1. No ano transacto, André Villas-Boas proferiu aquele que viria a ser um dos sound bites mais populares da época desportiva: o grito de revolta. Todos tivemos a oportunidade de escutar esta expressão vezes sem conta nas conferências de imprensa do ex-treinador do F.C.Porto. Aliás, os jogadores portistas intuíram a importância destas palavras e apenas desperdiçaram a conquista da Taça da Liga; melhor resposta face aos acontecimentos da temporada 2009/2010 era quase impossível. Desde 2004 que a massa adepta azul e branca não sentia uma volúpia desta magnitude.
Nos últimos dias, algumas franjas da sociedade encarregaram-se de prosseguir a marcha revoltosa com manifestações mais ou menos pacíficas. Ora estudantes do ensino superior, ora desempregados, ora meros indignados, é inegável que o signo da revolta lhes corria nas veias.
Não estamos perante um cenário de eminente guerra civil, mas avizinha-se mais um grito de revolta, novamente nas hostes do Dragão, embora as motivações não sejam as mesmas das da era Villas-Boas. É certo e sabido que a carreira do F.C.Porto neste primeiro terço da época tem sido tudo menos regular. Aos resultados titubeantes juntou-se um punhado de exibições paupérrimas que fazem duvidar o portista mais crente das capacidades de Vítor Pereira.
Todavia, após a decepcionante derrota às mãos da Briosa, a equipa mostrou sinais de inconformismo e respondeu às críticas alcançando duas vitórias essenciais – com alguma sorte à mistura e engenho q.b., valha a verdade – que podem catapultar o F.C.Porto para uma senda mais condizente com o estatuto que o clube ostenta. Por conseguinte, a próxima partida dos campeões nacionais, frente ao Zenit, reveste-se de uma importância crucial e, mais do que os três pontos, joga-se muito do que ainda resta da época: se perder ou empatar, a equipa sofre um rombo no casco, não segue em frente na Liga dos Campeões, perde dinheiro e, sobretudo, a motivação para encarar a temporada com a seriedade necessária, repetindo a façanha de 2004/2005; na eventualidade de ganhar, sacode a nuvem cinzenta que paira sob a cabeça dos jogadores e equipa técnica, vai avante na Liga Milionária, adquire um brinde monetário significativo e ganha novo fulgor para enfrentar as competições em que ainda está inserida.
É já na próxima terça-feira que podemos tirar conclusões. Das duas, uma: ou os comandados de Vítor Pereira presenteiam os adeptos com um grito de revolta contra os resultados e exibições inconstantes ou afundam-se de vez, dando sinais de que o melhor é começar a pensar no ano que vem. Tendo em conta a qualidade do plantel, o primeiro cenário parece-me o mais verosímil.
2. A temática da revolta atacou em força e Benfica e Sporting não foram excepção – estalou o verniz entre as duas direcções. Acho estranho. Depois de constatarmos a união dos dois clubes em torno da candidatura de Fernando Gomes à Federação Portuguesa de Futebol (F.P.F.), eis que um jogo de futebol, ou melhor, eis que as circunstâncias de um jogo de futebol fizeram ruir uma amizade que parecia inexcedível. A este respeito, deixo algumas perguntas que o leitor poderá reflectir e eventualmente responder: porque é que o Benfica estreou a rede de segurança – ou gaiola, ou jaula, como quiserem chamar – precisamente frente ao Sporting? Porque é que muitos adeptos leoninos entraram no Estádio da Luz perto do intervalo? Porque é que os adeptos do Sporting retaliaram as provocações e incendiaram dezenas de cadeiras? Porque é que elementos de ambas as direcções sacudiram a água do capote e trocaram acusações? Se havia um clima de estabilidade entre as duas agremiações, extensível aos adeptos, porque é que se desmoronou tudo num ápice? Mais: porque é que ambos os clubes da Segunda Circular são presença assídua no Ministério da Administração Interna? Não sei nem quero responder a qualquer uma das interrogações aventadas – até porque não diz respeito directamente ao meu clube –, mas dá-me a sensação de que o Pinto da Costa é responsável por isto tudo.
P. S. – Há dois temas que têm ensombrado a estrutura portista: a queixa apresentada pelo jornalista Valdemar Duarte, vítima de ofensas verbais e agressões físicas, e os salários em atraso nas modalidades. Independentemente da veracidade de ambas as situações, o clube já se deveria ter pronunciado e esclarecido o que realmente se passou.
P. S. 1 – Este artigo, assim como os seguintes, não respeitará as normas impostas pelo Acordo Ortográfico.