Entrevista a André Ceitil – “Às vezes é preciso dar um passo atrás para depois dar dois à frente”
Nascido a 11 de Março de 1995 na Charneca da Caparica começou a jogar à bola no clube da sua terra, o Grupo Desportivo dos Pescadores da Costa da Caparica e atualmente está a jogar no Leixões Sport Clube, já conta com duas subidas de divisão no seu currículo, ambas da CNS para a Segunda Liga, uma com o Cova da Piedade e o ano passado com o Farense.
Para os seguidores mais atentos de Football Manager é capaz que este nome não passe despercebido, em 2017 foi um dos jogadores que constou na lista que a Record divulgou dos melhores jogadores do Campeonato Prio nesse ano, o que veio a confirmar-se, dado que Ceitil agarrou a oportunidade que lhe tivera sido dada em Faro e conseguiu a subida à Segunda Liga com o Farense. O médio de 23 anos continua a querer sonhar o mais alto possível, fomos conhecer um pouco melhor as raízes deste jogador.
André, com que idade começaste a praticar futebol?
Penso que foi com apenas 7 anos, se não me engano.
E onde começaste a praticar futebol, lembras-te?
Claro que sim! Primeiro comecei a jogar na rua, com os meus vizinhos e alguns amigos da minha zona. Depois na escola e, por fim, os meus pais colocaram-me a jogar nos Pescadores da Costa da Caparica porque era o clube ao pé de nossa casa
Acabas por ir jogar para um grande do futebol português, como é que isso aconteceu?
Foi uma surpresa para mim. Após um jogo que tivemos contra o 1.º Maio, eu estava no carro do meu Mister (porque fui de boleia) e ele disse-me que estavam observadores do Benfica a ver o jogo e tinham pedido informações minhas. Nessa semana, fui chamado ao gabinete dele e ele disse-me que o Benfica tinha mostrado interesse em ter-me como jogador. Entrei em êxtase e acabei mesmo por ir.
Queres contar o que sentiste nesse momento?
Senti-me super feliz e orgulhoso porque não foi um clube qualquer, foi o Benfica que reconheceu valor em mim
Eras torcedor do Benfica naquela altura ou estavas a pensar na tua carreira profissional?
Estava a pensar na minha vida profissional, sempre fui assim.
Com que idade entraste no Benfica?
Penso que tenha sido com 9 anos, no 2.º ano de escolinhas.
Conseguiste vencer algo durante o período que representaste o Benfica?
Sim. Conquistei 2 campeonatos distritais, como capitão, e 1 campeonato nacional, de iniciado de 2.º ano.
Nesse ano tínhamos uma equipa cheia de talentos: Rony Lopes, Pedro Rebocho, Rafael Guzzo, Filipe Nascimento, Nélson Monte, entre vários outros.
Acabaste por sair do Benfica passado alguns anos, o que se passou?
Estive no Benfica durante 5 anos. Durante esses 5 anos, 4 deles joguei sempre e fui inclusive capitão. No último ano, de iniciado, acabei por não jogar tanto. A competição e a qualidade era enorme e eu na altura não estava ao mesmo nível dos meus companheiros. Acabei por ser dispensado no final do ano.
Acabas por sair para o Almada, porquê?
Tinha necessidade em jogar. Ter minutos de jogo, voltar a ter competição e decidi ir para o Almada porque sabia que ia jogar. Na altura, muitos “conhecidos” chamaram-me de maluco, que tinha passado de cavalo para burro mas, às vezes, é preciso dar um passo atrás para dar dois à frente. E, sinceramente, foi o melhor que eu fiz.
Depois tens passagens pelo Vitória Futebol Clube e pelo Rio Ave algum destes clubes te marcou?
Ambos me marcaram! São dois grandes clubes com uma grande história
Assinas pelo Cova da Piedade.
Sim. No meu primeiro ano de sénior.
Queres contar-nos como foi esse teu primeiro ano nos séniores?
Foi algo que aconteceu naturalmente. Conhecia bem o treinador principal e com o trabalho que apresentei na pré-época fui conquistando o meu espaço.
Conseguimos o objectivo da manutenção e consegui jogar muito tempo, para surpresa minha porque era o meu primeiro ano como sénior e jogava com jogadores como o Nuno Abreu, Nuno Gomes, Ricardo Aires, entre outos.
No segundo ano, o Cova da Piedade reforçou a equipa e subiram de divisão. Como te sentiste?
Senti-me feliz e realizado. Pela primeira vez no futebol tinha conquistado como sénior! Isso encheu-me de orgulho.
Em 2015 transformas-te no herói do Cova da Piedade com um golo no último lance do jogo. Queres recordar esse momento?
Foi uma sensação fantástica, das melhores que tive na vida! Nesse jogo estávamos a perder 3-0. O nosso treinador colocou-me a ponta de lança, por eu ser forte no jogo aéreo. Conseguimos empatar o jogo para 3-3 e eu continuei na frente. Estava no local certo na hora certa, a bola acabou por ficar à minha frente e eu finalizei. O jogo acabou 4-3 e passámos à eliminatória seguinte.
Contudo, a tua saída do Cova acabou por se tornar amarga, o que se passou?
Prefiro não comentar, passado é passado.
Nesse mesmo ano acabas por te mudar para o Sintrense. Não achas que estarias com capacidade de te manter na Segunda Liga? O que te fez recuar novamente para a CNS?
Na altura demorei muito tempo a definir a minha vida, fiquei à espera do Cova da Piedade e quando, por fim, as coisas não se solucionaram, todos os clubes de 2.ª liga já estavam a treinar e já tinham praticamente fechado o plantel. O facto de ter os direitos de formação por resolver não ajudou para assinar contrato profissional num clube de 1.ª ou 2.ª liga.
Contudo irias mudar-te para o Farense na época seguinte, porque optaste por escolher a equipa de Faro e não uma de segunda liga?
Porque ainda tinha mais um ano com direitos de formação, só quando fizesse 23 anos é que limpavam. E também porque o Farense tinha um projecto ambicioso e claro, a subida de divisão. Assim que me abordaram, nem pensei 2 vezes! Eu queria fazer história novamente.
História essa que foi feita, o Farense o ano passado subiu de divisão.
Sim. Só nos faltou ser campeões nacionais para repetir o feito da Cova da Piedade.
E agora estás no Leixões com uma equipa bem estruturada e vários reforços, estão reunidas as condições para levar a equipa de Matosinhos à primeira?
Penso que a equipa tem qualidade para isso mas primeiro temos que pensar jogo a jogo porque o campeonato é longo, a 2.ª liga é uma divisão onde a competição é enorme e a verdade é que as contas só se fazem no final.
Agora uma pergunta que as pessoas que te conhecem querem saber, já te treinaste no Football Manager?
Não, nunca. (risos) Eu joguei Football Manager mas foi quando era mais novo, já deixei de jogar FM há alguns anos.
Por isso nunca tive oportunidade de me treinar, nem a mim nem aos meus companheiros de equipa.
Mas sabes que és um jogador de eleição para aqueles que treinam equipas portuguesas dos escalões secundários.
Por acaso, já me tinham dito isso (risos) o que é óptimo, ver esse reconhecimento por parte das pessoas e de amigos, mesmo que seja através de um jogo. Mas o que eu digo sempre é que quero ser esse jogador, ou melhor até, na vida real e não apenas na vida “virtual”.
Voltando ao mundo real, tens um festejo muito especial, queres falar um pouco sobre ele?
Todos os anos, o 1.º golo do campeonato que marco dedico ao meu avô.
Ele também foi jogador e também jogou no Benfica, chegou a jogar ao lado do Eusébio. Infelizmente, faleceu antes de eu ir para o Benfica. Não me viu com a camisola do seu clube vestida. Então esta é uma forma que eu arranjei de homenageá-lo.
Tens algum ritual antes de entrar em campo?
Por acaso tenho (risos) Sempre que entro em campo, tiro um pedacinho de relva e peço a Deus para me dar força, a mim e aos meus companheiros de equipa, que nem eu nem eles se magoem e que no final ganhemos o jogo!
Objetivos a cumprir na tua carreira?
Tenho vários! Mas neste momento estou mais focado em evoluir e melhorar enquanto jogador.