gosta de partir para cima dos jogadores. Quando o fazia, conseguia quebrar um defesa por completo e acabava por dar em golo ou assistência. Como colegas sempre fomos muito próximo e ainda hoje falamos várias vezes. É impossível não estar orgulhoso do fantástico trajeto desportivo e sucesso que está a ter.”

Foi em Coimbra que ganhaste vontade de te tornar profissional?

“Desde que ingressei na Académica que comecei a ver o futebol de maneira diferente. Pelo tipo de competição em que estava inserido, pelo tipo de futebol que se praticava para o que estava habituado e por todas as condições que o clube apresentava. Joguei contra muitos jogadores que hoje estão em outros patamares, como o Rúben Neves, Diogo Jota, Renato Sanches, entre muitos outros. No segundo ano de juvenil comecei a integrar o plantel principal da Académica, o que me fez perceber ainda mais que estava no caminho certo para atingir o futebol profissional e que era o futuro pelo qual eu queria lutar. Hoje, felizmente, posso afirmar que o sou.”

Na hora da despedidaCoimbra tem mais encanto

Tu falas com grande carinho da Académica, sentes que os adeptos também tinham grande carinho por ti?

“Sim, ainda hoje recebo várias mensagens de adeptos da Académica a desejar-me boa sorte no meu percurso. Sinto esse carinho mesmo estando na Bulgária. Sou um apaixonado pela Académica e sou muito grato a todos os adeptos que tem um carinho especial por mim, pelo que faço sempre por retribuir a minha palavra com todos eles.”

A ligação ao jogador-estudante. 

“ Eu quando jogava pela Briosa era estudante universitário e sempre senti essa ligação entre o clube e a Universidade de Coimbra. Esta semana como falaste, o Traquina e o Diogo Ribeiro concluíram o curso superior de ciências do desporto. Essa ligação ainda se mantém nos dias de hoje, o que é excelente a tradição manter-se viva apesar destes anos todos. Pessoalmente, tendo a possibilidade de conciliar o futebol com os estudos fez total sentido continuar a estudar mesmo sendo atleta profissional.”

Gostavas de regressar a Coimbra um dia? 

“Sim, sem dúvida que gostaria um dia de regressar ao clube do meu coração. Foram anos lindos de losango ao peito e sinto um carinho enorme pelo clube. Se fizer sentido para ambos, quem sabe um dia volte a vestir a camisola da Académica.”

Na primeira liga de preferência? 

“Claramente que sim. Tenho a certeza que o regresso da briosa à primeira liga, lugar onde pertence, está para muito breve.”

 

 

 

 

 

 

 

 

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