As palavras do Presidente
3 min readEscrito por: Duarte Pernes
Segunda-feira, Pinto da Costa deu uma entrevista ao Porto Canal – a primeira do ano. No essencial, o presidente do FC Porto fez-me retirar duas ilações. A primeira, e para mim mais importante, é a de que se encontra em grande forma. Se dúvidas houvesse, o líder portista demonstrou estar ainda pujante, arguto como sempre e com uma acutilância assinalável nas respostas às questões que lhe foram sendo colocadas. Para ser honesto, não esperava nada de substancial das suas declarações, apenas o politicamente correcto e o reforço da confiança na estrutura (de dirigentes, a jogadores, passando pelo treinador), na linha daquilo que havia já sucedido nas suas últimas entrevistas. Ora, não foi apenas isto que aconteceu, o que me fez chegar à segunda ilação: Pinto da Costa – para além do discurso externo virado para a “caverna mediática” lisboeta, para a arbitragem e para os rivais da segunda circular -, sentiu necessidade de falar para dentro do universo portista, de acalmar uma parte dele e de pôr “na ordem” a outra. Já lá vamos.
De facto, como referi, o líder máximo dos campeões nacionais aproveitou para mandar recados para o interior da esfera portista, em especial para aqueles que, nos últimos tempos, têm aproveitado para gerar uma espécie de clima pré-eleitoralista. António Oliveira foi o caso mais evidente. Quem ouviu a entrevista, entenderá facilmente que aquele comentário aos comentadores afectos ao FC Porto, mais não foi do que um pretexto para chegar subrepticiamente ao alvo predefinido. Percebe-se então, ou pelo menos pode-se especular, que, para Pinto da Costa, o nome de Oliveira não colhe numa possível sucessão e o mesmo se poderá talvez dizer de Fernando Gomes (presidente da FPF), também ele visado de forma crítica, embora por motivos extra-Porto. Nada que, naturalmente, impeça ambos de se candidatarem e de serem eleitos, mas que lhes estorva o espaço de acção, por agora.
Além disto, nesta lógica de narrativa interna, saliente-se também o reforço enorme do apoio dado a Paulo Fonseca, que me parece ser um sinal claro dado para os adeptos portistas, muito mais do que para os inimigos viscerais dos dragões. Poder-me-ão dizer que, nesta altura, com a época a meio, outra coisa não seria de esperar e que o modus operandi com Vítor Pereira, por exemplo, foi idêntico. Talvez, mas desta feita Pinto da Costa foi de uma veemência que não lhe via há algum tempo. Não só garantiu a continuidade do técnico como falou em renovação, mesmo que neste capítulo tivesse usado uma situação hipotética. Será, portanto, preciso uma calamidade para o treinador sair a meio da presente temporada. Já sabia que Paulo Fonseca tinha caído no goto do Presidente desde início. A sensação com que fico é que, mais de seis meses volvidos, essa simpatia não se alterou.
Assim, a maior parte do discurso do eterno presidente teve alvos externos, mas sobretudo internos, o que tornou a entrevista rica e muitíssimo interessante, independentemente de se poder discordar ou concordar das ideias apresentadas. Pela minha parte, sinteticamente, corroboro as fortes críticas à arbitragem, entendo no geral a sua posição sobre Paulo Fonseca e apenas não subscrevo as desculpas utilizadas para justificar o insucesso na Champions.
Certo é que Pinto da Costa voltou à cena mediática. O portismo saúda o regresso, os inimigos não contêm a raiva. Tudo normal, e ainda bem.