Escrito por: Cláudio Moreira
O mercado de Inverno trouxe, para já, dois ex-leões até ao reino do Dragão. Izmaylov e Liedson (ou Lyedson?) fizeram as malas e rumaram até a um clube que lhes dá a oportunidade de serem campeões no imediato. Serão contratações certas? Precisávamos mesmo, mesmo, mesmo do contributo deles? Estão já velhos e contrariam a política do comprar jovem e barato? Tudo isto tem como principal intuito rebaixar ainda mais o desempenho dos dirigentes leoninos? As perguntas somam-se, mas a minha resposta é uma frase que o meu instrutor de condução em tempos me ensinou aquando da aprendizagem do estacionamento: vamos indo e vamos vendo.
Pois é, mantenhamos uma postura de expectativa. Não vale a pena embandeirar em arco e afirmar que foram dois reforços fantásticos, nem apontar o dedo em tom de gozo para Godinho a sua trupe ou, muito menos, começar a salivar por eventualmente o Dragão se ter tornado num lar de idosos.
Era indubitável que a equipa do FC Porto tinha carências no seu plantel principal, fosse pela escassez em termos de opções, fosse pelo baixo rendimento das chamadas alternativas que saem do banco de suplentes para resolver os problemas dos titulares. Já muito se falou na nulidade Kléber, na gravidez crónica de Walter e na inexperiência de Atsu, Iturbe e Kelvin. É muito bonito ter jovens talentosos, mas quando são incapazes de render aquilo que ela precisa em alta competição, alguma coisa tem de mudar.
E, de facto, mudou. Face às necessidades mais prementes achou-se por bem contratar alguém que faz a linha ofensiva toda do meio campo, o Izmaylov, e alguém que, por um lado, possa sair do banco para fazer mossa e, por outro, que seja capaz de ser um bom complemento a Jackson quando as defesas contrárias se mostrem bem povoadas. Liedson acabou por ser o contemplado. Se dependesse de mim, traria ainda um jogador de ala, bom no um para um, capaz de desmontar uma defesa a qualquer momento. Depois disso, emprestava dois dos três jovens acima citados. Mas como não mando e não conheço a situação financeira, resta-me confiar nas pessoas que dirigem o clube.
Não faço ideia de como será o rendimento de ambos, mas parece-me claro que Vítor Pereira e a SAD procuraram jogadores com perfis idênticos: experiência, identificação com o campeonato português, com fome de títulos e que possam no imediato ser uma opção válida. Havia muitas reservas sobre a condição física do russo. Ele próprio manifestou que o seu estado não era o ideal. Mas, caramba, em meia hora frente ao Paços já fez mais que as exibições de Iturbe e Kelvin, que estão na flor da idade, em conjunto. Há que dar crédito ao homem. Não está bem, mas esforça-se para fazer bem. Devia servir de lição a estes jovens que têm o rei na barriga e aos empresários que os manietam a seu bel-prazer.
Posto isto, espero do fundo do coração que Liedson e Izmaylov possam seguir as pisadas de Varela e Moutinho e contribuir para os festejos do campeonato português que tanto almejam. Dispõem de todas as condições para isso. Izmaylov já deu um ar de sua graça. Faltas tu, Liedson. Vá lá, até já tenho banda sonora para vocês: gosto muito de vos ver, dragõezinhos…
Nota 1: No final da partida do Bonfim, José Mota disse: “Não está aqui em causa se é ou se não é [penalty]; sucede. Não há dúvidas absolutamente nenhumas. Lamento que isto aconteça sempre contra o Vitória de Setúbal". Alguém devia avisar este eterno indignado de que a sua equipa é a segunda que mais beneficiou de grandes penalidades até agora. A seguir ao Benfica, claro.
Nota 2: Também no final da partida se registou um coro de críticas em relação à prestação de Pedro Proença. Quer de adeptos e dirigente afectos aos sadinos, quer de militantes dos clubes da Segunda Circular. Proença não tomou uma má decisão que beneficiasse o FCPorto, mas importa manter a ideia de que só ganhamos à custa dos favores dos árbitros e de este em particular. Cumprir as regras, agora, também deve ser condenado. De futuro, vamos ouvir falar neste “roubo de igreja” e no facto do jogo ter sido adiado. Vai uma aposta em como se criou aqui mais um mito?
Nota 3: Ainda sobre este jogo, li três teorias após o seu término: Pedro Proença, apesar de confesso sócio e adepto benfiquista, protege o FC Porto; o Vitória de Setúbal faz fretes ao FC Porto desde há largos e, a minha preferida, os jogadores do FC Porto estão demasiado bem fisicamente, logo dopam-se. Estas teorias foram partilhadas por bastante gente, pelo que a insensatez e falta de noção do ridículo não está presente em apenas meia dúzia de alucinados.