As virgens ofendidas e os desesperados

 

Escrito por: João Pereira

O Benfica passou com enorme mérito mais um sério teste à sua liderança no campeonato. O Braga afigurava-se um adversário difícil pois já tinha vencido a nossa equipa duas vezes esta época. A resposta não poderia ter sido melhor: uma primeira parte sufocante, sempre em cima do adversário, coroada com uma exibição de grande qualidade. Ao intervalo, a vantagem mínima era escassa para o que se tinha passado em campo e na segunda parte, apesar de uma réplica inicial do Braga, a equipa soube sempre gerir o jogo, continuou por cima e venceu com justiça.  

A onda vermelha continua a catapultar a equipa. A moldura humana de sábado foi impressionante e agora rumará a norte, para mais uma jogo de elevado grau de dificuldade, em Vila do Conde, frente ao Rio Ave. Esta simbiose entre adeptos e equipa está cada vez mais forte e esse factor será importantíssimo até ao final da época. Juntos pelo objectivo.

Noutro âmbito surpreendeu-me (ou talvez não) a histeria que as declarações de Rui Gomes da Silva (RGS) causaram na comunicação social desportiva. Numa coisa concordo, o vice-presidente benfiquista não deveria ter utilizado a expressão de que o Braga “facilita” contra o FC Porto. Mas, no restante, RGS disse alguma coisa de extraordinário ou que nunca tenhamos ouvido? Algo que nunca tivessemos comentado nos cafés com amigos ou até em programas de televisão? Ou algo que não possamos facilmente constatar pelo mundo fora? Todos sabemos que uma equipa, em teoria, deveria encarar todos os jogos da mesma forma, mas na prática, é isso que acontece? Quantas e quantas vezes já ouvimos adeptos, treinadores e até jogadores dizerem que a sua equipa entrou mais relaxada contra outra? Sendo assim estariam também a atentar contra o profissionalismo dessa equipa. Em qualquer local do mundo há rivalidades, não apenas aqui. É normal que em jogos de rivalidade elevada as equipas entrem mais concentradas, focadas e com mais ímpeto. Existem inúmeros exemplos: Espanhol-Barça, Atl. Bilbao-Real, Real-Barça, Marselha-PSG, os dérbis londrinos, os dérbis de Istambul e por aí adiante. Estaremos a ferir o profissionalismo dessas equipas quando dizemos que o Atl. Bilbao, o Real ou o Galatasaray entram com menos ímpeto ou mais relaxadas (menos ímpeto não significa que seja sem ímpeto) contra outras equipas que não os seu rivais? Para as virgens ofendidas parece que sim. Não acho que RGS tenha atacado o profissionalismo da equipa do Braga, apesar da expressão exagerada que acima referi, apenas acho que constatou um facto normalíssimo, pelas razões enumeradas. A mim não me surpreende que o Braga entre em campo mais focado contra o Benfica porque de há uns anos para cá a rivalidade com o nosso clube se acentuou, o que é normal devido ao facto do Benfica ser o maior clube português e com a maior massa adepta do país. Contra o Benfica todos querem jogar bem, todos se querem mostrar e foi isso que RGS quis realçar, se bem que extravazando um pouco para a provocação, que foi entendida como uma acusação de falta de profissionalismo.

Por último, ao passar os olhos pelo jornal O Jogo de hoje, constatei que, de facto, as tentativas pressão e condicionamento ao Benfica serão cada vez maiores. Ora na capa temos a notícia de que Samaris leva muitos amarelos, precisamente na semana em que Samaris fez um jogo soberbo frente ao Braga. Depois, outra notícia, que nos diz que o Benfica foi usado como exemplo por Collina, na UEFA, no que toca ao uso de bloqueios ilegais. Jorge Coroado, dentro do jornal, refere que também já viu Porto e Braga a usarem. No entanto, o que mais me surpreendeu foram as crónicas de dois senhores. Na primeira, o senhor José Maia, resumidamente, tenta justificar com os bloqueios o desempenho do Benfica dentro de portas, contrapondo com a época fraca na Europa(alusão a que na Europa supostamente já estarão precavidos para as supostas faltas por bloqueio), com certeza esquecendo-se de duas finais europeias sucessivas. Quando pensei que mais ridículo era impossível dou de caras com a crónica do senhor José Manuel Ribeiro que apelida o Benfica de malandro, no sentido de ter “manha”, porque, segundo ele, quando o Benfica está a perder o meio-campo compensa essa perda com as faltas sucessivas de Samaris e quando vê que o resultado está 0-0, diz este senhor, o Benfica procura a falta (dizendo que o Benfica tem cinco trintões experientes mais o Gaitán e o Salvio para ganhar essas faltas. Se calhar o Júlio César também vai lá à frente ganhar faltas, só lhe faltava dizer isso) para tentar resolver em lances de bola parada, com bloqueios. Compreendo que o bom do senhor José esteja preocupado, mas, francamente, justificar as vitórias do Benfica com estes dois supostos “sistemas” é de rir. Ainda bem que não temos nenhum guarda Abel, nem colocamos amoníaco no balneário, nem temos jogadores brutos e que tentam a intimidação constante como Paulinho Santos, senão o que diriam do Benfica.

P.S: É oficial, sim, confirma-se, em qualquer orgão de comunicação social é do Benfica que mais se fala, por razões de volume de vendas ou por questões de tentativa de condicionamento, é o nosso clube que está sempre na boca de todos, mesmo na dos simpatizantes de adversários.