Escrito por: Daniel Matos (convidado)
O DomíniodeBola convidou Daniel Matos,Chief Scout da Team of Future, empresa do agente Bruno Carvalho, representam jogadores como Luis Neto (Zenit), Salvador Agra (Braga), Pedro Tiba (Vitória Setúbal), entre outros
Nem espada, nem parede…
Em resposta ao desafio lançado pelo meu amigo Tiago Guedes do Domínio de Bola, este é o meu balanço atual da participação da Seleção Nacional no Campeonato do Mundo no Brasil, antes do jogo decisivo com o Gana.
Independentemente das opções na convocatória do Selecionador Nacional, uma vez que tem todo o direito de escolher quem terá de operacionalizar as suas ideias, constatamos que a equipa viajou para o Brasil extremamente desgastada do ponto de vista físico, devido a uma grande sobrecarga competitiva dos jogadores ao longo da época, e bastante condicionada mentalmente, devido às exigências dos próprios adeptos e imprensa, quase exigindo a conquista do título mundial.
Aliado ao desgaste colectivo, Cristiano Ronaldo terminou a época claramente condicionado pelas lesões, depois de mais uma temporada soberba, limitando as nossas aspirações, quer o Mundial tivesse sido disputado no Brasil ou na Sibéria.
O clima tropical do Brasil, mais propício para férias do que propriamente para a prática desportiva de alto rendimento, também poderá ter sido um dos fatores condicionantes do desempenho, mas não justifica erros estratégicos, tácticos e emocionais na abordagem dos primeiros dois jogos.
O primeiro jogo com a Alemanha refletiu que o nosso modelo de jogo de posse com uma solicitação permanente das ações desequilibrantes de Cristiano Ronaldo, não foi a melhor estratégia para defrontar uma equipa coletivamente sólida, extremamente inteligente na gestão dos momentos do jogo e brutalmente intensa nas transições.
O segundo jogo com os Estados Unidos revelou que continuamos sem uma estratégia alternativa quando Cristiano Ronaldo está limitado fisicamente e é bloqueado taticamente, conduzindo-nos a um tipo de jogo onde não temos referências ofensivas capazes de desorganizar o processo defensivo adversário. Defensivamente continuamos a revelar dificuldades em pressionar de forma intensa em zonas adiantadas, agravado pelo facto de ocasionalmente concedermos espaços em profundidade para movimentos de rutura.
Utilizando a metáfora do nosso Selecionador Nacional, o nosso nível de jogo não nos permite ir para cima da espada, nem ficarmos encostados à parede.
Na minha modesta opinião, com este grupo de jogadores, não temos soluções consistentes para aplicar os princípios de jogo que se pretendem no modelo construído por Paulo Bento, conduzindo-nos sistematicamente às mesmas soluções estratégicas e tácticas, perfeitamente identificadas pelos nossos adversários.
Muito mais do que a polémica não convocação de jogadores carismáticos que foram excluídos das opções, como o caso de Quaresma, poderia ter sido mais rentabilizada a utilização de jogadores que já assimilaram a cultura de Seleção, até pela perspectiva da própria valorização da carreira no decorrer do período de transferências: Luis Neto, William Carvalho, Rafa e Éder.
Para além do lote de convocados, existem novos valores a emergir, com competências para integrar este grupo, colocando mais dinâmica e intensidade em campo, e consequentemente permitindo promover alternativas estratégicas e táticas distintas na abordagem dos diferentes adversários: Anthony Lopes realizou uma temporada muito interessante como titular da baliza do Lyon; Paulo Oliveira é a face mais visível da escola de formação de excelência em Guimarães, Yohan Tavares esteve intransponível na defesa do Estoril, Cedric tem vindo a ganhar consistência em Alvalade, Antunes foi titular indiscutível numa equipa média da Liga Espanhola, Danilo Pereira foi mais uma pérola descoberta na Ilha da Madeira, Adrien comanda com grande maturidade a linha média do Sporting, Pedro Tiba em Setúbal revelou que não há que ter medo em apostar em valores provenientes das divisões secundárias, Candeias foi uma das principais armas no assalto do Nacional à Europa, Salvador Agra reabilitou-se em Coimbra nas mãos de Sérgio Conceição, Nélson Oliveira confirmou credencias na exigente Liga Francesa.
Para o jogo com o Gana, defrontando jogadores africanos refinados nas melhores ligas europeias, julgo que vamos ter grandes dificuldades estratégicas e táticas, principalmente ao nível das transições.
Mesmo que aconteça o milagre de passagem aos oitavos de final, corremos o risco de ser esmagados pelo próximo adversário.
Em jeito de conclusão, talvez este seja o sinal que algo tem que mudar…
Bom jogo!
Daniel Matos
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