Chegou do Brasil desconhecido, acaba a temporada como um dos melhores “goleiros” do nosso campeonato e é ainda o guarda-redes com mais defesas efetuadas na Liga NOS. Veio por empréstimo e cedo o Moreirense viu que tinha que investir em Pasinato para garantir uma das suas mais valias. Agora de volta ao trabalho com a turma de Moreira de Cónegos, Pasinato concedeu-nos uma entrevista na primeira pessoa onde relata a sua infância, algumas das voltas que a sua vida deu, o infeliz acidente da Chapecoense e a atual época ao serviço do Moreirense.

A vontade e a dificuldade para começar

“Uma infância perfeitamente normal” ou quase isso. O sonho desde muito cedo era ser guarda-redes profissional, mas havia um problema, a distância.

“A minha história com o futebol começa muito cedo, sempre morei muito afastado do centro da cidade, morava numa vila, mas desde dos 4 anos que o meu sonho era ser guarda-redes profissional e eu tive sempre oportunidade de jogar com os meus pais mas era muito difícil. Na altura, as primeiras escolinhas de futebol eram todas muitas longe, muitas vezes a minha refeição era apenas um pequeno lanche que eu comia durante o caminho. Eu sai um pouco tarde de Concórdia para começar a jogar futebol, mas eu tinha o sonho de ser jogador profissional. Quando finalmente fui para uma escola de futebol eles já tinham um guarda-redes titular mas o meu pai insistiu, nem que fosse apenas para treinar, nem que fosse para não jogar, apenas para treinar. A verdade é que acabei por me destacar e foi aí que a minha carreira começou.”

A importância do futebol de São Paulo

Tu jogaste em vários clubes de São Paulo, como o Rio Preto, o Desportivo Brasil, o Olímpia, o Rio-Branco, era importante começares a ganhar espaço no futebol brasileiro?

“O começo é sempre difícil. Todos gostamos de jogar em grandes equipas mas quando não existem oportunidades temos que procurar soluções e a solução foi mudar-me para São Paulo, que tem muitas equipas e saem de lá grandes jogadores, uma equipa pequena do interior. Muitas das equipas acabam apenas por ter apenas os estaduais para se mostrar e então os jogadores dão o máximo todos os jogos para se mostrarem. Foi o que aconteceu comigo, estive em boa forma e abriu as minhas portas para a Europa.”

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O héroi de Piracicaba

Foi no XV Piracicaba que acabou por ganhar destaque em 2016 vencendo a Copa Paulista 2016 defendendo dois penaltis na grande final frente ao Ferroviária.

O herói do “Quinze”?

“Foi no XV de Piracicaba que me afirmei. Foi lá que tive a transição de promessa para a realidade, foi lá que comecei a jogar nos séniores, tive lá quatro anos e meio, fiz mais de 100 jogos, consegui ser campeão inédito com eles na Copa Paulista com eles e foi um sonho tornado realidade, tenho apartamento lá ainda, tenho um grande carinho pelo clube.”

Uma lotaria chamada “grandes penalidades”

Afinal, as grandes penalidades é sorte ou estudo?

“Os penaltis são uma junção de todos os fatores, imagina que treinas um batedor de uma forma e ele no dia faz o contrário. Precisas de sorte, nós vamos nas probabilidades, tem que ser assim, por norma atiramos sempre para onde eles estão habituados a marcar, mas é o instinto que decide na altura, e muitas das vezes é isso que importa e corre bem.”

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A posição injustiçada e mudança para a Série B

“A nossa posição é totalmente diferente das outras, exige muito mais responsabilidade, não podemos errar, é muita pressão, seja num cruzamento, numa construção de jogo. Podemos ficar marcados por um golo onde tomamos uma má decisão e sofremos. Não podemos ficar marcados por causa de um jogo quando corre bem e claro, o inverso, não podemos festejar muito quando um jogo nos corre bem, temos que ter uma linha de raciocínio homogénea para entendermos todas as situações. No Piracicaba eu joguei a 4ª divisão brasileira, a Série D em 2017 e no ano seguinte, no Vila Nova, é um clube com história no Brasil e com muitos adeptos, eu tinha-me preparado, estávamos na Série B, ou seja, a segunda divisão e desde muito cedo que me consegui afirmar, fiz mais de 40 jogos nessa época, ser destaque, mas faz tudo parte do foco e da preparação antes de lá chegar.”

A história do contrato branco e uma assinatura falsa

“A história do contrato branco era até muito comum na equipa onde eu estava, eu já deixei muito claro, foi no Rio Preto, não foi com a diretoria que lá está agora, foi com uma anterior. Eu fui disputar a Copa de São Paulo, onde nos obrigaram que se queríamos jogar a Copa tínhamos que assinar um contrato em branco, ou seja, sem valores, sem dados, sem tempo de contrato, apenas com a nossa assinatura. Nós fomos à Copa de São Paulo e não me deixaram jogar, acabei por ir para outra equipa por empréstimo, nessa outra equipa eu cheguei mas faltava o meu pai assinar porque eu era menor, tínhamos que fazer tudo dentro da lei, mas isso não tinha acontecido no Rio Preto.”

E como foi o regresso ao Rio Preto?

“Passado dois anos de empréstimo eu voltei ao Rio Preto, quando vi o contrato, reparei que tinham falsificado a assinatura do meu pai, ou seja, os meus primeiros contratos foram com a assinatura do meu pai falsificada. Eu tinha noção que queria ser profissional então tinha que trabalhar para conseguir ir para outra equipa e as coisas acabaram por acontecer.”

O acidente de avião da Chapecoense

“Eu sou de Concórdia, a segunda maior cidade de Santa Catarina, logo a seguir a Chapecó. Nós tínhamos sido campeões no sábado e o acidente foi logo depois, tínhamos estado a festejar a noite toda e no dia seguinte acordamos com esse acidente, com essa notícia horrível. Eu tinha um amigo, o Tiaguinho, que tinha sabido nessa semana ou na anterior que ia ser pai, era um amigo próximo, tínhamos jogado no Piracicaba. O acidente abalou a cidade de Chapecó, a cidade de Concórdia, ficou toda a gente abalada com a situação.”

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A mudança para o futebol português

“Eu sabia que a minha chegada a Portugal ia haver todo aquele período de adaptação, que ia haver mudanças drásticas, outras nem tantas como nas questões táticas e técnicas. Eu vim preparado para essa oportunidade, eu tinha traçado como objetivo afirmar-me cá desde que eu tinha tirado a minha cidadania italiana. As coisas correram muito bem, melhor do que eu tinha imaginado, fizemos uma grande época e essa afirmação foi fruto do trabalho, de como eu vim com a mente aberta, ouvi o que o “mister” falava e os treinadores de guarda-redes, então não sofri tanto. Relativamente à estatística de ser o guarda-redes com mais defesas, foi muito bom particularmente, mas temos que falar do esforço de toda a equipa, um campeonato muito bom, histórico, para o Moreirense, a segunda melhor classificação da história do clube, isso é que tem que ser enaltecido.”

A possível transferência para o Sporting

Falou-se numa possível mudança para o Sporting a meio da época, surgiu essa proposta?

“No final de 2019 falou-se nessa possível transferência mas não surgiu nada em concreto, pelo menos até ao momento. Fico feliz pelo reconhecimento pelo trabalho que temos feito, é o nosso objetivo, honrar as cores da camisola que vestimos mas alcançar clubes melhores, clubes de Champions League, da Liga Europa, querer sempre mais sempre honrando o clube onde estamos, é algo que todos os jogadores acabam por ter em comum.”

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A maior venda do Piracicaba e a quarentena em Portugal

Como te sentes ao saber que acabaste por ser “a maior venda” do XV de Piracicaba?

“É importante pelos números, para o clube e pra mim também. Mas é algo que levo com naturalidade”

Como foi a questão da quarentena para se manterem em forma?

“Na quarentena, no começo, começamos por treinar em casa, o Moreirense sempre nos deu todo o suporte com aparelhos, peso, tudo para nos manter em forma, mas é muito complicado ficar a treinar só em casa, toda a equipa sentiu bastante o facto de estar parado em casa por não estar a treinar com a devida intensidade. O tempo da ‘segunda pré-época’ foi suficiente para nos recuperarmos bem e acabarmos bem o campeonato.”

O recomeço do campeonato

Sempre foste a favor do recomeço do campeonato. Era importante?

“Sim, sempre fomos a favor do recomeço, sempre com os devidos cuidados, mas juntos, como eu te disse, se fizermos as coisas certas, podemos aceitar que mesmo com vírus, podemos vencer passo a passo essa questão da pandemia, não podemos deixar que a nossa vida fique estagnada, temos que regressar aos poucos.”

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A afirmação e o sonho de ouvir o hino da Champions

“O meu objetivo é afirmar-me, ir subindo, ser campeão, jogar a Champions League. É aquele nosso sonho desde menino, desde que sonhamos com os nossos pais, desde então é que sempre sonhamos em jogar a Champions. Acho que todos os jogadores pensam assim, chegar a uma grande equipa, sentir o clima e claro, comigo não é diferente, há muito trabalho pela frente e obviamente que eu vou continuar a dar tudo pelo Moreirense. Eu fiz uma época muito boa com números muitos bons, tenho muito trabalho por fazer no Moreirense sei que pode haver a possibilidade de dar um salto, mas mesmo que não surja eu tenho que estar preparado para fazer uma época seguinte tão boa como a que fiz no ano passado, esforçar-me para atingir os meus objetivos.”

 

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