Escrito por: Cláudio Moreira
Os dois clubes da Segunda Circular estão em alta nas últimas semanas: um está em eleições, o outro em demolições. Do meu ponto de vista, tem sido gratificante assistir aos últimos desenvolvimentos nas duas colectividades. Aliás, mais do que gratificante, tem sido reconfortante: adoeci recentemente e os bate-bocas entre Vieira e Rangel e o estado de sítio declarado em Alvalade são mais eficazes do que qualquer comprimido que tome.
O folclore evidenciado nos (pequenos) grandes de Lisboa corrobora aquilo que tem sido patenteado nos últimos anos: só o FCPorto possui uma estrutura devidamente organizada, discreta, que não empola os problemas, que não cria cisões entre os adeptos, que comete poucos erros e que, sobretudo, é capaz de gerar resultados positivos em larga escala.
O FCPorto tem uma linha orientadora muito bem definida: possui dois rostos carismáticos, que têm um plano gizado, que se alicerça em três pilares fundamentais – comprar barato como sempre, vender caro como nunca e ganhar como nunca para sempre. Falo da dupla Pinto da Costa e Antero Henrique, os principais obreiros que edificaram um clube outrora irrelevante numa máquina insaciável de vitórias. Outros intérpretes como Reinaldo Teles, Sardoeira Pinto, Pôncio Monteiro ou José Maria Pedroto também tiveram a sua quota-parte de responsabilidade, embora Pinto da Costa e Antero, duas pessoas que souberam ascender dentro do clube, sejam os dirigentes que sustentam este FCPorto que tantos galanteios recebe por esse mundo fora.
Para os lados de Carnide, tenta-se imitar a estratégia implementada a Norte. Com alguns laivos de sucesso, valha a verdade, muito embora a argamassa seja distinta, mas sem aquilo que leva as multidões à rua – títulos futebolísticos, pois. Já viram adeptos festejar de forma efusiva por os clubes alegadamente terem as contas em ordem? Já viram dezenas de milhares de pessoas nos centros históricos a festejar campeonatos de futsal ou basquetebol? Já viram os adeptos regozijarem-se pela construção de centros de estágios? Alguém com tino vai festejar uma transferência milionária? Pois bem, o que move os adeptos são títulos e não promessas vãs ou taças em forma de cimento e tijolo. E é esta a estrutura do Benfica.
Do outro lado da Segunda Circular, o reboliço é tal que começa a ser penoso falar o que quer que seja. O clube está tomado por uma linha fidalga e o trajecto descendente parece já não surpreender o mais optimista dos adeptos leoninos. Esta linhagem aristocrática leva já décadas e quando se pensa que o Sporting bateu no fundo, semana após semana os dirigentes leoninos provam que o abismo é incomensurável. Nos últimos anos, não se tem visto nada para além de uma dança de treinadores e dirigentes. Costinha, Pereira Cristóvão, Salema Garção, Luís Duque, Pedro Barbosa, Carlos Freitas… Depois Couceiro e Sá Pinto que após se aventurarem no dirigismo se tornam treinadores. É um entra-e-sai descontrolado e sem fim à vista. E espanta-me que a Juve Leo, tendo em conta a influência de que dispõe, ainda não tenha posto cobro a isto. Esta semana já foram lançados mais uns 3 nomes para a fogueira. E é esta a estrutura do Sporting.
Para aqueles que baseiam a argumentação dos últimos 30 anos de sucesso dos dragões em fruta e escutas e o Diabo a quatro, meditem nestes números: nos últimos 28 anos, o FCPorto tem tantos títulos europeus e mundiais como o Benfica campeonatos e nos últimos 46 tem tantos títulos europeus e mundiais como o Sporting campeonatos; mais: neste século, Benfica e Sporting juntos têm tantos campeonatos como o FCPorto troféus internacionais. Podia apresentar mais factos, mas penso que estes bastam para elucidar até as mentalidades mais tacanhas.
Para finalizar, gostaria de presentear os meus leitores com um vídeo muito recente, comprovativo da tradição democrática que o Benfica emana. Depois de forjar o número de sócio, pensava que não se podia ir além disso. Long live Vieira! Vídeo Eleições SLBenfica – Tentativa de votar
Nota 1: Sousa Cintra, ex-presidente do Sporting, disse, após a vitória sobre o Gul Vicente que "se daqui para a frente jogarem sempre assim, [o Sporting] é um candidato ao título. Jogarão de igual para igual com o Benfica, com o Porto e com os demais", alvitrando que este seria “o arranque para uma grande temporada do Sporting". Obrigado por estes momentos de humor, Sousa Cintra. Continua.
Nota 2: Diz Luís Filipe Vieira, o mais que provável vencedor das eleições, que "queremos vencer três campeonatos, estar na final da Champions e conseguir 50 títulos nas modalidades". Em 12 anos, Vieira conquistou 2 campeonatos e afirmou que o passivo actual se deve ao forte investimento que foi feito. Há umas semanas, alertou para a urgente necessidade de poupar custos e agora promete 3 dos próximos 4 campeonatos. Portanto, vai ganhar mais do que antes… investindo menos. Cair no engodo uma vez é normal. Quatro vezes roça a falta de lucidez.
Nota 3: Nas competições europeias, o FCPorto conseguiu 9 pontos em 9 possíveis; as restantes 5 equipas conseguiram perfazer 8 pontos em 45 possíveis. Ter uma estrutura forte também é isto: aguentar um treinador contestado, fazê-lo campeão e acreditar que numa segunda época seria capaz de fazer uma primeira volta europeia fenomenal, melhor do que os restantes 5 clubes juntos.
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