Escrito por: Duarte Pernes
Está longe de ser uma novidade, mesmo para o adepto mais distante e desapaixonado, que o Benfica detém um poder inigualável em torno da imprensa e da opinião pública deste país. Mesmo noutros sectores da nossa sociedade, é difícil encontrar uma instituição que, por si só, consiga pôr em verdadeiros exercícios de contradição personalidades que, nalguns casos, ocupam, ou ocuparam, lugares de destaque no panorama mediático nacional.
À primeira perda significativa de pontos para os lados da Luz começa a campanha de descredibilização do futebol português, dos árbitros e de tudo aquilo que mexa e não equipe de vermelho. A receita é sempre a mesma. Já em 2010/2011, a teoria da conspiração era a de que as supostas más arbitragens que, também supostamente, arredaram o Benfica da luta pelo título, ocorreram no início da Liga para que, desde cedo, o FC Porto pudesse ganhar uma vantagem que lhe permitisse gerir a liderança até final. Este ano, o discurso parece ser idêntico, mas na temporada transata, o campeonato só perdeu a sua credibilidade e transparência a partir da 19ª jornada (vá lá, ao menos aí tivemos direito a 18 jogos disputados dentro da maior correcção e seriedade), altura em que o conjunto de Jesus sofreu, na Cidade Berço, aquela que seria a sua primeira derrota na prova. Até lá, tudo dentro da normalidade: golo em fora de jogo de Nolito contra o Gil Vicente; três penaltys em casa frente ao Guimarães; penalty por marcar a favor do Sporting na Luz; três pontos negados por Bruno Paixão, em Barcelos, ao FC Porto e etc. Nada que tenha servido para escandalizar os habituais defensores da “verdade desportiva”, que então diziam não falar sobre arbitragens. Tal como não quiseram perder tempo a comentar a actuação de Duarte Gomes no Gil Vicente-Porto desta época, em que os azuis e brancos viram duas grandes penalidades a seu favor não serem marcadas, com a perda de dois pontos daí resultante.
Por tudo isto, a reacção manifestada esta semana pelos responsáveis encarnados e pela caverna mediática de Lisboa ao empate do Benfica em Coimbra, não foge ao padrão do que acontece sempre nestas ocasiões. É, de resto, muito mais do que apenas um simples sintoma de histeria e nervosismo, decorrente do acto eleitoral que se avizinha e no qual, diga-se de passagem, não se perspectivam grandes dificuldades para Luís Filipe Vieira. As declarações a quente de Jorge Jesus e de alguns jogadores logo após o jogo, as primeiras páginas incendiárias da Bola e do Record e o pedido de demissão do inefável Rui Gomes da Silva a Vítor Pereira (o tal que, há menos de um ano, era bem visto pela direcção de Vieira) são puras demonstrações de desespero. É a materialização do desalento e do desnorte de quem sabe que há muito perdeu o lugar no topo da hierarquia do futebol em Portugal.
Certo é que, a partir de agora, qualquer jogo será analisado à lupa e cada lance merecerá o escrutínio da maioria dos comentadores e dirigentes da nossa praça. Isto, claro está, se o Benfica não ganhar, por que quando sair vencedor, não tenhamos a menor dúvida de que a paz reinará de novo, a bem dos superiores interesses da Instituição e dos seus apaniguados. O plantel é desequilibrado, até pode não haver um lateral-esquerdo de raiz que seja satisfatório, mas a máquina de propaganda já provou estar, uma vez mais, muitíssimo bem oleada. Mérito de João Gabriel que merece, esse sim, todos os elogios.
Nota 1: O Correio da Manhã garante que o FC Porto terá vetado os nomes de Duarte Gomes e Bruno Paixão para os próximos jogos dos campeões nacionais. A ser verdade, também não é nada que o Benfica não tenha feito com Olegário Benquerença, Pedro Proença e agora com Carlos Xistra. Tendo em conta o jornal em questão, o conteúdo e o timing em que a notícia é publicada, não tenho razões para acreditar numa só linha que foi escrita.
Nota 2: E por falar em Porto, os dragões somaram mais uma vitória justa e expressiva, desta feita frente ao Beira-Mar, para a Liga. Bom jogo, bons golos e um futebol que dá mostras de melhorar significativamente em relação ao que era praticado, em igual período, no ano passado.
Nota 3: Ainda a propósito do encontro frente aos aveirenses, Iturbe teve a oportunidade de jogar uns largos minutos na segunda parte. Não fez nada de impressionante, mas deixou boas indicações e justificou ser uma aposta para o imediato. Espero, portanto, não ter de aguardar mais dois ou três meses para o ver de novo em acção.
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