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Escrito por: Cláudio Moreira

 

O Sporting está na crista da onda. Depois de uma temporada tenebrosa, quiçá a pior da sua história, o clube de Alvalade parece estar a imitar o Costa Corcordia, na medida em que tenta reerguer-se depois de um tombo descomunal provocado pela inabilidade do timoneiro. À boleia deste início promissor, o presidente Bruno de Carvalho concedeu uma extensa entrevista à Sport Tv, em que, entre muitos pontos de interesse, soltou uma frase que gerou uma certa celeuma:

«Espero e quero que o Sporting seja recebido no ambiente mais hostil possível, pois é quando respondemos melhor e nos sentimos com mais força para podermos dar a melhor resposta dentro do campo».

Em primeiro lugar, o que Carvalho diz é falacioso; no ano transacto, nunca o Sporting foi tão hostilizado – e foi-o pelos próprios adeptos – e sabemos bem que o sétimo lugar alcançado não espelha, nem de longe nem de perto, uma boa resposta e muito menos gerou força extra para lidar com as adversidades. Por outro lado, onde andam os arautos da decência, que semanalmente cantam hinos ao respeito institucional e aos bons costumes e reprovam o direito à provocação e maledicência?

Pois é, caro leitor, ai se fosse o Pinto da Costa a dizer que iria hostilizar o ambiente em torno da equipa do Sporting… As interpretações que se fariam, as capas de jornais que se fabricariam, as crónicas que se escreveriam em toda a parte! Tudo, qual grupo de hienas a cercar um cadáver, a condenar o extremismo reaccionário do presidente portista! Mas não, Bruno de Carvalho é jovem, tem a voz embargada, é um rebelde, tem uma barba muito bem tratada, pôs cobro à dinastia dos viscondes, enfim, tudo lhe é perdoado à luz de qualquer argumento idiota. Pior: há um silêncio ensurdecedor a escamotear esta e outras matérias.

Exercitemos ainda mais a nossa imaginação: como seriam as reacções à hipotética frase de Pinto da Costa se nas duas jornadas anteriores o F.C. Porto tivesse marcado os dois primeiros golos em fora-de-jogo e ficasse por assinalar um penalti a favor de um rival directo? E, acrescentando a isso, se os Super Dragões tivessem vandalizado uma carrinha do staff do clube rival e agredido os elementos que lá estavam? E, acrescentando a isso, se dois jogadores viessem para a praça pública reclamar por 8 meses de salários em atraso? E, acrescentando a isso, se o F.C. Porto aparentemente violasse regulamentos da Liga e equipa principal e B jogassem no mesmo dia? E, acrescentando a isso, se pairasse uma nuvem negra sobre Antero Henrique e um juíz de linha, num caso tão mal explicado?

Respondendo a todas estas questões, era o burburinho de sempre. Serpas, Manhas, Delgados e Pinhões com a cassete do costume. Veríamos um Ministério Público diligente. Teríamos processos abertos, arquivados e reabertos porque sim. Clubes unir-se-iam para afastar o Porto das competições europeias – na verdade, aqui o Sporting não teria nada a temer. Seriamos presenteados com cinema e literatura de qualidade. O Youtube ganharia vida com escutas. Os jornais de lisboa exaltariam com a falta de rectidão tão propalada para os lados do Norte. Um autêntico regabofe. Como o clube não se Futebol Clube do Porto e o presidente não é Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa, não vale a pena perder muito tempo com isso.

Para que não restem dúvidas, estou-me nas tintas, tal como o meu presidente, para o que diz Bruno de Carvalho. Aliás, até gosto deste tipo de provocações e, no que depender de mim, ele e a sua equipa serão hostilizados do primeiro ao último minuto, antes e depois da partida, dentro dos limites do respeito e da conduta civilizada, como é óbvio. Não pretendo ser mal interpretado: o problema reside no facto das entidades supracitadas enviesarem os seus critérios quando se alude a Pinto da Costa. Há, claramente, um peso e uma medida para o meu presidente e outros para os restantes actores do panorama futebolístico português.

Por outras palavras, o que me apoquenta não é o que Bruno de Carvalho diz, antes as leituras que os desonestos habituais da nossa praça (não) fazem em situações idênticas. E, no fundo, no fundo, ainda bem que assim é; desta forma, teremos sempre combustível para alimentar as nossas vitórias com um travo cada vez mais especial. No dia em que nos começarem a tratar de outra forma, se formos no canto das sereias, ainda nos deslumbramos e nos desviamos do nosso destino: vencer!


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