Fabiano, Danilo, Alex Sandro, Casemiro, Oliver Torres, Quaresma e Jackson Martinez. Do 11 habitualmente titular em 2014/2015, sete desses elementos não constam do novo plantel às ordens de Julen Lopetegui. Mais do que lamentar os nomes que partem – em boa verdade, não terei saudades de alguns –, são as rotinas que se perdem entre os que ficam e os que agora chegam o ponto que merece mais atenção.
O FC Porto é um clube vendedor, toda a gente o sabe. É, aliás, o melhor vendedor em todo o mundo desde a temporada em que surpreendeu a Europa e arrecadou a Liga dos Campeões em 2004. Até aos dias de hoje, a bitola era vender entre 1 e 3 jogadores com presença regular nos titulares. Chegados a 2015, o modelo foi completamente subvertido e mais de metade do núcleo duro disse adeus. É verdade que haverá mais de 100 milhões de euros a cair nos cofres, mas, como nos diz o lugar-comum, o dinheiro não é tudo na vida.
E é isto, no fundo, o que me deixa com algumas reservas para esta temporada. Se pusermos de lado a quota-parte de responsabilidade do famigerado colinho (este ano já atacou e mais cedo do que se poderia prever…), o FC Porto na época passada foi incapaz de produzir uma série de exibições convincentes assente no modelo de posse privilegiado por Lopetegui devido aos múltiplos altos e baixos; não houve uma constante, uma sequência em que se pudesse constatar que as rotinas estavam completamente interiorizadas pela maioria dos jogadores. Isto porque, segundo se clamou, houve uma mini-revolução no plantel, com muitas entradas e saídas. Então se essa foi a causa principal para um percurso titubeante, é difícil de explicar que se permita que sete titulares abandonem o clube; e nem todos saíram por transferências milionárias.
No entanto, no meio da ainda incerta resposta dos reforços que chegaram e dos que ainda estão para chegar (estou muito agradado com os primeiros sinais de Maxi, Danilo Pereira e Imbula), os rivais da Segunda Circular vão proporcionando um degradante espectáculo. Tudo começou na mudança de Jesus da Luz para Alvalade e em pouco mais de dois meses escalou para promessas de guerra. E depois Pinto da Costa é que é o incendiário e a razão de todos os males que assolam o futebol nacional…
Posto isto, parece-me evidente que o FC Porto pode e deve retirar dividendos deste clima de guerrilha entre os clubes de Lisboa. Em certa parte, tem-no feito. O treinador e estrutura estão no seu canto a trabalhar de forma sossegada, a imprensa está entretida com a sucessiva troca de galhardetes entre Bruno de Carvalho e João Gabriel e os jogadores estão a passar ao lado dos holofotes. E é mesmo isto que se deve acautelar: deixar os nossos activos fora da polémica, entrosá-los o mais rapidamente numa dinâmica de grupo e deixar os folclores para a capital. Tendo em conta as dificuldades que se avizinham, é uma ajuda que não se pode desdenhar.
É da lamentar apenas a laracha do boletim informativo Dragões Diário sobre a autoria do epíteto Mr. Burns. Há tantos tópicos sensíveis para explorar e foram logo tocar naquele em que o nosso silêncio devia imperar. O espectáculo é deles, sejamos meros espectadores.
De resto, votos de felicidades para Julen Lopetegui e companhia neste início de época. Este ano já não haverá tantas atenuantes.