Escrito por: Cláudio Moreira
Foi, e continua a ser, um defeso muito agitado cá pelo burgo, porém normal. Temos o habitual corrupio de entradas e saídas de jogadores, declarações absurdas daqueles que têm demasiado tempo de antena, o Sporting a prosseguir o seu percurso descendente em Portugal, o Braga a consolidar a sua posição entre os melhores e o Benfica a fazer figuras tristes pela Europa fora, com a conivência da Federação Portuguesa de Futebol. Nada de surpreendente, portanto…
Tinha bastante substância para começar a dissertar sobre estas temáticas; contudo, o meu bom senso aconselha-me a trilhar, para já, um caminho mais pacífico. Escreverei sobre o meu Porto, que não aparenta saídas de última hora, tendo em conta os recentes desenvolvimentos em torno dos dossiês Hulk, Moutinho, James e Fernando, o quarteto mais cobiçado. Escrevo, pois, correndo o risco de este artigo se tornar obsoleto antes mesmo desta meia-noite, hora em que o mercado de transferências encerra na esmagadora maioria dos países europeus. Vejamos, sector a sector, aquilo que o bicampeão tem para dar.
Baliza:
Helton é sinónimo de elasticidade e experiência. Fabiano Freitas é sinónimo de grandeza e segurança; Kadú é sinónimo de juventude e progresso. Em termos de guarda-redes, estamos bem servidos. Helton é o titular indiscutível, Fabiano parece-me uma melhor segunda opção do que Bracalli e tem ainda margem de progressão considerável e Kadú, jovem angolano, mostrou aqui e ali, na pré-temporada, que tem potencial para alcançar altos voos.
Defesa:
Neste caso, não me preocupa quem possa sair nem quem possa vir, como seria de esperar, antes quem fica. Após a saída (desejada por todas as partes) de Álvaro Pereira, rezo para que alguém se lembre de Rolando até à meia-noite de hoje. É um jogador que já deu o que tinha a dar, já manifestou o desejo de sair e para contrariados já bastaram aqueles da época passada. Acresce ainda o facto de Maicon e Otamendi formarem uma dupla bastante sólida, apesar de eu não a achar a ideal. Nas alas, temos o futuro do Brasil, Danilo e Alex Sandro, dois craques que me enchem as medidas, brilhantes a sair de trás para e frente e que podem ocupar posições mais adiantadas no terreno; será o ano de afirmação deste duo. Depois, resta Mangala, um central que pode ser adaptado ao meio-campo e às laterais, que pode vir a ser um grande jogador quando aprender a controlar os índices de agressividade.
Meio-campo:
É o sector que me coloca mais reservas. A qualidade está lá, pelo menos nos titulares, mas a quantidade parece-me escassa. Moutinho, Fernando e Lucho perfazem um trio maravilhoso, mas os restantes concorrentes não me enchem as medidas. Defour parece-me um batalhador, cumpria quando jogava, embora raramente mostrasse qualidades para ser titular efectivo. Castro é um guerreiro, mas às vezes dá sensação de que não joga futebol; parece que está a participar numa prova de 110m com barreiras, tal a forma como se movimenta em campo. Apesar da raça, é um comportamento a rever. Sem Guarin e Belluschi – que com a cabeça no sítio cabiam perfeitamente no plantel – ficamos reduzidos a James Rodriguez, que já mostrou ser melhor jogador no corredor central do que numa ala. Se quisermos colmatar estas carências com a equipa B, temos à disposição Edu, Pedro Moreira ou Sérgio Oliveira. Moral da história: se até hoje não atacarmos no mercado, parece-me óbvio que em Janeiro iremos contratar alguém, mais que não seja para rodar o plantel, tendo em conta as debilidades físicas que Lucho Gonzalez vai começar a sentir.
Ataque:
Neste sector, tivemos a melhor contratação de todas: a continuidade do melhor jogador da Liga nos últimos quatro anos, vulgarmente conhecido como Hulk. Ele vale por dois, faz o que mais ninguém faz, é explosivo, remata bem, dribla de forma desconcertante. É uma mais-valia neste plantel e penso que não se corre o risco de ficar contrariado. Hulk está a cimentar a sua posição na selecção e se quiser manter o estatuto só tem que apresentar um rendimento alto onde quer que esteja. De resto, contratamos um jogador para a posição de ponta-de-lança, que, à primeira vista, parece melhor do que Kléber e Janko juntos. Na B, temos Dellatorre e Vion, duas boas opções para jogos da Taça da Liga ou para entrar a 10 minutos do fim para fazer descansar o novo artilheiro Jackson Martinez. Nas alas, temos muita juventude para explorar. Atsu partiu à frente – é o mais velho e o mais experimentado –, Kelvin e Iturbe partem mais atrás à espera de uma oportunidade. Depois há Varela, de quem não espero absolutamente nada, é uma incógnita, e estou curioso para ver se será o Varela veloz, raçudo e letal da era Villas-Boas ou o Varela lento previsível e acomodado do ano passado.
Em suma, o Porto de Vítor Pereira privilegiou a continuidade. Sabemos bem que a época transacta foi pródiga em altos e baixos e os três primeiros jogos oficiais vieram comprovar isso mesmo. Um jogo assim-assim que deu azo ao primeiro título da época, um jogo mau em Barcelos – não obstante as duas grandes penalidades que ficaram por assinalar – e uma partida agradável para a vista frente ao Vitória de Guimarães, no Dragão. Prevejo que daqui para a frente permaneça este cariz titubeante. Oxalá esteja enganado e o Porto de Vítor Pereira arranque para uma época em grande, recheada de exibições convincentes e de títulos para o museu azul-e-branco e inúmeras vitórias morais para os da Segunda Circular.
Nota: Para a semana teremos novidades no que toca ao parceiro que me acompanhará no Domínio de Bola.