Em entrevista ao jornal A Bola, Pedro Mil-Homens, diretor-geral da formação do Benfica explicou os motivos que levaram Rúben Amorim a não ter assinado pelo Benfica.
Em junho de 2019 Rúben Amorim esteve para ser contratado pelo Benfica para a equipa sub-23. Surgiram até informações de que teria dado um parecer negativo à contratação. Quer esclarecer essa situação?
“- Tenho o maior gosto em falar sobre esse assunto, por uma razão muito simples: muitas das coisas que se disseram não correspondem à verdade. Vou contar uma inconfidência. No jogo com o Sporting dos quartos de final da Youth League, em Alcochete, conversei com o Rúben Amorim e, em jeito de brincadeira, disse-lhe: ‘Ó Rúben, você nem imagina o que tenho sofrido por sua causa.’ E ele riu-se muito alegremente. É muito simples de explicar. O Rúben Amorim sabe que isto é verdade, como é um homem sério sabe que o que vou dizer é rigorosamente verdade. O Rúben, neste contexto que lhe expliquei há pouco, de plantéis que não estão trancados, equipas em que jogadores sobem e descem, disse-me: ‘Eu não sou capaz de trabalhar assim, não me vejo a trabalhar assim, nunca trabalhei assim, não quero ser o treinador de sub-23 que tem de dar jogadores.’ Respondi: ‘Mas Rúben, o projeto do futebol de formação é assim. Não funciona de outra maneira.’ Foi honestidade do Rúben Amorim, devo realçá-lo, ao dizer-me nesse contexto: ‘Posso estar a fazer um grande erro, mas acho que não vai funcionar bem comigo.’ Foi tão simples quanto isto. E, provavelmente, em abono da carreira do Rúben Amorim, estava certo. Não há nada errado em ter um treinador com um perfil mais adequado para trabalhar de uma determinada forma ou de outra. Depende do que o treinador quiser para a carreira em determinado momento. E o Rúben, provavelmente, estava muito mais talhado, como se veio a provar, para trabalhar no futebol sénior profissional, num ambiente controlado, mais fechado, e teve o êxito que todos lhe reconhecemos. O Rúben teve a honestidade de me dizer: ‘Nessas condições, acho que não vou ser capaz e prefiro não aceitar.’ São assuntos que devemos abordar de forma aberta e tranquila. Isto não é segredo de Estado. O Rúben comentou o número de jogadores que tínhamos utilizado na época anterior nos sub-23. E eu disse-lhe: ‘Mas, Rúben, é assim.’ Há outros treinadores que têm perfil mais adequado para trabalhar nestes contextos. Tão simples quanto isto. Não há qualquer drama.”
– E tem sofrido muito com isso?
“- As pessoas, muitas vezes, olham para a espuma dos assuntos, não olham para a substância. O Rúben não foi treinador do Benfica na altura apenas por esta razão: foi ele que não quis ficar nas condições que acima descrevi. Depois, criou-se uma ideia de que os treinos não são todos dados pelos treinadores. É uma idiotice completa. Quando temos um plano de formação para jovens dos 6 aos 19/20 anos tem de haver um programa. Não pode ficar apenas ao critério do treinador A ou B. Costumo dar este exemplo: não é normal uma escola de línguas ter um programa de como se ensina o francês, o inglês, o alemão, ao longo dos vários anos de escolaridade? No desporto não é diferente. Também há que ter programas de formação. Um programa escrito, bem definido, com objetivos, métodos, conteúdos e critérios de avaliação, nas áreas técnica, tática, psicológica, física e de formação pessoal e social. Este programa, que denominamos de Formar à Benfica, constitui, na nossa conceção, o trabalho fundamental que todos os treinadores devem cumprir, sendo que para além disso existe, naturalmente, o contributo individual que um determinado treinador leva para o programa, para o processo de treino, com base na sua individualidade e na sua experiência. Daqui a dizer-se que «70 por cento dos treinos era o Benfica e 30 por cento o treinador Rúben Amorim», ou outro qualquer, só pode ser uma coisa de má fé.”