Email para Bruno de Carvalho
Escrito por: Cláudio Moreira
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Subject: Vamos falar de coincidências
Exmo. Sr. Calime… Exmo. Sr. Presidente,
Começo por dizer que estou farto de me dirigir a si. O problema é que você não pára de falar do meu Fêqêpê; para piorar a situação, o caro amigo nunca fala de maneira abonatória. Resultado: tenho que me chatear consigo e desmascarar a sua argumentação delirante, não é? E enquanto assim for, o senhor impede-me de falar noutros assuntos.
Primeiro pronto. Ao contrário do que afirmou o seu correligionário, membro do Conselho Leonino, não o considero otário. É apenas pateta. Quer dar uma de ‘quero, posso e mando’ e ‘sou o maior aqui da rua’ quando, na verdade, tem pouquíssimos recursos (e argumentos) para se armar em valentão. Mas como estratégia para conquistar e unir os adeptos, voilà, é capaz de dar resultado. Contudo, há portistas, como eu, que não caem nessa fórmula de ‘rebanhização’.
Falemos, então, do que me trouxe até si: a questão das coincidências que você tanto fez questão de sublinhar numa das suas últimas intervenções numa sala de imprensa.
Bruno, o senhor diz que é coincidência o jogo do FC Porto ter começado mais tarde. Fica muito bem na fotografia acusar, os jornaleiros d’A Bola, Record e Correio da Manhã exultam com o discurso demagogo, os adeptos saem à rua a chamar o meu clube de corrupto e o Diabo a quatro, mas fazer prova do que diz é que, como diz o outro, não lhe assiste. É muito homem para atirar a pedra, mas depois esconde a mão atrás das costas quando é preciso consubstanciar.
Por muito que você deseje, a culpa nunca seria do FC Porto. Nem do Marítimo, que também poderia ter precipitado o atraso da partida. Que moral tem o clube visitado ou o visitante para dizer ao árbitro ‘espere lá um bocadinho, que isto está demorado’ ou ‘vá, dê o apito inicial, quero que comece agora’? Quem tem responsabilidade nesta matéria são os delegados da Liga. Repito: da Liga! Se o jogo começou a hora indevida, então que os delegados nos dois campos concertassem posições e atrasassem igualmente o jogo do Sporting. Se não fizeram isso, foi por mera incompetência. E, já agora, Bruno, recorde este episódio. Hum, o que terá acontecido? O Sporting foi punido? Pois, devem ser as tais coincidências…
Não satisfeito com esta inenarrável atoarda, você teve o desplante de falar na coincidência de o FC Porto ter direito a um penalty para lá dos 90’ e que só o foi porque o árbitro recorreu ao intensómetro, instrumento celebrizado pelo saudoso Pôncio Monteiro. Bruno, só alguém munido de uma má fé a todos os níveis – que é o seu caso – é que pode considerar que o agarrão do jogador do Marítimo não foi falta. Além disso, com certeza devido a falha de memória momentânea, esqueceu-se de que ficou outro penalty por marcar por derrube a Carlos Eduardo; e, ainda em matéria de grandes penalidades, também não se lembrou de referir as duas que o Marítimo devia ter direito na segunda jornada, pois não? Coincidências, claro… E você referiu-se ainda a um golo em fora-de-jogo marcado ao Penafiel. Essa é de rir, você não vê os jogos do seu clube? Tem conhecimento do Montero e dos golos que ele já marcou em posição irregular? Mas não convém dar muita importância a estas coincidências…
E o pior disto tudo é que nem você nem a maioria dos sportinguistas perceberam o mais elementar dos aspectos: o Sporting só dependia de si para passar, não estava amarrado ao resultado do FC Porto, embora naturalmente tivesse influência. Bruno, não custa nada admitir que o seu clube não foi avante porque não conseguiu ser melhor. O Sporting, na primeira jornada frente ao FC Porto, não foi demolidor? Não fez com que o Fabiano fosse o melhor em campo? Não encostou a minha equipa às cordas? Olhe, tivessem materializado isso em golos!
Portanto, amigo Bruno de Carvalho, você precisa mesmo de rever a matéria do tópico das coincidências. Por conseguinte, deixe-me partilhar as duas que me parecem mais propícias para ressalvar: o Sporting coincidentemente continua a perder e coincidentemente continua a culpar terceiros por essas mesmas derrotas. Há mais de uma década que é assim.
Para finalizar, deixo-lhe um conselho de inimigo: olhe para dentro, homem, foque-se na sua matéria-prima, concentre-se nos problemas internos e não invente desculpas externas como resposta ao insucesso. Quando Pinto da Costa pegou no clube, a situação era pior do que a actual do Sporting. Veja onde chegou. Vá, deixe lá de fazer figuras tristes e comece a falar apenas 5 dias por semana… já ninguém aguenta ouvi-lo dia sim, dia sim.
Cumprimentos meus e do seu amigo Piero.
Nota 1: Ainda se lembra, leitor, do escarcéu por o FC Porto ter, alegadamente, infringido o regulamento da Taça da Liga que, afinal, não dizia respeito à Taça da Liga no ano passado? E agora esta polémica por, alegadamente, ter forçado o atraso do jogo com o Marítimo? A imprensa tem sido célere a montar o espectáculo mediático e a condenar o meu FC Porto à mínima suspeita. O Benfica, que claramente infringiu a lei ao mudar o local do jogo para o Restelo, passa pelos pingos da chuva; o silêncio à volta do caso é ensurdecedor e só mostra, uma vez mais, que, para os jornaleiros deste rectângulo à beira-mar plantado, uns são filhos e outros entrados.
Nota 2: Bruno Paixão vai arbitrar o próximo Gil Vicente x Benfica. Será o seu 23.º jogo esta temporada – incluindo amigáveis na pré-época – e será a quinta vez que arbitra a equipa lisboeta. Fazendo umas continhas rápidas, em cada 5 partidas, Bruno Paixão arbitra uma do Benfica ou da equipa secundária. Andamos com escassez de juízes? Em contraponto, ainda não apitou nenhum jogo de Sporting e FC Porto. Ele há coisas…
Nota 3: Rezem, portistas, para que não nos levem metade do plantel nesta reabertura de mercado!
