Escrito por: Cláudio Moreira
1. Olhemos atentamente para os seguintes trechos sobre a recente polémica da utilização irregular de 3 jogadores do FC Porto na Taça da Liga:
“O presidente do FCPorto levantou recentemente a hipótese de dar o lugar a outro, depois de se ter tornado no dirigente mais titulado do Mundo, mas, subitamente, entrou um grão de areia na engrenagem e o que pode acontecer é ter mesmo de se ir embora, mas empurrado por associados e acionistas em fúria com a eliminação da equipa.” – António Varela, Record.
“Desta vez, parece não se ter tratado de mais uma esperteza para reverter em próprio benefício a ingenuidade dos adversários, nem mais um episódio de batota ou abuso de confiança. No meio da obsessão com os habituais tratamentos de favor ao Benfica, agora à cata dos cartões mostrados ou por mostrar nos jogos do rival e nos dos seus adversários seguintes, a tal máquina descuidou-se e trabalhou com uma falta de rigor que assusta.” – João Querido Manha, Record.
De facto, se nos cingirmos aos comentários destes dois acéfalos, só resta a Pinto da Costa um caminho: entregar as chaves do Estádio do Dragão a outrem e dedicar-se a outra actividade. Isto só aconteceria, claro, no mundinho deles, onde qualquer coisa serve para beliscar 30 anos de contínuos sucessos de Pinto da Costa. Foram décadas atrás de décadas a engolir em seco. E depois o trauma faz com que pérolas prosaicas como estas sejam publicadas por dá cá aquela palha.
Como é que alguém com dois dedos de testa considera que Pinto da Costa vai ser pressionado a abandonar a cadeira do poder devido a uma eventual saída, decidida na secretaria, do troféu mais irrelevante de sempre do futebol português? Pelos próprios associados e accionistas, imagine-se! Não é preciso fazer uma sondagem para saber que 100% das pessoas afectas ao FC Porto não vão colocar em causa a presidência. Só alguém bastante limitado a nível cognitivo teria o desplante de pedir a cabeça dos dirigentes do FC Porto por causa deste episódio.
João Querido Manha, por seu turno, põe em causa a máquina portista, a famigerada organização. Este néscio, ávido a libertar a sua frustração com insídia em relação ao FC Porto, também é incapaz de compreender que a organização do clube é muito mais do que o simples cumprimento de um regulamento mal redigido e com inúmeras contradições. Não, caro Manha. Para seu desprazer, a organização, indiscutivelmente a mais forte em solo nacional, vai muito para além disso. Esta tentativa de desvalorização não é mais do que isso… uma tentativa. Tudo serve para falar mal e menosprezar aquilo que tem sucesso. Pois bem, Querido Manha, o seu clube está mais uma vez bem posicionado para ganhar a prestigiada Taça da Liga. Vá para o Marquês festejá-la, que eu abro o champagne com campeonatos e troféus europeus.
Eu não gosto muito de dar trela a indivíduos pretensamente isentos mas que lá no fundo estão revestidos de um antiportismo básico. Contudo, estas declarações roçam o insano e não podem passar em claro. Pinto da Costa deve ser julgado pelos seus muitos anos à frente da estrutura. Fazer uma apreciação sumária do seu percurso por causa de um descuido (só possível devido à Liga, que não acautelou as 72 horas) na utilização de atletas só lembra a pessoas destituídas de bom senso e que gostam de cair na crítica fácil.
2. Falando do futebol dentro das quatro linhas, só tenho motivos para regozijo. Fui um dos privilegiados a marcar presença no D. Afonso Henriques e ver aquela lição de futebol protagonizada por Vítor Pereira. Provocações à parte, não me divertia tanto num jogo de futebol desde os carismáticos 5-0 ao Benfica. Foi o culminar daquilo que venho dizendo nas últimas semanas: a equipa sabe estar organizada, os automatismos estão lá, cada jogador sabe qual é a sua tarefa; o talento individual faz o resto. Neste caso, o resto foi o melhor jogo da temporada.
Daquilo que me recordo, e a estatística pode facilmente desmentir-me, o Vitória de Guimarães fez 4 remates à baliza de Helton: um saiu pela linha lateral, outro passou lá perto, depois houve um livre que quase acertou num dos passarocos que por lá esvoaçavam e o remate mais perigoso – se assim lhe podemos chamar – nasce de uma das habituais brincadeiras do nosso guarda-redes. Isto foi o espelho do jogo, uma manifesta incapacidade dos jogadores vitorianos se acercarem da área portista e criar lances de perigo. A pressão alta exercida pelos pupilos de Vítor Pereira resultou em pleno e estancou na perfeição qualquer fio de jogo da equipa de Rui Vitória, que vinha em claro crescendo de forma.
A matriz do FC Porto deste ano está aí à vista. Pressão alta ao portador da bola (Lucho está numa forma física impressionante se comparado com a primeira metade da época), um processo defensivo bem estruturado (nos últimos oito jogos da Liga só sofreu golos do Benfica) e saídas para o ataque bem delineadas, não obstante os impedimentos de ordem física, com um Jackson Martinez imponente e a deixar a concorrência para trás na luta dos melhores marcadores. Espero que esta entrega toda permaneça e que no fim se possam recolher ou louros. Agora sim, Vítor Pereira, podes clamar a plenos pulmões: Somos Porto!
Nota 1: A impunidade continua sempre para o lado do mesmo. Desta feita, foi o novo menino bonito da Luz – alguém compreende a sua chamada à selecção? –, André Gomes, que com duas entradas violentíssimas consegue não ver nem sequer um cartão amarelo. Talvez enciumado pelo desempenho do colega, Maxi Pereira tem mais uma entrada assassina e comete a proeza de ser admoestado apenas com a cartolina amarela. Quantas expulsões ficaram por sancionar nas últimas partidas?
Nota 2: Depois de mais uma derrota, o Sporting vai (à partida) mudar o rumo e avizinha-se novo acto eleitoral. É penoso olhar para o percurso de Godinho Lopes e comparar as promessas e declarações iniciais com o desfecho agora conhecido. Aposto as minhas fichas em como Bruno de Carvalho será o senhor que se segue. Veremos como se comporta, sabendo de antemão que é praticamente impossível fazer pior que os dois antecessores.