
2 de junho de 2000. Capucho deambula pela meia esquerda do ataque português, combina com Nuno Gomes, recebe de volta e tenta o chapéu ao guarda-redes galês. Golaço, 3-0 para Portugal e moral em alta para o Europeu dos Países Baixos, que terminaria nas meias-finais, aos pés da França.
Antes deste, mais dois jogos: 3-2 para Portugal em 1949, e dois anos depois, 2-1 para Gales. Não mais nos encontrámos com eles. Foi-se a geração de ouro, agora temos um extraterrestre e um selecionador à italiana; do outro lado, há uma equipa mais forte, e talvez o melhor dos terrestres que jogam à bola.
No primeiro jogo oficial entre as duas seleções, há que recuperar o espírito de Capucho e aplicar uma chapelada nas intenções galesas. É que há muitas bocas para calar, incluindo a de Carlos Paião:
“Há zero a zero, há cem a cem
Com zero a zero, vai tudo bem”
Está na hora de ganhar o jogo e acabar com esta história do empata-empata. São seis encontros consecutivos em que não se ganha nem se perde em Europeus – os cinco de 2016 juntaram-se ao nulo contra a Espanha em 2012. E Paião não desarma:
“A zero, a zero, a zero, vai o jogo recomeçar
Já se sente o desespero, precisamos de empatar”
Hoje tem de ser para ganhar, Carlos. O problema é que não costumamos ter pés para as meias: em sete participações em Europeus, são cinco meias-finais – só a Alemanha tem mais (6) – e são quatro derrotas. Quando chegámos à final, os gregos partiram-nos o coração e mantiveram-nos o recorde. Qual? 33 jogos em Europeus sem ganhar um troféu.
Tem de ser desta. Para já, há dragão galês no menu, o primeiro estreante em meias-finais de Campeonatos da Europa desde a Suécia em 1992, eliminada na altura pela Alemanha, que se encarrega de nunca ficar de fora, qualquer que seja a história. E a história dos galeses conta uns quartos-de-final no Mundial de 1958, onde o Brasil de Pelé colocou ponto final.
Mas agora há Ramsey e Bale, e a cantiga embala mais. Gales está a um jogo de se tornar na primeira seleção britânica a alcançar uma final de um Europeu, e até aqui não se tem portado nada mal. Os 10 golos marcados até aqui representam já a segunda melhor pontaria da história do Reino Unido em grandes competições – só a Inglaterra em 1966 (campeã do mundo) fez melhor. No EURO deste ano, só a França marcou mais (11), e quase metade foram na mala dos islandeses.
Individualmente, a coisa também não está mal. Bale é o jogador com mais remates à baliza neste torneio (14). Três deram golo, dois deles de livre direto. E aqui lembramo-nos de Ronaldo – a partir de hoje, o único a jogar três meias-finais em Europeus – que já bateu 41 livres em Europeus e Mundiais, e zero bolinhas lá dentro. Mas calma, que os números também consolam. O País de Gales é, dos quatro semi-finalistas, aquele que mais remates concede – 13,3 por jogo – num total de 67 até agora. Do outro lado há Portugal, aquele que mais vezes remata à baliza (32). E se um deixa rematar, e o outro remata com pontaria, a coisa há-de correr bem. Pelo meio, há o pormenor de Gales ser a equipa que menos precisa de rematar para meter a bola na baliza – 58 remates, menos 30 que qualquer um dos outros três candidatos. Mas não há-de ser nada.
“Zero, a zero, a zero, há-de o jogo terminar
Pra’ dizer sem exagero, ‘foi a zero, não há azar'”
Hoje, Carlos, é mesmo para ganhar.
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