Viu a sua vida mudar drasticamente na altura da crise financeira em Portugal em 2011, o seu pai acabou por optar por levâ-lo para o Luxemburgo, tinha sido chamado para participar no Torneio Lopes da Silva ao serviço da seleção do Alentejo mas viu esse seu sonho de ser mostrar em solo luso cancelado. No Luxemburgo não desistiu do seu sonho e estreou-se este ano na Champions League pelos atuais campeões Luxemburgueses, o Fola Each. Perto de adquirir a dupla-nacionalidade face aos nove anos que está no país, Diogo já teve abordagens sobre a sua dupla-nacionalidade e os De Roude Léiw podem muito bem ser o próximo passo a cumprir nesta sua caminhada.
Made in Beja
Diogo Miguel Zambujo Pimentel, tem 23 anos, nasceu em Beja mas vive no Luxemburgo há mais de 9 anos. Apesar de nascer em Beja, Diogo vivia em Ferreira do Alentejo.
“Eu comecei a jogar futebol no Figueirense com 5 ou 6 anos, depois no meu primeiro ano de infantil mudei-me para o Despertar e no meu primeiro ano de iniciados acabei por me mudar para o Luxemburgo.”
O sonho de jogar futebol e a necessidade de focar no futebol
“Eu comecei por jogar por diversão, eu era novo, eu até comecei como guarda-redes. Na equipa onde eu estava não havia guarda-redes naquela altura, a treinadora perguntou quem queria ir à baliza e como não havia ninguém que quisesse acabei por ir eu, no meu primeiro ano de futebol fui guarda-redes. No ano seguinte mudei, não gostei.”
No Despertar foi quando decidi que queria ser futebolista, se fosse possível fazer a minha vida no futebol eu ia optar por isso. Foi com António Franco, tenho grande ligação com ele, ele esteve oito anos na China voltou há pouco tempo derivado à situação do virus. Uma vez eu tinha faltado a um treino para ficar a brincar com os meus colegas a andar de bicicleta, no treino seguinte ele perguntou-me se preferia brincar com os amigos ou focar-me no futebol. Foi aí que me foquei 100% no futebol. ”

A pressão da escolha?
Um miúdo da tua idade deveria sentir a pressão de entre escolher entre o futebol e os amigos? O que sentiste quando o teu treinador te disse isso?
“Na altura em si eu não via como uma questão em termos de pressão, apenas tive que pensar duas vezes no que queria mesmo fazer e acho que foi mais nesse sentido que o treinador me perguntou isso, fez-me abrir os olhos, foi nesse momento que eu decidi que o futebol era onde me ia dedicar a cem por cento, não dá para fazer aquela vida de noite que muitos dos jovens fazem, deixei as festas com amigos de lado. Perguntavam-me se queria ir sair à noite, jantar com eles mas eu sabia que tinha jogo no dia a seguir, então tinha que dizer sempre que não.”
Sentes que foi fácil ter que abdicar de uma vida social para vingar no futebol? Como gerias esse pensamento?
“Sim, foi fácil abdicar disso. Eu estava focado no futebol, foi mesmo uma escolha fácil, não me senti obrigado a fazer essa escolha mas eu sabia que era o melhor para mim.”
A ida para o Luxemburgo
“O meu pai já estava cá há um ano, eu acabei por ir com 13 anos, em 2011. Derivado à crise financeira ele acabou por nos trazer para cá.
Na altura fiquei triste, eu ia participar no Torneio Lopes da Silva pela seleção do Alentejo. Avisei os treinadores que não podia fazer parte da seleção. Fiquei triste e chateado com o meu pai pela escolhe que ele fez, mas hoje, passado nove anos vejo que ele acabou por fazer uma escolha difícil mas certa.
Sinto que não foi uma oportunidade perdida derivado à posição onde estou, naquela altura talvez, mas neste momento sinto-me bem e não tenho como dizer se foi uma oportunidade perdida ou não.”
O regresso ao futebol em solo luxemburguês
“A primeira coisa que fiz quando cheguei ao Luxemburgo foi procurar uma equipa para poder voltar a jogar futebol, derivado à língua eu sabia que ia ser difícil e também não conhecíamos praticamente ninguém.”
Como é que encontraste clube então?
“Como eu só falava português foi difícil fazer novas amizades e encontrar clube, eu não sabia falar luxemburguês e não sabia falar francês na altura. O meu pai conhecia algumas pessoas e há aqui uma comunidade portuguesa muito grande. Uma das pessoas que o meu pai conhecia tinha um filho que jogava futebol num clube, acabei por ir a alguns treinos com ele. Acabaram por gostar de mim e acabei por ficar.”

A vantagem de ter portugueses na equipa
Na tua estreia no Luxemburgo, teres portugueses na equipa era uma vantagem?
“Como eu tinha acabado de chegar, ter portugueses na equipa era excelente, para comunicar, para perguntar algo, a língua deles era desconhecida para mim, eu era mau em francês, no início ter alguém que falasse português facilitava e muito. Na altura havia 5 ou mais que falavam português mas que como tinham nascido lá, já falavam luxemburguês, eles acabavam por traduzir para mim da melhor maneira o que o treinador dizia, no balneário, no treino.”
O começo no Jeunesse Schieren e a subida aos séniores… com 16 anos
“Eu comecei a jogar como médio, já em Portugal ainda fiz uma época de iniciados a médio onde fomos campeões. Quando cheguei cá acabei por me focar na posição de médio defensivo, de médio central. Com 16 anos, mais tarde, chamaram-me para a primeira equipa do Jeunesse Schieren. Logo no início houve um treinador que me levou para os séniores e no primeiro ano. Ele disse-me que me queria testar noutras posições, estive a extremo, a defesa central mas acabei por ficar a médio defensivo.”
A estreia na Taça Luxemburguesa
“Foi uma boa adaptação, todos os jogadores eram mais velhos que eu mas acabaram por me receber muito bem, nos séniores sentia-me bem, eu estava contente, estar na equipa sénior com 16 anos era excelente, sinto que evoluí muito rápido, mesmo durante os treinos, era muito mais difícil, teria que meter o corpo durante os treinos mesmo tendo menos corpo que eles, mesmo sendo muito mais frágil.
E como foi jogar na Taça com 16 anos?
“Eu já tinha jogado bastantes jogos com os séniores antes da estreia na Taça. Na altura jogávamos na segunda divisão (equivalente a uma hipotética quarta divisão em Portugal), fomos campeões e subimos de divisão, no ano seguinte mantive-me no Jeunesse mais um ano até fazer os 18.”
A mudança para o Etzella e mais tarde para o campeão nacional
“Quando fiz 18 anos acabei por me mudar, o Etzella tinham descido da Primeira Liga (BGL Ligue) para a Segunda Liga, era um projeto ambicioso e eu acabei por me mudar para lá, assim tinha subido mais uma divisão em pouco tempo. Foi mais um passo em frente na minha carreira, eu jogava na terceira, passei para a segunda, foi um bom clube para aprender e onde acabei por ter muitos minutos de jogo, tive oportunidade de fazer muitos jogos para evoluir com jogadores cheios de experiência e é o que digo, os jovens devem procurar clubes para ter minutos de jogo, para poderem errar para aprender com os erros.
Para o Fola mudei-me este ano, em 2014 eles já tinham falado comigo mas não foi para a frente porque eles pediram os direitos de formação ao Despertar e na altura eles por diversas razões, devido a alguns problemas acabou por não se concretizar. Fiz 4 anos pelo Etzella onde ganhei experiência e juntei-me este ano ao Fola Esch.”
As partidas e o fute-vólei
“Eu sou alguém divertido, quando comecei a ganhar confiança com o grupo, passado dois anos no Etzella eu já tinha mais confiança e fazíamos algumas partidas, escondiamos os boxers de alguns, noutras vezes colávamos as chuteiras com fita adesiva as chuteiras ao teto enquanto o nosso colega tomava banho no balneário. Quando eu cheguei ao Etzella não havia mesa de fute-vólei. Antes do treino e depois do treino, o treino acabava por volta das oito e meia e havia dias em que eram mais de dez e meia e nós a jogar no balneário. É fantástico poderes fazer o que mais gostas, divertires com os teus colegas da equipa, não há dinheiro que possa pagar estes momentos”
A perna partida e a quantidade baixa de jogos
“Eu tive a felicidade assinar pelo Fola, eu ao início até pensava que não iria ter clubes interessados em mim, na última época tive a infelicidade de partir a perna e apenas fiz oito jogos, depois com a recuperação, quando eu era para voltar para os séniores aconteceu isto do vírus e o campeonato parou. Tive ofertas de vários clubes do Luxemburgo e o Fola foi um deles, como já tinha assinado por eles antigamente decidi voltar a fazê-lo. O facto de eles irem jogar na Liga dos Campeões pesou bastante na hora da escolha. No Fola encontrei condições superiores à do Etzella, a nível de staff, jogadores, fisioterapeutas, enfim, a todos os níveis.”
A paixão pelo futsal e uma proposta inesperada
“Eu sempre fui apaixonado pelo futsal, mesmo em Portugal já tinha participado em alguns torneios, sempre gostei bastante as rondas finais dos campeonatos. Já no Luxemburgo, quando ainda estava no Schieren houve uma equipa de futsal que me perguntou se eu não os queria ajudar nos jogos, eu e um colega meu chamado Fábio Gaspar jogávamos no Jeunesse Schieren. Às vezes a equipa era obrigada a por os jogos às segundas para nós podermos jogar por eles. Isto aconteceu durante quase meio ano/ um ano quando num jogo me lesionei no ligamento interior direito, desde daí parei e decidi que só ia jogar futebol, mas sempre foi algo que gostei bastante, mesmo aqui no Luxemburgo fizemos uma equipa de futsal para irmos ao torneios e onde acabámos por vencer alguns torneios.”
A pressão e o crescimento do futebol luxemburguês
O facto de terem sido campeões mexe convosco?
“Como isso não mexe, eles é que foram campeões, eu cheguei este ano, o balneário é fantástico, o melhor balneário. Há uma grande entre-ajuda entre todos, mas o facto de eles terem sido campeões não mexe com a equipa.”
É difícil ser campeão no Luxemburgo? Este ano vão em quinto.
Sim, o futebol no Luxemburgo tem evoluído imenso, nos outros anos não tinha sido assim, há cada vez melhores jogadores a aparecerem no Luxemburgo e jogadores a virem jogar para cá, não é falso ser campeão. Estamos em quinto mas o campeonato é longo, tivemos um jogo difícil para a Liga Europa onde fomos muito abaixo, tivemos a ganhar por 3-1 aos noventa e fomos perder no prolongamento, mas o campeonato é longo mas vamos cumprir o objetivo que é ir à Europa.
Golo a 60 metros e um golo amargo na Liga Europa
E os golos que mais guardas memórias?
Eu não sou um jogador de fazer muitos golos (risos). Contudo, recordo-me de um golo no meu primeiro ano na BGL, há dois anos atrás, marquei um golo a 60 metros da baliza onde fiz chapéu ao guarda-redes. Vi que o guarda-redes estava adiantado, dei um passo ao lado e tentei dali e resultou. O outro foi agora na qualificação para a Liga Europa, era a minha primeira vez a jogar a qualificação na Liga Europa, já tinha jogado na Champions. Consegui marcar na Liga Europa mas perdemos infelizmente.
A estreia na Champions League
“A minha estreia na Champions foi algo que nunca vou esquecer, foi pena não ter tido adeptos no estádio, para ser sincero a nível pessoal a primeira parte não estive muito bem talvez por ser a primeira vez, não sei, confesso (risos). A segunda parte foi muito melhor, penso que as coisas poderiam ter sido diferentes se o árbitro tivesse apitado o penalty a nosso favor, poderiamos ter posto o resultado com esse penalti em 1-1 e depois tudo poderia acontecer, mas é algo que nunca vou esquecer e espero poder participar muitas mais vezes na Champions League, nem que seja nos play-offs ou até na fase de grupos. Quem sabe.”
Uma estreia amarga?
“Sim, senti isso. Fiquei triste, queriamos ter passado à próxima fase derivado a não termos passado a primeira eliminatória. ”
A reviravolta na Liga Europa e perto de um apuramento histórico
Fora da Liga dos Campeões, o Fola foi parar aos play-offs da Liga Europa onde até esteve perto de passar à próxima fase porque esteve a vencer por 3-1 até aos descontos e acabou por sofrer dois golos de grandes penalidades já para além dos noventa. Sentimento de injustiça?
“Injustiça não. Apenas que talvez tenha faltado maturidade e experiência, talvez não tenha sido o único a pensar que com 3-1 aos 90 minutos já tenhamos vencido, mas não foi assim. Sabemos que no futebol o jogo só acaba quando o árbitro apita, esse jogo vai ficar para a nossa memória, para mim, para todos os jogadores, deveríamos ter encarado o fim de jogo de outra maneira.”
O Ararat que é um mestre em reviravoltas, ou seja, uma equipa que luta sempre até ao fim.
Sim, com 3-1 aos 90’ pensava que estava ganho e é algo que não se deve fazer no futebol, custou-nos a continuidade na Liga Europa.
Agora sem competições europeias, mais tempo para lutar pelo campeonato?
“Sim, sem dúvida agora é 100% focados no campeonato, ganhar o máximo de jogos possíveis para que no fim possamos ficar em posição de ir à Europa e irmos o mais longe possível na Taça.”
A evolução do futebol luxemburguês e uma seleção muito mais forte
O facto de haver mais candidatos ao título, aumenta a competitividade o que faz aparecer uma nova “fornada” de craques nascidos no Luxemburgo formando uma seleção de mais respeito?
“Sim, cada vez há mais jogadores estrangeiros a vir para o Luxemburgo, aumentando a qualidade dos jogadores que nasceram neste país. Este ano arriscaria a dizer que há pelo menos três ou quatro candidatos ao título derivado à evolução das equipas. Tens cada vez mais jogares a saírem do Luxemburgo para outros patamares. Se fores a ver a seleção do Luxemburgo, o onze inicial nenhum jogador joga cá. Mostra que o talento existe e que é difícil de o mantar por cá.”
A dupla-nacionalidade
Já pensaste em pedir dupla nacionalidade e ser internacional? Já faz nove anos que estás no Luxemburgo.
“Sim, já cá estou há 9 anos, e estou apenas à espera de dois papéis de Portugal para poder mandar todos os papéis para poder ter a nacionalidade luxemburguesa. Relativamente à questão de me tornar internacional: já houve abordagens sobre isso. já me perguntaram se tinha a nacionalidade anteriormente, para ser sincero o meu sonho é ser jogador profissional e com o passar dos anos tenho vindo a focar-me mais sobre essa possibilidade.”